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sexta-feira, 24 de maio de 2013

Ensaio à volta de uma parábola de Tagore




Não possuo o original, mas conheço a ideia-força do lindíssimo conto escrito em jeito de parábola por esse grande escritor e poeta espiritualista mundialmente conhecido por Tagore (1) “A Lamparina de Barro”, que em linha gerais conta o seguinte e que eu resumo por palavras minhas.
Naquele dia o grande Sol, ia – como acontece todos os dias -  a esconder-se no horizonte, mas naquele dia – o Poeta com aquela liberdade literária de que pode lançar mão põe o Sol  a pensar e a falar e o Sol pensou que a sua luz iria fazer falta aos homens e falou, perguntando:
- Não haverá ninguém que me possa substituir?
E, logo, solícita, a voz de uma “lamparina de barro” com a sua luz pequenina, se fez ouvir:
- Eu farei o que puder!
É este o ponto central da parábola de Tagore.
Aqui reside a moral da história que é, na sua singeleza, um encanto ao esconder na pequena frase – eu farei o que puder – todo um programa de vida, que Tagore emprestou com genialidade a toda a sua obra literária.
Diz o povo na sua infinita doçura e sabedoria que todo aquele que faz o que pode a mais não é obrigado, donde podemos concluir, que a cada um de nós está reservada uma tarefa importante na condução da vida e da sua dignificação, por pouco que pareça valer aquilo que fazemos, se o fizermos com amor e espírito de entrega e de serviço, de cada um para si e, depois, para todos.
Temos assim que nos cumpre fazer o que formos capazes, por muito pouco que seja, porque do ponto de vista social não podemos viver sem produzirmos para a colectividade aquilo que ela nos pede, ou seja , o nosso contributo por muito pequeno que seja.
Não é socialmente defensável que todo aquele que recusa dar o pouco ou o muito que sabe fazer, mesmo, ainda, sem prestar essa dádiva para o bem comum, ainda assim fique à espera que a colectividade suprima o sua falta de serviço.
A parábola de Tagore é socialmente importante, porque nos dá a solicitude da pequena luz da “lamparina de barro”, disposta a entrar de serviço logo que o Sol se fosse embora de todo, ainda que fosse de pouca valia o que poderia dar.
É uma história exemplar que nos deveria valer quando nos esquecemos da tarefa que nos cabe na edificação do mundo, fazendo o que nos cabe, trabalhando, ainda que ignoradamente, mas ganhando com honra o pão de cada dia.
S. Paulo com alguma rudeza, um dia, ao dirigir-se ao povo de Tessalónica diz esta coisa muito séria: quem não quiser trabalhar não tem o direito de comer (2)  e tinha toda a razão, porque havia por ali, quem em vez de trabalhar perdesse o tempo em futilidades.
Acontece ainda hoje o mesmo.
Pessoas, que podem ser portadoras de pouca valia nesta sociedade massificada que só procura génios mas que não podem deixar de estar presentes com a sua entrega e arreganho para se edificarem a si mesmos, fazendo viver através da luz pequenina que trazem consigo a linda história do Poeta indiano, isto é, fazendo o que podem, à semelhança da pequena luz da “lamparina de barro” que se atreveu a substituir o grande Sol que se ia embora.
O que não se pode é perder o tempo em futilidades, porque então, não se é substituto de nada, nem se cumpre verdadeiramente o estatuto social, para que um dia ela retribua em paga do esforço feito, o que de direito cabe a cada um.

 (1) - Rabindranath Tagore, nasceu em Calcutá em 1861 e faleceu em Santiniketan, Bengala em 1941. Fundou uma escola superior de Filosofia em Santiniketan, mais tarde transformada em Universidade. Foi Prémio Nobel de literatura em 1913. O seu livro de poemas mais famoso chama-se: Gitanjali ( Oferenda Lírica)
 (2) - 2ª Tessal. 3, 10

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