Em toda a comunidade cristã deveria
fomentar-se o culto do silêncio, não no sentido dum silêncio trapista, mas no
sentido de saber guardar em silêncio as confidências e notícias fraternas.
Inácio Larrañaga
in, Sobe Comigo
in, Sobe Comigo
Larrañaga é claro naquilo que nos
transmite.
Não nos pede o
silêncio do ora et labora dos monges
trapistas, mas tão só o silêncio que advém de uma maturidade adulta que
aprendeu a manter com o devido resguardo os segredos que se ouvem e até as
incorrecções humanas que se espreitam.
O silêncio é
uma flor capaz de desabrochar em todo o coração humano, precisando apenas que
este entenda que tem todo o sentido fazê-lo quando as palavras que se vão dizer
se pareçam a pedradas atiradas ao companheiro de jornada, o que, para não
acontecer implica toda uma aprendizagem
humana e cristã.
Como é que
começa o dia, em grandes estratos da sociedade de que fazemos parte?
Nem sempre com
a Oração de graças devida a Deus por nos ter dado mais um dia, mas com o
barulho do rádio-despertador e, logo a seguir, mais barulho, porque não se
dispensam as primeiras notícias e, depois, nem mesmo, no emprego quando se
tenta um contacto telefónico é resguardado um pequeno silêncio, porque passamos
a ouvir o disco da chamada música de
ambiente, quando não é, mais um anúncio de publicidade.
Será que causa medo o silêncio à
sociedade de que fazemos parte?
Até parece que
sim, porque passamos o dia a falar e de tal modo, que deixámos até de fazer
silêncio quando nos chega um rumor sobre alguém, indo de caminho transmiti-lo,
fazendo outro tanto com a confidência que devia ser terreno sagrado e o não é pela leviandade de uma sociedade sem Deus
que por demais estamos a deixar crescer entre nós.
É, talvez, por
isso, que o poeta Khalil Gibran nos diz que aprendeu o valor do silêncio no
momento em que passou a ouvir os
faladores, a tolerância com os intolerantes, a bondade com os maldosos... e
num remate cheio de sabedoria, pelo facto de ter aprendido a respeitar a
confidência e a não deixar que a sua atitude fizesse alastrar o boato, disse: e, por estranho que pareça, sou grato a
esses professores.
Outro tanto
nos é pedido.
É preciso que
aprendamos a ouvir o silêncio que mais não é que saber guardar a consciência
dos ataques soezes de um mundo falador que a todos quer subverter na onda
hedonista, cujo fim é o afastamento do homem dos princípios básicos da moral e
da honra, por onde passa o respeito pela confidência e a não dar lastro aos
rumores do mundo.
Trata-se de cumprir o axioma bem conhecido o silêncio é de ouro, porque o povo na sua
imensa sabedoria colectiva reflecte sempre o sentido das coisas de Deus.
Somos, pela
Sua graça, constituídos pela força criadora da linguagem e é ela que nos
caracteriza como “seres humanos” acima de todos os outros animais, mas este
privilégio tem de ser usado com parcimónia, donde resulta que é necessário
fazer um jejum de palavras, especialmente daquelas que magoam e, por isso, não
são os tijolos que hão-de ajudar a construção humana que um dia esperamos
edificar na grande Casa de Deus.
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