Recordo hoje o Papa emérito Bento XVI ao lembra o que ele disse a bordo do
avião que o transportou a Portugal no dia 11 de Maio de 2010, quando afirmou uma realidade que foi nossa e deixou de o ser: Portugal foi uma grande força da fé católica, e não o é, porque a dialéctica entre secularismo e fé tem uma
longa história entre nós, lembrando a forte presença do Iluminismo desde os
tempos de Pombal.
Não chega este
apontamento para falar dos malefícios – não só para a Igreja, enquanto instituição,
como para a sociedade – desse movimento filosófico que ficou conhecido pelo
Iluminismo, mas chega para dizer que, se foi benéfica a extensão dos princípios do conhecimento crítico a todos os campos do
mundo humano, há-de ser sempre, um erro, a crítica do homem ao Mistério que
o ultrapassa.
Apontou, por
isso, Bento XVI que nesses séculos de dialéctica
entre Iluminismo, Secularismo e Fé, nunca faltaram pessoas que quiseram
estabelecer pontes e criar um diálogo, algo que nos cumpre continuar a
fazer pelo caminho da razão, pois como disse: A razão, como tal, está aberta à transcendência e só no encontro entre
a realidade transcendente, a fé e a razão que o homem encontra-se a si mesmo.
Esta continua
a ser a tragédia do homem do nosso tempo, porque se deixou enredar nas malhas
de um mundo onde a economia dita as sua leis perversas, levando-o a viver um
mundo estranho à ordem natural que o criou, andando, por isso, perdido de si mesmo.
Com toda a
frontalidade Bento XVI apontou a necessidade do secularismo e a cultura da fé
encontrarem modos de diálogo, porque estas duas correntes culturais separadas devem encontrar-se,
afirmando com veemência que, caso contrário, não encontraremos a estrada
para o futuro.
Temo que estas palavras tenham sido proféticas
E se-las-ão se o homem
não arrepiar caminho e, todos aqueles que dentro da própria Igreja se
comportam, por forma a dar ao mundo motivos de ataques ao Papa, que Bento XVI
classificou como, não virem só de fora mas
que os sofrimentos da Igreja vêm justamente do interior da Igreja, do pecado
que existe na Igreja. Também isso sempre foi sabido, mas hoje o vemos de um
modo realmente terrificante: que a maior perseguição da Igreja não vem de inimigos
externos, mas nasce do pecado na Igreja, e que a Igreja, portanto, tem uma
profunda necessidade de reaprender a penitência, de aceitar a purificação, de
aprender por um lado o perdão, mas também a necessidade de justiça.
E neste ponto, Bento XVI foi, exemplarmente duro e
muito acutilante ao afirmar que o perdão
não substitui a justiça, deixando bem claro, que o perdão que o homem dá enquanto
absolvição da ofensa, de modo algum o absolve perante a justiça, para que esta
cumpra o dever de o fazer pagar pelo mal cometido perante a sociedade.
Referiu-se o Papa. hoje emérito, aos casos de abusos sexuais contra
menores cometidos dentro do seio da Igreja.
Eis porque, há uma necessidade absoluta de reaprender precisamente estas coisas
essenciais: a conversão, a oração, a penitência e as virtudes teologais, que
andam esquecidas e se alinham na fé,
esperança e caridade, sem a qual, diz S. Paulo, podemos ter tudo mas nada
somos.
Reaprendamos, pois a penitência, a começar pelos
desmando de alguns homens da Igreja e, depois, entre todos nós, que também
somos Igreja e não estamos isentos de pecados.
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