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quarta-feira, 29 de maio de 2013

Reaprender a penitência


Recordo hoje o Papa emérito Bento XVI ao lembra o que ele disse a bordo do avião que o transportou a Portugal no dia 11 de Maio de 2010, quando afirmou uma realidade que foi nossa e deixou de o ser: Portugal foi uma grande força da fé católica, e não o é, porque a dialéctica entre secularismo e fé tem uma longa história entre nós, lembrando a forte presença do Iluminismo desde os tempos de Pombal.
Não chega este apontamento para falar dos malefícios – não só para a Igreja, enquanto instituição, como para a sociedade – desse movimento filosófico que ficou conhecido pelo Iluminismo, mas chega para dizer que, se foi benéfica a extensão dos princípios do conhecimento crítico a todos os campos do mundo humano, há-de ser sempre, um erro, a crítica do homem ao Mistério que o ultrapassa.
Apontou, por isso, Bento XVI que nesses séculos de dialéctica entre Iluminismo, Secularismo e Fé, nunca faltaram pessoas que quiseram estabelecer pontes e criar um diálogo, algo que nos cumpre continuar a fazer pelo caminho da razão, pois como disse: A razão, como tal, está aberta à transcendência e só no encontro entre a realidade transcendente, a fé e a razão que o homem encontra-se a si mesmo.
Esta continua a ser a tragédia do homem do nosso tempo, porque se deixou enredar nas malhas de um mundo onde a economia dita as sua leis perversas, levando-o a viver um mundo estranho à ordem natural que o criou, andando, por isso,  perdido de si mesmo.
Com toda a frontalidade Bento XVI apontou a necessidade do secularismo e a cultura da fé encontrarem modos de diálogo, porque estas duas correntes culturais separadas devem encontrar-se, afirmando com veemência que, caso contrário, não encontraremos a estrada para o futuro.
Temo que estas palavras tenham sido proféticas
E se-las-ão se o homem não arrepiar caminho e, todos aqueles que dentro da própria Igreja se comportam, por forma a dar ao mundo motivos de ataques ao Papa, que Bento XVI classificou como, não virem só de fora mas que os sofrimentos da Igreja vêm justamente do interior da Igreja, do pecado que existe na Igreja. Também isso sempre foi sabido, mas hoje o vemos de um modo realmente terrificante: que a maior perseguição da Igreja não vem de inimigos externos, mas nasce do pecado na Igreja, e que a Igreja, portanto, tem uma profunda necessidade de reaprender a penitência, de aceitar a purificação, de aprender por um lado o perdão, mas também a necessidade de justiça.
E neste ponto, Bento XVI foi, exemplarmente duro e muito acutilante ao afirmar que o perdão não substitui a justiça, deixando bem claro, que o perdão que o homem dá enquanto absolvição da ofensa, de modo algum o absolve perante a justiça, para que esta cumpra o dever de o fazer pagar pelo mal cometido perante a sociedade.
Referiu-se o Papa. hoje emérito, aos casos de abusos sexuais contra menores cometidos dentro do seio da Igreja.
Eis porque, há uma necessidade absoluta de reaprender precisamente estas coisas essenciais: a conversão, a oração, a penitência e as virtudes teologais, que andam esquecidas e se alinham na fé, esperança e caridade, sem a qual, diz S. Paulo, podemos ter tudo mas nada somos.
Reaprendamos, pois a penitência, a começar pelos desmando de alguns homens da Igreja e, depois, entre todos nós, que também somos Igreja e não estamos isentos de pecados.

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