Depois apareceu o Senhor a Abraão junto aos
carvalhos de Manre, estando ele sentado à porta da tenda, no maior calor do
dia. Levantando Abraão os olhos, olhou e eis três homens de pé em frente dele. Quando
os viu, correu da porta da tenda ao seu encontro, e prostrou-se em terra, e
disse: Meu Senhor, se agora tenho achado graça aos teus olhos, rogo-te que não
passes do teu servo. Trago-vos um pouco de água, e lavai os pés e recostai-vos
debaixo da árvore. Trarei um bocado de pão; refazei as vossas forças, e depois
passareis adiante. (Gen 18 1-5)
Eis que estou à porta e bato; se alguém
ouvir a minha voz, e abrir a porta, entrarei em sua casa, e com ele cearei, e
ele comigo.(Apoc 3, 20)
Deus, alfa e
ómega, Princípio e Fim de tudo, assume-Se deste modo e de um modo eloquente em
toda a História Bíblica que Ele inspirou com o fim de mostrar a divina condição
de estar acima e eternamente presente em todos os tempos, sempre atento às caminhadas
humanas e ao desejo de se sentar à mesa dos homens para comer com eles o pão e
os frutos das terras.
A refeição foi
e será sempre geradora da fraternidade humana.
É por isso que
Deus, logo no início, surge no Génesis e, depois, no tempo do Apocalipse a
bater à porta do homem, mas com o extremo cuidado de em nenhuma das vezes ter
forçado a entrada.
Abraão,
vendo-O junto da tenda na companhia dos Seus dois acompanhantes – onde a
tradição vê, representada, pela primeira vez a Santíssima Trindade - dirige-lhe
um convite cheio de amor: não passes do
teu servo, ou seja, espera que eu vá buscar água para lavares os pés e
descansa, porque é preciso refazer as forças. E, depois, de lhe mostrar o
cardápio da refeição, convida-O a comer o que Sara havia de cozinhar: pão
assado, queijo fresco, leite e carne de bezerro.
Um banquete.
No Apocalipse
a atitude é diferente, mas é significativa pelo gesto.
Estando já a
bater na aldraba da porta, anuncia-Se a Si mesmo, mas tem a delicadeza de não
querer impor a Sua presença dentro de casa, embora se mostrasse reconhecido se
alguém O convidasse, ao dizer, se alguém
ouvir a minha voz, e abrir a porta, entrarei em sua casa, dando de seguida
o grande sinal que costuma selar a confraternização entre aqueles que se
estimam, acrescentado e com ele cearei, e
ele comigo.
Deus, o
conviva, por excelência não impõe a Sua presença na intimidade de cada um, mas
apresenta-Se, disposto a sentar-Se à mesa com todos os homens, dando com estes
dois exemplos o zelo que punha, quando chegado o tempo do advento de Jesus com
a incumbência de ser o comensal de todas as mesas, de ricos e pobres, ser assim
reconhecido, o que não viria a suceder, pois desejando sentar-se à mesa de
todos, só alguns O aceitaram.
Imitando o
Pai, Jesus, não impôs a ninguém a Sua presença.
Limitou-se a
mostrar ao que vinha e a fazer o anúncio da Boa Nova que trazia, sofrendo a
injúria imerecida de ter vindo para os
seus e os seus não O receberam. (Jo 1, 11), um facto que deve ser um motivo
suficiente para gravarmos bem no fundo do nosso sentimento, algo que não deve
acontecer: Deus a bater à nossa porta e nós aferrolhados por dentro, sem ao
menos lhe darmos um pouco de atenção.
No nosso mundo
egoísta, enraizado no relativismo moral de um individualismo levado ao extremo,
onde paira a ideia intimista de uma moral que só aceita a do próprio para
julgar os seus actos, torna-se urgente ter os ouvidos à escuta, para ouvir os
conselhos de Deus.
Pode Ele estar
a bater à nossa porta desejoso de entrar, e sendo cada um de nós Sua imagem e
semelhança, somos participes da Sua felicidade, razão mais que suficiente para
que lhe abramos a porta e oferece-lhe como fez Abraão, da nossa refeição, mesmo
que seja a do dia, porque Ele está sedento de a comer connosco, como deixou
expresso no Apoccalipse: Se o homem abrir a porta, com ele cearei, e ele comigo.
Sem comentários:
Enviar um comentário