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sexta-feira, 24 de maio de 2013

Deus procura mas não força a entrada



Depois apareceu o Senhor a Abraão junto aos carvalhos de Manre, estando ele sentado à porta da tenda, no maior calor do dia. Levantando Abraão os olhos, olhou e eis três homens de pé em frente dele. Quando os viu, correu da porta da tenda ao seu encontro, e prostrou-se em terra, e disse: Meu Senhor, se agora tenho achado graça aos teus olhos, rogo-te que não passes do teu servo. Trago-vos um pouco de água, e lavai os pés e recostai-vos debaixo da árvore. Trarei um bocado de pão; refazei as vossas forças, e depois passareis adiante. (Gen 18 1-5)
Eis que estou à porta e bato; se alguém ouvir a minha voz, e abrir a porta, entrarei em sua casa, e com ele cearei, e ele comigo.(Apoc  3, 20)

Deus, alfa e ómega, Princípio e Fim de tudo, assume-Se deste modo e de um modo eloquente em toda a História Bíblica que Ele inspirou com o fim de mostrar a divina condição de estar acima e eternamente presente em todos os tempos, sempre atento às caminhadas humanas e ao desejo de se sentar à mesa dos homens para comer com eles o pão e os frutos das terras.
A refeição foi e será sempre geradora da fraternidade humana.
É por isso que Deus, logo no início, surge no Génesis e, depois, no tempo do Apocalipse a bater à porta do homem, mas com o extremo cuidado de em nenhuma das vezes ter forçado  a entrada.
Abraão, vendo-O junto da tenda na companhia dos Seus dois acompanhantes – onde a tradição vê, representada, pela primeira vez a Santíssima Trindade - dirige-lhe um convite cheio de amor: não passes do teu servo, ou seja, espera que eu vá buscar água para lavares os pés e descansa, porque é preciso refazer as forças. E, depois, de lhe mostrar o cardápio da refeição, convida-O a comer o que Sara havia de cozinhar: pão assado, queijo fresco, leite e carne de bezerro.
Um banquete.
No Apocalipse a atitude é diferente, mas é significativa pelo gesto.
Estando já a bater na aldraba da porta, anuncia-Se a Si mesmo, mas tem a delicadeza de não querer impor a Sua presença dentro de casa, embora se mostrasse reconhecido se alguém O convidasse, ao dizer, se alguém ouvir a minha voz, e abrir a porta, entrarei em sua casa, dando de seguida o grande sinal que costuma selar a confraternização entre aqueles que se estimam, acrescentado e com ele cearei, e ele comigo.
Deus, o conviva, por excelência não impõe a Sua presença na intimidade de cada um, mas apresenta-Se, disposto a sentar-Se à mesa com todos os homens, dando com estes dois exemplos o zelo que punha, quando chegado o tempo do advento de Jesus com a incumbência de ser o comensal de todas as mesas, de ricos e pobres, ser assim reconhecido, o que não viria a suceder, pois desejando sentar-se à mesa de todos, só alguns O aceitaram.
Imitando o Pai, Jesus, não impôs a ninguém a Sua presença.
Limitou-se a mostrar ao que vinha e a fazer o anúncio da Boa Nova que trazia, sofrendo a injúria imerecida de ter vindo para os seus e os seus não O receberam. (Jo 1, 11), um facto que deve ser um motivo suficiente para gravarmos bem no fundo do nosso sentimento, algo que não deve acontecer: Deus a bater à nossa porta e nós aferrolhados por dentro, sem ao menos lhe darmos um pouco de atenção.
No nosso mundo egoísta, enraizado no relativismo moral de um individualismo levado ao extremo, onde paira a ideia intimista de uma moral que só aceita a do próprio para julgar os seus actos, torna-se urgente ter os ouvidos à escuta, para ouvir os conselhos de Deus.
Pode Ele estar a bater à nossa porta desejoso de entrar, e sendo cada um de nós Sua imagem e semelhança, somos participes da Sua felicidade, razão mais que suficiente para que lhe abramos a porta e oferece-lhe como fez Abraão, da nossa refeição, mesmo que seja a do dia, porque Ele está sedento de a comer connosco, como deixou expresso no Apoccalipse: Se o homem abrir a porta, com ele cearei, e ele comigo.      
       

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