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quarta-feira, 29 de maio de 2013


A IMPORTÂNCIA IMPRÓPRIA
DAS MOSCAS... 
 
Em 14 de Maio de 2003, A “Voz Portucalense” referiu o seguinte:
Ali na Igreja Matriz de Toro, a caminho de Tordesilhas, topónimos ligados a batalhas e a tratados de antigamente, existe um quadro de pintor não demasiado conhecido, mas sem dúvida habilidoso, que desenhou um quadro da Virgem Maria, no qual, sobre o manto, talvez por uma coincidência feliz no decorrer da acção pictórica se assolapou uma mosca, pintada com a mesma perfeição com que delineou os olhos ou as mãos da Senhora, ou a expressão do rosto do Menino.
Pois, agora, os observadores do quadro apenas vêm a mosca e o quadro acabou por ser apelidado de “Virgen de la Mosca” e esse é o motivo da sua especial atracção.
Este pedaço de prosa merece uma reflexão.
Por uma deturpação de sentimentos sadios o mundo não cessa de procurar o acessório, dando-lhe honras de primazia, esquecendo com notável rapidez o que é fundamental, como acontece com o quadro daquela Igreja galega, como em outro qualquer acontecimento da vida corrente quando se dá importância imprópria e desmesurada àquilo que o não merece.
O mundo deixa, facilmente, que se percam e, até, que se esqueçam as ideias fundamentais de uma qualquer acção, para enaltecer pormenores de factos acidentais e, até, de pouco valor, como acontece com a mosca que o pintor desenhou no manto da Virgem – que passou a ser o mais importante – e fiquem na obscuridade, quer a pureza do seu olhar imaculado, quer o carinho que tece com o seu Menino, quer o fundo da paisagem que dá ao quadro um apontamento da vida real.
O que ficou de mais valia, a dar crédito ao nome pelo qual passou a ser conhecido foi a mosca, um acessório sem qualquer misticismo que nada acrescenta ao quadro, nem lhe realça o valor intrínseco.
Vivemos, infelizmente, num mundo às avessas que se compraz em erguer mitos de coisas sem préstimo, deixando que se percam valores fundamentais que ajudam o homem a viver segundo conceitos importantes e indispensáveis a uma vida plena, segundo normas decorrentes da assunção e respeito do que é mais importante.
Infelizmente, não faltam por aí – e em demasia -  fazedores de moscas, ou seja, de sensacionalismos patéticos que deformam a moral e a educação, trazendo sempre para cima aquilo que é trágico e, até, quantas vezes, aquilo que é doentio e perverte as melhores consciências, com a agravante, de quase sempre se olhar para estas distorções sociais e se esqueçam as boas acções, que apesar de tudo, não deixam de honrar o homem social  e colectivo que somos.
Repudiemos, por isso, todas as moscas com que são abertos, quantas vezes, os telejornais diariamente e os cabeçalhos de uma certa imprensa sensacionalista – que vive das moscas que cria -  para percebermos como o acessório é que se torna importante para captar audiências ou para vender títulos, ficando de fora, como se não tivesse  valor,  aquilo que é essencial, mas a que se dá uma notícia fugidia.... quando se dá.
Este estado distorcido, de dar importância ao que é acidental, é que fez a celebridade do quadro da Igreja Matriz da cidade de Toro, muito mais, que a Imagem que o quadro representa.
Cabe, por isso, a todos nós passar a distinguir o que é essencial daquilo que é acessório e sem préstimo, não dando um valor desmedido a coisas sem importância, deixando esquecidos os valores autênticos que dão cor e sentido à existência do homem sobre a face da terra.
Esta reflexão pode parecer descabida perante o mundo que nos querem vender e impor, mas é por isso mesmo que não pode deixar de ser meditada, porque, ou nós invertemos este estado de coisas, ou passamos a ser uns tontos à procura das moscas, mesmo onde elas não existem, mas inventando-as, numa procura doentia e falaz que corrompe a consciência, não a deixando ver a beleza que existe no grande quadro da vida.
É tempo de não darmos mais valor às moscas...
Seja, aquela que está no manto da Virgem daquela Igreja galega, como sejam todas aquelas que os maus fazedores de notícias nos querem vender como coisas importantes e preciosas.
É tempo de distinguirmos o trigo do joio e não embalarmos em certas notícias e certos programas televisivos, que são moscas impossíveis de ler, ver e ouvir.

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