A IMPORTÂNCIA IMPRÓPRIA
DAS MOSCAS...
DAS MOSCAS...
Ali na Igreja Matriz
de Toro, a caminho de Tordesilhas, topónimos ligados a batalhas e a tratados de
antigamente, existe um quadro de pintor não demasiado conhecido, mas sem dúvida
habilidoso, que desenhou um quadro da Virgem Maria, no qual, sobre o manto,
talvez por uma coincidência feliz no decorrer da acção pictórica se assolapou
uma mosca, pintada com a mesma perfeição com que delineou os olhos ou as mãos
da Senhora, ou a expressão do rosto do Menino.
Pois, agora, os observadores do quadro apenas vêm a mosca e o quadro acabou por ser apelidado de “Virgen de la Mosca” e esse é o motivo da sua especial atracção.
Pois, agora, os observadores do quadro apenas vêm a mosca e o quadro acabou por ser apelidado de “Virgen de la Mosca” e esse é o motivo da sua especial atracção.
Este
pedaço de prosa merece uma reflexão.
Por
uma deturpação de sentimentos sadios o mundo não cessa de procurar o acessório,
dando-lhe honras de primazia, esquecendo com notável rapidez o que é
fundamental, como acontece com o quadro daquela Igreja galega, como em outro
qualquer acontecimento da vida corrente quando se dá importância imprópria e
desmesurada àquilo que o não merece.
O
mundo deixa, facilmente, que se percam e, até, que se esqueçam as ideias
fundamentais de uma qualquer acção, para enaltecer pormenores de factos
acidentais e, até, de pouco valor, como acontece com a mosca que o pintor
desenhou no manto da Virgem – que passou a ser o mais importante – e fiquem na
obscuridade, quer a pureza do seu olhar imaculado, quer o carinho que tece com
o seu Menino, quer o fundo da paisagem que dá ao quadro um apontamento da vida
real.
O
que ficou de mais valia, a dar crédito ao nome pelo qual passou a ser conhecido
foi a mosca, um acessório sem qualquer misticismo que nada acrescenta ao
quadro, nem lhe realça o valor intrínseco.
Vivemos,
infelizmente, num mundo às avessas que se compraz em erguer mitos de coisas sem
préstimo, deixando que se percam valores fundamentais que ajudam o homem a
viver segundo conceitos importantes e indispensáveis a uma vida plena, segundo
normas decorrentes da assunção e respeito do que é mais importante.
Infelizmente,
não faltam por aí – e em demasia -
fazedores de moscas, ou seja, de sensacionalismos
patéticos que deformam a moral e a educação, trazendo sempre para cima aquilo
que é trágico e, até, quantas vezes, aquilo que é doentio e perverte as
melhores consciências, com a agravante, de quase sempre se olhar para estas
distorções sociais e se esqueçam as boas acções, que apesar de tudo, não deixam
de honrar o homem social e colectivo que
somos.
Repudiemos,
por isso, todas as moscas com que são abertos, quantas vezes,
os telejornais diariamente e os cabeçalhos de uma certa imprensa sensacionalista
– que vive das moscas que cria - para percebermos como o acessório é que se
torna importante para captar audiências ou para vender títulos, ficando de
fora, como se não tivesse valor, aquilo que é essencial, mas a que se dá uma
notícia fugidia.... quando se dá.
Este
estado distorcido, de dar importância ao que é acidental, é que fez a
celebridade do quadro da Igreja Matriz da cidade de Toro, muito mais, que a
Imagem que o quadro representa.
Cabe,
por isso, a todos nós passar a distinguir o que é essencial daquilo que é
acessório e sem préstimo, não dando um valor desmedido a coisas sem
importância, deixando esquecidos os valores autênticos que dão cor e sentido à
existência do homem sobre a face da terra.
Esta
reflexão pode parecer descabida perante o mundo que nos querem vender e impor,
mas é por isso mesmo que não pode deixar de ser meditada, porque, ou nós
invertemos este estado de coisas, ou passamos a ser uns tontos à procura das moscas, mesmo onde elas não existem, mas inventando-as, numa procura doentia
e falaz que corrompe a consciência, não a deixando ver a beleza que existe no
grande quadro da vida.
É
tempo de não darmos mais valor às moscas...
Seja,
aquela que está no manto da Virgem daquela Igreja galega, como sejam todas
aquelas que os maus fazedores de notícias nos querem vender como coisas
importantes e preciosas.
É
tempo de distinguirmos o trigo do joio e não embalarmos em certas notícias e
certos programas televisivos, que são moscas impossíveis de ler, ver e ouvir.
Sem comentários:
Enviar um comentário