ANTÓNIO FELICIANO DE CASTILHO
Nasceu em
Lisboa a 28 de Janeiro de 1800, onde também faleceu a 18 de Junho de 1875. Era filho do Dr. José Feliciano de Castilho e
de sua mulher, D. Domicilia Máxima de Castilho.
Era criança
quando adoeceu gravemente, manifestando sintomas de tuberculose, receando-se
muito que não pudesse salvar-se. Resistiu, porém, e já lia e escrevia quando
aos 6 anos o sarampo o prostrou novamente no leito. Teve a fortuna de resistir,
mas com a infelicidade de ficar privado da vista.
Acompanhado por seu irmão Augusto Frederico de
Castilho, quase da mesma idade, com ele estudou e se instruiu no conhecimento
dos poetas latinos, que foram sempre os seus estudos predilectos, e com ele se
matriculou na Universidade de Coimbra, na faculdade de Cânones, em que ambos se
formaram. 0 seu talento poético começou a desenvolver-se, sendo ainda criança.
Versejava com facilidade e os seus primeiros versos
tinham já o cunho melodioso e bocagiano que foi característico na sua poesia.
Tinha 16 anos quando escreveu uma poesia dedicada à morte da rainha D. Maria I.
Esta poesia
causou a maior surpresa por ser firmada por um poeta de tão tenra idade e
sobretudo por ser cego.
Em 1818
publicou outro poemeto, intitulado: Á Faustíssima Aclamação de S. M. o S. D.
João VI ao Trono. Estas duas composições granjearam-lhe o despacho da
propriedade duma escrivaninha de ofício de escrivão e promotor do Juízo da
Correição da Cidade de Coimbra.
Em 1820
publicou uma ode á morte de Gomes Freire. No sarau realizado na sala dos
capelos da Universidade em 21 e 22 de Novembro de 1820, recitou várias
composições, que andam insertas na Colecção então publicada em Coimbra. Em 1821
imprimiu o seu poema Cartas de Echo e Narciso, dedicadas à mocidade
académica.
Traduziu as Metamorfoses
e os Amores de Ovídeo, que escreveu muitos dos versos que depois se
incorporaram nas Escavações Poéticas. Compôs dois poemetos: A Noite
do Castelo e os Ciúmes do Bardo. A publicação das Cartas de Echo
e Narciso motivou ao poeta uma aventura romanesca. Uma dama reclusa no
convento de Vairão, D. Maria Isabel Baena Coimbra Portugal, escreveu-lhe
dando-se como uma nova Echo e perguntando se ele procederia como Narciso.
Esta intriga
galante deu em resultado a série de quadras do Amor e Melancolia que o
poeta compôs e publicou em Coimbra no ano de 1828. Esta senhora veio a ser sua
esposa, realizando-se o casamento em 29 de Julho de 1834. Pouco durou este
idílio, porque D. Maria Isabel faleceu em 1 de Fevereiro de 1837.
No ano de 1840
acompanhou seu irmão Augusto à ilha da Madeira e assistiu à sua morte em 31 de
Dezembro desse ano.
Castilho
escreveu sobre a História de Portugal, uma publicação por fascículos intitulada
Quadros Históricos de Portugal. Nesse mesmo ano casou em segundas
núpcias com D. Ana Carlota Xavier Vidal, natural da ilha da Madeira, que viria
a falecer em 1871.
Nos primeiros
dias de 1841 voltou da ilha da Madeira e em 1 de Outubro publicava-se o 1.º
número da Revista Universal Lisbonense, por ele fundada e dirigida, uma
publicação que prestou serviços prestou à agricultura, à industria, às artes, à
historia, à moralidade e às letras. Deixou a direcção da Revista em 17 de Junho
de 1845 e nesse ano e no seguinte, de colaboração com seu irmão, o conselheiro
José Feliciano de Castilho, deu principio à Livraria Clássica Portuguesa.
Em 1846 fez
uma rápida passagem pela política, militando no partido de Costa Cabral, no
movimento político que a história regista como o “cabralismo”.
Por esse tempo
começou também a luta em que empenhou uma grande parte da sua vida, para fazer
adoptar o seu método de leitura, contra o qual se levantaram grandes polémicas.
Depois, duma
luta intensa que só venceu em parte, porque se o governo o nomeou comissário
para a propagação do seu método e lhe deu um lugar no conselho superior de
instrução pública, nunca o adoptou o seu Método de leitura oficialmente. Em
1847, desgostoso pelo modo como fora tratado, partiu para os Açores, onde se
demorou até 1850.
Em Ponta
Delgada escreveu o Estudo Histórico-Poético de Luis de Camões.
Fundou uma
tipografia, onde se imprimiu o jornal o Agricultor Micaelense, sendo
Castilho o redactor principal. Estabeleceu conferências e fundou a sociedade
dos Amigos das Letras e das Artes; escreveu a Felicidade pela Agricultura,
o Tratado de Mnemónica, o Tratado de Metrifìcação, as Noções
Rudimentares para Uso das Escolas, e traduziu os Colóquios Aldeãos,
de Timon.
No dia 22 de Fevereiro de 1850 regressou a Lisboa e
embrenhou-se acérrimamente na luta contra os adversários do seu método de
leitura, do qual se publicaram duas edições em 1850 saindo a 3.ª em 1853,
refundida e com o titulo de “Método Português Castilho”. Esta propaganda também
motivou grandes polémicas, em que por vezes Castilho se excedeu, como na Tosquia
de um Camelo, carta a todos os mestres das aldeias e cidades, em 1853; O
ajuste de contas em 1854, e Resposta aos Novíssimos Impugnadores do Método
Português, de 1854, publicando neste mesmo ano a 4.ª edição do Método. Em
1853 foi nomeado comissário geral de instrução primária.
Por sua iniciativa foram abertos cursos públicos em
Lisboa, Leiria, Porto e Coimbra, para instruir adequadamente os professores.
Em 1865 foi ao Brasil com o intuito de propagar o
seu Método donde voltou nesse mesmo ano, sendo recebido amigavelmente por D.
Pedro II, a quem dedicou o seu drama Camões, e de quem foi sempre
dilecto amigo até à morte.
Em 1861 publicou se a nova edição do Amor e
Melancolia aumentada com a Chave do Enigma, parte complementar
desenvolvida com a autobiografia do poeta até 1837.
Em 1862 publicou-se a tradução dos Fastos de
Ovídeo, em 6 volumes.
Em 1863 foi
publicado o Outono, colecção de poesias.
Em 1866 foi a
Paris na companhia de seu irmão José Feliciano de Castilho, tendo sido
apresentado ao escritor, então muito em voga, Alexandre Dumas, de quem era um
grande admirador.
Nesse ano –
1867 - publicou em Paris a Lírica
d'Anacreonte.
Igualmente, em
Paris, apareceu urna edição luxuosa da tradução das Geórgicas de Virgílio.
Em 1868 foram
publicados os Ciúmes do Bardo .
Castilho
empreendeu, ainda, a tradução do Fausto de Goethe.
O titulo de
Visconde de Castilho foi-lhe concedido em duas vidas por decreto de 25 de Maio
de 1870.
A sua morte
foi muito sentida e no seu funeral viram-se representadas todas as classes da
sociedade, ministros, colegas da Academia,
representantes das letras e os homens mais grados do exército, da
magistratura, do professorado e da armada.
Dele
apareceram biografias subscritas pelo Dr. Teófilo Braga, na Encyclopedia
Portugueza Illustrada, em publicação no Porto, vol. 2.°, pág. 639 e 640 e outra
por Latino Coelho, na Revista Contemporânea tomo 1, pág. 297 a 312, 353 a 360. 453 a 459, continuando no
vol. II. de pág. 177 a .
183. e de pág. 321 a
336.
Para comemorar
o centenário do nascimento do notável homem de letras colocou-se em 28 de
Janeiro de 1900 uma lápide na casa onde nasceu, Alcântara, Lisboa.
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