Paráfrase de uma mensagem evangélica
Conta-se que
numa ilha imaginária viviam - como se verá, depois, numa aparente harmonia - todos
os sentimentos humanos, como a Amor, a Emoção, a Alegria, a Tristeza e a Moralidade a par de situações
acidentais, como a Riqueza.
Um dia, soube-se
naquela ilha que uma convulsão natural se preparava para a mergulhar na
profundeza das águas, o que originou que todos arregaçassem as mangas e prepararam os seus barcos para desertar.
E assim
aconteceu.
Ficou, apenas,
o Amor.
Com fé num
milagre qualquer que livrasse a ilha daquele cataclismo anunciado, dispôs-se a
arriscar até ao último momento, até que, quando pressentiu, que já nada mais
havia a fazer, resolveu partir.
Aconteceu,
porém, que não encontrou o seu barco, de que resultou ter de pedir ajuda.
Colocado na
orla da praia deu em olhar o horizonte.
Viu ao longe o
barco da Emoção e acenou-lhe:
- Salva-me...
- Não posso. –
ouviu – Estou de tal forma comovida, que a emoção de ter deixado a ilha me tira
o desejo de voltar aí...
Viu, depois, o
barco da Alegria e pensou: “Esta vem salvar-me”...
- Não vou,
não! – disse-lhe de muito longe – Estou tão alegre de ter partido, que já não
sei o caminho para chegar ao pé de ti...
Passou a
Tristeza e o Amor pensou: “Não vale a pena chamá-la... vai muito triste”...
E não a
chamou.
Mas, de
repente, apareceu a sulcar as ondas o barco da Moralidade.
De novo o Amor
exultou, na expectativa de ser salvo.
Mas, não
aconteceu.
- Não tenho
tempo agora. Neste meu novo estágio de vida tenho o meu tempo todo ocupado a
dar lições de Moral. – desculpou-se a Moralidade
Veio a seguir
a Riqueza.
- Vem
salvar-me, pediu o Amor, já em estado desesperado, pressentido que em breve
iria ao fundo, já que mal se via a praia e a ilha era, somente, uma mancha em
cima do Mar.
Foi, então,
que o Amor ouviu a voz de alguém, vinda de muito longe, das alturas do Céu - segundo lhe pareceu - e lhe disse:
- Vem, Amor...
anda comigo...
Nos braços
daquele ser estranho, de longas barbas e olhar profundo, andaram dias, até
atingirem terra firme.
Aconteceu, porém, que de tão contente e emocionado por se saber
a salvo o Amor se esqueceu de lhe perguntar o nome, lembrando-se desta falta, quando ao olhar em derredor deu-se conta que o seu salvador tinha desaparecido.
Foi, então,
que lhe apareceu, nem sabe de onde, o Saber, a quem perguntou:
- Por favor, tu que sabes tudo, diz-me o nome de quem me ajudou.
- Foi o
Tempo...
- O Tempo?... –
questionou o Amor – mas porque foi que o Tempo me ajudou?
- Porque só o
Tempo é capaz de avaliar como tu és de tal modo importante na vida que não podes morrer!
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