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sexta-feira, 24 de maio de 2013

As prisões sem grades



Os homens construíram prisões para os homens – não somente prisões de pedras, mas também prisões invisíveis, maia apertadas que as primeiras. Com efeito, em redor de nós os homens estão emparedados em estruturas sociais, económicas e políticas que os reduzem à escravidão. (...)
Michel Quoist
in, Poemas para Rezar
Como sempre, profundo, Michel Quoist deixa-nos a pensar nestas singulares prisões sem grades que muitos dos homens do nosso tempo – como nunca aconteceu – estão a construir ao nosso lado, sem que ninguém as veja.
Prisões douradas para os que nelas se comprazem, mas que não deixa de ser na  opulência balofa onde passam os dias uma felicidade vivida ao contrário, fazendo voluntariamente de prisioneiros e a viver uma falsa  liberdade, bem ao contrário do sentido que S. Paulo empregou numa célebre carta: Paulo, prisioneiro de Cristo Jesus, e o irmão Timóteo, ao amado Filemom, nosso companheiro de trabalho (...) (1)

Neste pormenor importantíssimo o apóstolo que se fez prisioneiro de Cristo para ter a Sua Paz era o mais livre dos homens, enquanto todos os que se deixam enredar nas malhas sociais, pondo longe ou desconhecendo a espiritualidade que enchia de alegria cristã as palavras de Paulo, atulham as prisões invisíveis que moram ao nosso lado ou vemos a caminhar connosco pelas ruas da cidade.

Há, é verdade, as prisões que se tornam necessárias para defesa da comunidade, mas o que Jesus não quer são as outras prisões, as que não libertam o homem e dão pelos nomes pomposos  de regimes políticos que os não deixam ser livres nas suas decisões, os sistemas económicos que os esmagam contra o poder das mais-valias e as sociedades anónimas onde os homens perdem o nome e vivem acorrentados à diferenciação do valor dos capitais, tudo em nome de uma ilusão de liberdade, quando afinal, são elos de uma mesma corrente.

O homem que vive longe do Evangelho não é prisioneiro de Cristo, mas será que se sente libertado ao ter aprisionado a alma às ilusões de uma liberdade que o esmaga?
Eis o que temos de descobrir nesta sociedade em que o homem se tornou um refém da sua violência virada contra si mesmo ao afastar-se de Deus e a viver encastelado nas prisões douradas dos condomínios-fechados com segurança à porta.
Não. Não foste Tu, Senhor, que inventaste estas prisões. Foram os homens que esquecendo o sentido da Tua liberdade e tendo feito letra morta da Verdade que os tornaria livres (2) criaram sistemas complicados, cheios de leis absurdas e esqueceram a Lei do Amor que nos deixaste, não adivinhando, sequer, que a liberdade é fazer-se cada um prisioneiro da Tua Verdade, a única que liberta o homem.

Ao contrário, numa fuga para a frente, sem peias e regras que não sejam a de fingir estar-se livre, mas manietado e a criar as violências morais, os homens afastados da sua condição natural, não cumprem na sua conduta, uma só que seja das letras do Mandamento maior que lhes foi dado para ser cumprido e o não é por causa das supostas importâncias emparedadas nas tais estruturas sociais, económicas e políticas que os reduzem à escravidão. (...) de que nos fala, cheio de autoridade, o  grande pensador do Havre.
(1) - Fl 1,1
(2) - cf Jo 8,32

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