Mais do que nunca o mundo de hoje se nega à
aceitação de algum valor que não esteja nele. Mais do que nunca o homem actual
está convencido de que deve resolver as suas questões na sua casa, sem aguardar
um auxílio extra.
Zacarias de Oliveira in, Deus para que serve?
Eis um dos
pecados actuais do mundo actual: não aceitar algum valor que não esteja nele, advindo isto do facto de
muitos homens andarem tão cheios de si
mesmos, que Deus – a aceitar-Se, o que faz, segundo pensam - é complicar-lhes a
história que eles querem escrever á sua maneira, esquecendo deliberadamente que
Ele jamais foi e nunca será um factor estranho à História, porque está dentro
dela por direito próprio.
Também ao
homem religioso não se lhe pode aceitar o pensamento de lhe caber algum mérito,
quando pensa que é a ele e à sua acção que se deve a intromissão de Deus no
mundo, ou mais concretamente, no seu ambiente, porque Deus não é um dado
externo que se põe ou não, consoante a vontade do homem, porque está lá desde o
princípio dos tempos.
Deus é o
clarão luminoso que cobre todos os homens e não o clarão que alumia,
isoladamente, cada um.
O que
acontece, é que há os que na sua humildade de procura e de afecto O encontram,
fazendo d’Ele um companheiro de jornada a quem transmitem as suas mais íntimas
preocupações, conscientes de se tratar de um valor único, exterior, imutável e
transcendente, guia e timoneiro,
sentindo-O comprometido com os seus destinos.
Assim o
declarou Isaías:
Mesmo que as montanhas
oscilassem e as colinas se abalassem, jamais meu amor te abandonará e jamais
meu pacto de paz vacilará, diz o Senhor que se compadeceu de ti, (54,10).
É assim, porque Ele ama o homem e sente-Se comprometido com a
Sua Palavra, mas na espera de receber deste um acto de fidelidade, porquanto a
Aliança requer um compromisso mútuo estendido através das gerações.
Realizou-se
isto em plenitude através de Jesus Cristo ao permitir a vida eterna a quem
aceitar o mandato do Pai, alertando-nos, por intermédio de S. Paulo, que somos
uma carta d’Ele, redigida por nosso
ministério e escrita, não com tinta, mas com o Espírito de Deus vivo, não em
tábuas de pedra, mas em tábuas de carne, isto é, em vossos corações. (2 Cor
3, 3).
Acontece,
porém, que no mundo actual parece haver falta de corações de carne, tendo-os
destituído de valores espirituais, donde imergem – quando tal acontece – concepções de um Deus feito à medida das
mentalidades, não raro mergulhadas num ataque feroz aos ditames evangélicos de
princípios que não podem mudar à mercê das conveniências de cada um, porque o
Deus da História é um Deus que não se deixa, de modo algum, mergulhar no
chafurdo das mais vãs catilinárias.
Tenhamos a
certeza de um facto.
Nunca um Deus
atirado pelo homem controverso de fora para dentro da história que ele deseja
escrever e autografar, servindo-se d’Ele para lhe dar prestígio, poderá
dar-lhe, senão passageiramente, uma aura que se esvairá ao primeiro sopro de um
vento contrário, porque só o Deus verdadeiro que está dentro do coração do
homem e lhe molda a história, é que faz
que ela perdure e seja um exemplo a seguir.
É este Deus
que tem de ser reconhecido como Alguém que se meteu dentro do coração do homem,
que na sua fraqueza, sabe que só com Ele é que pode construir a sua casa.
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