No Livro “Quando o Instinto Desperta”, diz o autor
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no capítulo que trata do modo como é possível forjar a vontade, que reflectir
é julgar, acrescentando com toda a legitimidade da sua argumentação sólida,
que nada de grande se pode construir sem
reflexão e, apontando como verdades para o seu argumento, as seguintes
considerações: Se no campo prático das
ciências e conhecimento humanos ela é indispensável, não o é menos no domínio
da actuação espiritual e moral, onde – podemos dizê-lo seguramente – só bem
constrói quem bem reflecte, só bem age quem bem medita, só bem se conduz quem
bem examina e segue a sua consciência esclarecida.
A reflexão é, por isso,
geradora de sentimentos sólidos e, estes, assim consolidados são sempre o
suporte das ideias, sendo certo que estas só serão profícuas e enriquecedoras
da acção do homem se tiverem na base a força do sentir humano arreigado a
valores que pela sua natureza são formadores da consciência sadia, que nunca
pode dispensar em todos os actos existenciais do homem a sua mais valia, sendo
certo que o contrário, é sempre a porta que se abre sempre para todos os
desmandos, quer isolados, quer
comunitários.
Quando o autor nos diz
que só bem age quem bem medita, faz uma afirmação indesmentível à luz da
verdade dos factos, porque toda a construção humana, seja ela material ou espiritual, é sempre o resultado
de um apurado sentido de responsabilidade social, ainda que ele seja, apenas,
para usufruto pessoal.
Há, infelizmente, pela
pressa como se vive no tempo actual, pouca reflexão, sendo o homem-colectivo
uma presa fácil das ideias feitas, como se a vida se abastecesse num
supermercado estranhamente especial onde todas as suas preocupações encontram
resposta.
E não é assim, embora
muitas vezes isto aconteça.
A verdade, porém, é que
ninguém é capaz de pensar por nós com o mesmo sentido de responsabilidade como
nós próprios, que somos donos de um destino que não tem similitudes noutro
destino qualquer, porque em cada homem existe uma tarefa a cumprir que ninguém
pode fazer por ele.
E, por isso, é necessário
e indispensável que a cada um de nós caiba a missão importante e definitiva de
encontrar o caminho certo, de acordo com a consciência, que é um bem tão
precioso que nenhuma outra – por muito considerada que seja - pode substituir.
O Livro “Quando o Instinto Desperta” não é uma
obra recente, mas sua postura moral e ética na formação das camadas mais jovens
– que são, afinal, as que um dia irão ser chamadas a conduzir-se e a conduzir a
comunidade – bem merecia ser estudado e posto como referencial de conceitos
necessários à vida, se não fosse um certo laxismo que se intrometeu nas
sociedades modernas, levando-as a
esquecer-se de princípios que nunca deviam ter sido postergados tão
acentuadamente, porque é falho de
valores o ensino que as escolas estão dando neste campo tão sensível, como é o
da formação continuada de bases estruturantes de conduta social.
A reflexão, enquanto
norma desta conduta, não pode ser, apenas, um acto consciente virado somente
para as ciências do conhecimento humano. Ela tem de informar o homem todo
naquilo que deve ser nele a assunção mais importante e mais válida da sua
existência: a formação moral e ética que o lança na vida e no seio da sociedade
como um ser inteiro, isto é, alguém que se basta a si mesmo, sabendo reflectir
e discernir para si mesmo o melhor
caminho, enquanto escolha própria e nunca imposta de fora da sua capacidade de
agir, como amiudadamente acontece nos tempos que passam, em que as ideias
aparecem feitas e são aceites, tantas vezes, contra a consciência do homem que
se vê atropelado por um mundo que resolveu pensar por ele.
(1) - J. A. da Cruz Neves
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