Diz-se, hoje – e com razão – que o homem perdeu o
sentido do pecado ao consentir que se instale nele o anarquismo moral da
colectividade, fazendo recair nesta a desordem do seu desalinho pessoal e
arranjando, deste modo, desculpas para o seu comportamento individual.
Há,
efectivamente, nas novas sociedades esta irregularidade comportamental.
O homem,
enquanto sujeito, desculpabiliza-se dos seus próprios desmandos e perdeu aquilo
que devia ser nele uma força capaz de não se deixar ir atrás da corrente que
passa – e tudo quer subverter – mas, ter, a força moral de ficar de fora de
tudo quanto é capaz de o afogar nessa corrente desenfreada de prazeres amorais
que o faz perder a noção do mal e perder o sentido do pecado.
E é aqui que nos
devemos interrogar: pecado o que é?
Pecado, em
linguagem teológica, poder-se-á dizer de um modo sucinto, é sucumbir à tentação
e abusar da liberdade, constituindo uma
recusa a Deus, sendo a sua realidade apenas esclarecida à luz da Revelação
operada por Jesus.
Pecado, numa
análise menos teologal é aquela realidade que deixa o homem, dividido em dois,
numa luta entre o bem e o mal, onde este, perdido que está o equilíbrio moral
acaba por vencer e cantar vitória, sendo noutra perspectiva, um fracasso da autonomia
humana.
E é aqui que
temos o dever de arrepiar caminho e ao invés de culparmos a colectividade pelo
fracasso moral em que vive – e faz viver o homem singular – cada um em si
mesmo, deve lutar contra a teoria racionalista que advoga a negação da existência
do pecado, tendo antes a noção que o pecado – entendido como um fracasso da
autonomia humana – é uma irreverência pessoal e um gesto de inimizade da pessoa
contra si mesma, donde resulta um prejuízo contra a colectividade.
Culpar esta, é
por isso, uma falta de inteligência do homem singular ao fazer recair no
colectivo das pessoas aquilo que começa por ser em si mesmo o desarranjo
pessoal dos seus próprios sentimentos.
Onde está – e
esta tem de ser a pergunta que deve ser feita – a culpabilidade do homem na
confusão actual?
Diremos que
está na sua fraqueza moral e no cansaço de uma sociedade que já não encontra o
mal, porque este se instalou como se fosse um acto irremediável, o que não deixa de ser
preocupante.
Se nos
lembramos do episódio bíblico da parábola do “Filho Pródigo” – e lembra-se isto
porque a Bíblia é um manancial humano de ensinamentos sadios – recorda-se que o
filho esbanjador da fortuna que lhe coube da herança paterna e que ele
delapidou, ao chegar ao pé do pai, não culpou a sociedade que o perverteu, mas
antes, humildemente, fez recair sobre si mesmo todo o mal que fez.
Por isso,
disse: “Pai, pequei.”
É este sentimento de falta de culpa que falta nos
tempos que passam.
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