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quarta-feira, 15 de maio de 2013

"VENDO A PORTA DA PRISÃO ABERTA"

  

No "mar da vida" por onde passam todos os homens, o barquito que já passou - como mostra a foto - leva-me embarcado depois de ter ultrapassado o "rochedo" das intempéries estatais que, em parte, encheu o destino que me foi dado num plano que só Deus sabe e, onde, as ondas do "mar da vida" existiram sempre, mais alterosas ou não.
Aconteceu, porém, que cansadas de malhar comigo acabaram por me dar a passagem que procurei, furando o "rochedo" que emergia das funduras.
É algo que acontece com todos os homens: cedo ou tarde, se porfiarem, é-lhes aberta a passagem para saírem da "prisão", seja das ideias ou das ações.
O meu "barquito" após anos de bater contra o "rochedo" que lhe tolhia a passagem, não por medo mas por respeitos humanos, neste tempo em que o rol dos anos deixou de os ter pelo facto do Estado os não ter por mim, assentou que melhor seria denunciar aquele que a minha velha Escola me ensinou a respeitar como pessoa de bem - e, agora, sem me pedir licença - quer cortar o Estatuto de Confiança que assinou comigo quanto ao valor  da minha reforma, bem como à eventualidade de se servir de um pedaço das minhas economias bancárias, apesar do Ministro das Finanças dizer que os depósitos abaixo de 100 mil euros são sagrados.
Mas como diz o axioma popular: bem prega Frei Tomás... desconfiemos e não deixemos de nos perguntar: porque é que estes depósitos são sagrados e os outros não?
Aliás, isto de chamar sagrado a algo que é material e sujo, diz bem do respeito que nos podem merecer tais palavras!...
Penso, aliás, que todos os depósitos bancários são propriedade alheia e não pode nem deve o Estado assenhorear-se de parte deles, razão, porque o meu "barquito" depois de tantos anos de luta e de crença bateu de tal modo contra o "rochedo" - o Estado -  abriu passagem e já navega para outro lado.
A minha dúvida está em saber agora, que "mar" escolher na certeza que tenho de numa Europa onde faltou a vergonha todos os "mares" serem encapelados, o que me leva a pegar do velho sextante marítimo que trago comigo e passar a olhar o melhor dos "mares", agora que estou liberto de algumas amarras em que, mais por omissão que por crença política andei a bater contra o "rochedo" de um Estado que perdeu a moral e a honra.
É tempo de, neste aspecto, ter outra atitude.
A minha vida de cristão - sei - tem de continuar a  arder por dentro sem deixar que as "chamas" queimem por fora por não ter o direito de "chamuscar" os meus irmãos,  aqueles que diziam defender a coisa pública, quando, afinal, a primeira defesa era a deles próprios.
Mas agora, acabou-se.
Passei para o outro lado e vou escolher outro "mar", por me julgar no direito de não mais navegar com eles, mesmo à distância, como tem acontecido.
Sou, lembrando o insigne Poeta - Miguel Torga que teve a pouca sorte de ter nascido em Portugal -  alguém que chama para si mesmo e com vontade de a dar ao mundo, o sentido da sua BIOGRAFIA, um título que ele dá a um dos poemas do "Orfeu Rebelde"

Sonho, mas não parece.
Nem quero que pareça.
É por dentro que eu gosto que aconteça
A minha vida.
Íntima, funda, como um sentimento
De que se tem pudor.

Vulcão de exterior
Tão apagado,
Que um pastor
Possa sobre ele apascentar o gado.

Mas os versos, depois,
Frutos do sonho e dessa mesma vida,
É quase à queima-roupa que os atiro
Contra a serenidade de quem passa.
Então, já não sou eu que testemunho
A graça
Da poesia:
É ela, prisioneira,
Que, vendo a porta da prisão aberta,
Como chispa que salta da fogueira,
Numa agressiva fúria se liberta.

Eis a minha biografia do tempo de hoje, feita como Torga fez em cima de um tempo em que o vulcão que era, apesar disso, sobre ele podia o pastor apascentar o gado.
Assim aconteceu comigo.
Mas agora, vendo a porta da prisão aberta, libertei-me e digo em alta voz: não acredito nos homens públicos, porque deixei de crer no Estado enquanto governo político do povo constituído em Nação.
E porque não sei fazer versos, frutos do sonho, tenho a mesma atitude do Poeta:  é quase à queima-roupa que atiro a prosa que faço contra aqueles que deixaram de ter respeito por mim, porque, o meu "barquito" aberto o buraco no "rochedo" em que andou a bater, libertou-se como uma chispa que saltou da fogueira.
Rendo, aqui, a minha sentida homenagem à memória de Miguel Torga com quem me identifico, não no estro enorme e único, mas no facto de ter nascido nos montes telúricos da Beira que me viu nascer, bem parecidos com os de Trás-os-Montes e que ele cantou como só ele o podia ter feito.

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