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sábado, 18 de maio de 2013

O ZÉ POVINHO LEVANTAR-SE-Á?!...

Gravura publicada pelo jornal "António Maria" de 6 de Janeiro de 1881
Na velha gravura existe esta pergunta: Levantar-se-á?
Na época ter-se-á dito que NÃO até, porque, já estava à espreita  o descalabro das Finanças nacionais como veio a acontecer.
Efectivamente o "Zé Povinho" não se levantou. Sobre a sua figura  passaram, na altura, os homens do poder e  todos aqueles que se serviam dele, vestindo vaidosamente -  como  o génio de Bordalo Pinheiro os pintou no seu expressivo "boneco"  - os trajes janotas da realeza, exibindo as pompas das Ordens e das Instituições, humilhando-o a pondo de o pôr a dormir enquanto a "festa" passava sobre o seu dorso...
Não se julgue, porém, que isto acabou no tempo que passa, embora a festa tenha mudado de personagens...
Mudou - é certo -  e muito as regras sociais por imperativo do tempo, pois o voto do povo deixou de sofrer os entraves administrativos de antigamente, mas apesar disso continuam a passar por cima do "Zé Povinho" os empoleirados em cargos que ele mesmo ajuda a conquistar, - o que é espantoso! - por continuar a ser útil, apenas, em tempo de eleições, para depois o tratamento do poder se assemelhar ao do séc. XIX.
Ou seja, o esquecimento e, até, a falta de cumprimento da boa fé com que é "comprado" o seu voto que depois não é cumprido sem haver um arrependimento ou um pedido de desculpa.
É a dura realidade de uma sociedade iconoclasta que tudo fez para se separar da moral antiga que vai beber no divino de toda a criatura - crente em Deus ou não - e que tem rasgado o tempo e se fez eco no segundo Concílio Ecuménico da Igreja da Igreja Católica - a luz mais viva que iluminou os povos durante o século XX - que sobre os direitos da pessoa, entre muitas outras defesas de ordem moral, social e económica diz o seguinte no nº 26 da "Gaudium et Spes":
Aumenta simultaneamente a consciência de eminente dignidade da pessoa humana, superior a todas as coisas e cujos direitos e deveres são universais e invioláveis. É necessário, portanto, que se torne acessível ao homem tudo aquilo de que precisa para viver uma vida verdadeiramente humana, como é o alimento, o vestuário, a habitação, o direito de escolher um estado de vida e de constituir família, o direito à educação, ao trabalho, à boa fama, ao respeito, a uma informação conveniente, o direito de agir segundo a recta norma da sua consciência, à protecção da vida privada e à justa liberdade (...).
Eis, porque, se torna necessário aos homens do poder honrar estes ditames, que pese embora o laicismo que enforma a Constituição da República Portuguesa, em muitos aspectos se enquadra nas palavras do Vaticano II, mas devendo lamentar-se que não sejam cumpridos - ao menos -  as directivas do legislador e se continue sem atingir os objectivos quando à vivência digna do homem no que concerne ao alimento que provém do trabalho que uma Economia laica  e de olho no seu umbigo se tem esquecido de prover em honra da dignidade da vida humana.
Este é o motivo forte que nos leva a concluir que o "Zé Povinho" vai continuar com a sua enorme estatura a ser passeado por cima -  como a gravura demonstra - agora, por uma classe afidalgada sem brasões de armas mas ostentando as armas que o próprio povo lhe dá, o que parece ser um desconchavo.
Mas não é, pelo facto de tudo o que acontece ser o resultado de um regime dito democrático mas que tem o defeito de criar maiorias que agem, na prática, como se de ditaduras se tratassem por não seguirem a sabedoria que está patente na "Gaudium et Spes", ou seja, a ter uma informação conveniente e por omissão directa, não do legislador mas do chefe do Partido, ser-lhe proibido agir nas decisões importantes segundo a recta norma da sua consciência.
E assim, enquanto isto suceder, meu pobre "Zé Povinho", vão continuar a passear sobre ti os fidalgotes de agora - não tão enfeitados nas cores garridas das fatiotas e dos pendões - mas aperaltados nos seus fatos de bom corte e de boa fazenda.
E tu, "Zé Povinho" a dormir... nem dás que te passam por cima!

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