"MAS O MELHOR DO MUNDO
SÃO AS CRIANÇAS"
A foto não me pertence. Faz parte de um diaporama que recebi.
Que a magnanimidade do seu autor me desculpe a sua utilização.
A poesia portuguesa está cheia de encantos dedicados às
crianças, pelo facto de ser nelas que se esconde o coração dos grandes poetas
que, de vez em quando largam os adultos que vivem neles e deixam,
amorosamente, que o velho e sempre presente coração da criança que houve neles,
se liberte e fale a linguagem pura que tiveram e perderam no devir da vida e
dos acontecimentos.
Antes do pequeno apontamento que motivou este escrito,
vejamos dois exemplos:
No seu poema "Liberdade", Fernando Pessoa, num
dado passo, depois de tecer loas ao prazer, que parece uma contradição de quem
passou a vida a ler e a estudar - ou talvez, por isso mesmo - afirma que ler é
maçada, estudar é nada, para nos dizer, depois, estes dois importantes versos:
Grande é a poesia, a bondade e as danças...
Mas o melhor do mundo
são as crianças.
Fernando Pessoa não foi pai, mas este facto não o impediu
que na sua alma se tecesse um carinho especial pelas crianças, lembrando-se,
talvez, da criança que foi e o mundo dos mais velhos fez que andasse nas
andanças e contradanças, que o viria a marcar profundamente.
Miguel Torga, lembra-nos na sua "História Antiga"
um certo Menino e, sobre ele tece um quadro de rara beleza:
Era uma vez, lá na Judeia, um rei.
Feio bicho, de resto:
Uma cara de burro sem cabresto
E duas grandes tranças.
A gente olhava, reparava, e via
Que naquela figura não havia
Olhos de quem gosta de crianças.
E, na verdade, assim acontecia.
Porque um dia,
O malvado
Só por ter o poder de quem é rei
Por não ter coração,
Sem mais nem menos,
Mandou matar quantos eram pequenos
Nas cidades e aldeias da Nação.
Mas,
Por acaso ou milagre, aconteceu
Que, num burrinho pela areia fora
Fugiu
Daquelas mãos de sangue um pequenino
Que o vivo sol da vida acarinhou;
E bastou
Esse palmo de sonho
Para encher este mundo de alegria;
Para crescer, ser Deus;
E meter no inferno o tal das tranças,
Só porque ele não gostava de crianças.
O tal que não gostava de crianças chamou-se Herodes e viveu
há muito tempo, mas como ele, há por aí os novos Herodes - alguns, até, com
tranças... e outros, não - que por não gostarem de crianças, começam por dizer
que elas - embora já existindo no ventre das mães - se esta quiser, podem não
ver o sol do dia, um facto que no Mundo Ocidental se tem alargado, a pontos de
não haver natalidade que garanta o rodar das gerações, não só pela legalização
do aborto que a esquerda política, fez aprovar e que, - fala tanto da defesa dos trabalhadores
sem cuidar que os futuros que podiam e deviam nascer os mata sem dó e piedade com uma lei iníqua - e uma sociedade que se virou para
a economia do lucro fácil - e rápido - e que está matando o desejo dos que
querem ter filhos e não podem.
Relata-se, hoje, (Lusa/Sol) que os portugueses estão a adiar o
nascimento do primeiro filho, principalmente por razões económicas,
aproximando-se assim do perfil dos restantes europeus do sul, (...) e que
deixar a decisão de ser mãe e pai para mais tarde resulta de um conjunto de razões,
mas, para a especialista, "a insegurança financeira é a questão central em
jogo", relacionando-se com a precariedade económica e as dificuldades
ligadas ao custo de educação dos filhos.(...) acrescentando-se a tudo isto o
facto de muitas vezes, o adiamento acaba por ser definitivo, pois com o avançar
da idade, os portugueses podem não conseguir concretizar o sonho de ter filhos,
ao deparar-se com a infertilidade.
Por onde andam disfarçados os Herodes do nosso tempo?
Os
que, "legalmente" matam as crianças e por defeitos de uma economia
criminosa, "matam" nos homens e mulheres que queriam ter filhos a
possibilidade de os ter, quando se sabe que muito melhores que os
adultos-Herodes, são as crianças, no dizer de Fernando Pessoa e que é preciso
meter no Inferno como diz Miguel Torga o tal das tranças, que hoje dá pelo nome de
Economia e, paulatinamente, está a afundar a velha Europa - Mãe de Pátrias -
que descuidadamente está a abrir o coval das mesmas, deixando entrar de roldão os que não
matam os filhos e criam condições deles verem a luz do dia, porque eles sabem o
que nós desaprendemos: que o melhor do mundo são as crianças.
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