Adaptação livre de um conto de autor desconhecido
Diz um conto
indiano que havia um carregador de água que todos os dias transportava nas duas
pontas da vara que atravessava ao ombro, dois potes de barro para transporte de
água destinada à casa de um rico marajá, situada no alto de um monte.
Um dos potes
tinha uma racha e o outro era perfeito.
Este chegava sempre cheio no final do
longo caminho que ia do poço até à casa do patrão, mas o pote rachado chegava
apenas com metade da água.
Aconteceu isto
durante dois anos.
Nesse período
de tempo, o pote que chegava inteiro inchava de orgulho por fazer um trabalho
perfeito, enquanto o pote rachado se envergonhava do seu fraco préstimo,
cumprindo, apenas, metade da tarefa que lhe era pedida.
Um dia, à
beira do poço, disse ao carregador de água:
- Sinto que
sou uma amarga desilusão. Quero pedir-te desculpa do meu desempenho, porque a
minha racha faz que a água se vá perdendo ao longo do caminho... e, por causa
do meu defeito, tu fazes o teu trabalho e não ganhas o teu salário por inteiro.
- Muito bem,
meu velho pote. Estás desculpado... mas, hoje, quando subirmos o caminho para
casa do marajá, quero que repares nas flores que existem no teu lado, à beira
do caminho.
O carregador
começou a subir a ladeira e o pote rachado pela primeira vez viu a quantidade
de flores selvagens que enchiam a orla do caminho.
Mas sem lhes
dar importância, depois da carregador ter deixado a água na casa do patrão,
insistiu no seu pedido de desculpa.
Foi, então,
que ouviu o seguinte:
- Reparaste,
meu querido pote rachado que as flores que viste ao longo do caminho só
existiam do teu lado...
- É verdade...
– respondeu o pote, intrigado – mas que tem isso a ver comigo?
- Tem muito. É
que, durante este tempo todo ao passo que subimos tu vais regando a beira do
caminho e da frescura que dás é que têm nascido as flores que tu viste...
repara que do lado do outro pote não há flores!
- Não
entendo... mas tu não recebes, apenas,
metade da água que eu transporto?
- Não,
responde o carregador. Como levo ao marajá as flores que a tua água vai
regando, ele retribui a minha atenção, pagando-me por inteiro aquilo de que
julgas me dás apenas metade.
Nota: O texto altera profundamente a
descrição original, mas mantém intacto o seu sentido, porque na sua
profundidade o que ele nos quer transmitir é que os homens, importantes ou
menos importantes, todos têm na vida uma missão a cumprir e esta necessita
tanto dos grandes feitos como dos mais simples e, até, ignorados.
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