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sexta-feira, 24 de maio de 2013

Quero viver a minha vida




Quero viver a minha vida. Sim; mas antes é necessário encontrar a nota exacta da tua personalidade. E não te enganes no tom, no ritmo, na medida. Pois deves confundir a tua nota com a dos demais que vieres a encontrar. E, por fim, pô-la concorde com aquela que escolheres para a divina harmonia que já existe dentro de ti.
Salvaneschi
In, Saber Amar
Salvaneschi (1886-1968) foi um pensador profundo e clarividente.
Neste pequeno trecho está representado todo um quadro onde o humano e o divino se confundem em notas de uma lira, que é posta ao alcance do homem e da mulher no encontro que é preciso fazer na vida, para dar a cada dia – e sobretudo ao dia que eles escolherem – a sinfonia necessária a uma vida a dois, numa alegria de que é preciso encher cada um dos cantos da vida.
Hodiernamente, está a acontecer algo que ao contrariar isto, está a gerar inquietações.
“Quero viver a minha vida!” – e o jovem sai de casa dos pais, sem ter condições sociais e humanas, mas apenas para satisfazer impulsos, que não raro, desaguam em frustrações e desenganos.
Tem, pois, todo o sentido a pergunta sobre a vida que o jovem quer viver. Mas qual? A exterior, que todos vêem, ou a interior, que talvez nem tu mesma conheces ainda?- pergunta Salvaneschi. O pensador católico tem toda a razão, porque a vida que o jovem quer viver quando se atira sem jeito para fora da casa dos pais, é quase sempre uma vida de aspectos exteriores, mal medidos e pesados em todos os seus aspectos, com fins mal fundados em prazeres falaciosos, como resposta a um destino – que entortou o verdadeiro – e o chama num apelo sem regras.
Antes que isso aconteça, é necessário encontrar a nota exacta em que vibra compassadamente o coração do jovem, não vá acontecer – como acontece, tantas vezes – que passe a soar a falso a nota que no início, parecia harmoniosa e deixa marcas numa vida apressada que não soube escolher o momento exacto em que a sua nota estava apta a escolher, entre muitas, a nota que se harmonizasse com a sua.
Atenção, pois, querido jovem: não te enganes no tom, no ritmo, na medida. Pois deves confundir a tua nota com a dos demais que vieres a encontrar, eis o que te diz a sabedoria de alguém que leva um passo já muito longo à frente do teu, na certeza que nesta confusão concertada de ti com os outros, é que um dia terás de fazer a escolha do teu caminho e não na confusão consentida do quero viver a minha vida, como se nesse passo encontrasses à primeira esquina a porta da felicidade. Atende a isto e reflecte.
A vida, crê, tem muitas portas falsas e há felicidades que escondem ratoeiras imprevisíveis para quem se lança à vida de braços abertos a prazeres danosos, cujas marcas ficam indeléveis para o resto da vida, porque não se respeitaram limites, mas expansões da alma e do corpo, num frenesim entontecido, álacre – é verdade – mas torpe na sua essência.
Perdoa, querido jovem, alguma dureza, que porventura possas sentir nestas palavras.
Mas, crê, é filha do respeito e do amor que me mereces..
E, depois, continua a ressoar em mim, aquele desejo de Salvaneschi, que é o meu e o de muitos pais e avós, como eu:
A tua vida precisa de estar concorde com aquela que escolheres para a divina harmonia que já existe dentro de ti.


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