5 – Parábola do Trigo e do Joio
ou da Boa Semente e da Cizânia
Sobre
o chamamento do homem à beleza da comunhão humana
Texto do
Evangelho de S. Mateus 13, 24-43
Propôs-lhes outra parábola, dizendo: O reino
dos céus é semelhante ao homem que semeou boa semente no seu campo; mas,
enquanto os homens dormiam, veio o inimigo dele, semeou joio no meio do trigo,
e retirou-se. Quando, porém, a erva cresceu e começou a espigar, então apareceu
também o joio. Chegaram, pois, os servos do proprietário, e disseram-lhe:
Senhor, não semeaste no teu campo boa semente? Donde, pois, vem o joio?
Respondeu-lhes: Algum inimigo é quem fez isso. E os servos lhe disseram:
Queres, pois, que vamos arrancá-lo? Ele, porém, disse: Não; para que, ao colher
o joio, não arranqueis com ele também o trigo. Deixai crescer ambos juntos até
a ceifa; e, por ocasião da ceifa, direi aos ceifeiros: Ajuntai primeiro o joio,
e atai-o em molhos para o queimar; o trigo, porém, recolhei-o no meu celeiro.
Do Antigo Testamento a palavra de Jó:
Se a minha
terra clamou contra mim, se juntos choraram os seus sulcos; se comi os seus
frutos sem pagar e fiz suspirar a alma dos seus cultivadores, nasça-me joio em
vez de trigo, e cizânia em lugar de cevada. (1)
Se no campo - a
minha terra - no dizer de Jó, para onde ele dirige o seu lamento, por uma
culpa qualquer que lhe fosse imputada e por via dela suspirassem os seus cultivadores, este admirável poeta
da Bíblia num acto de contrição pede a Deus que nasça nele joio em vez de trigo, numa tentativa de remediar a sua iniquidade,
assumindo contra ele mesmo uma atitude radical de castigo.
Jesus apresentou as coisas de um modo diferente.
Ele trazia o Amor de Deus para distribuir e de uma
forma especial por aqueles que o mundo afastava ou por acção deles mesmos
estavam colocados à margem.
Num mundo governado por homens com todas as suas
qualidades, mas onde não deixam de aflorar todos os seus defeitos, haverá
sempre o trigo misturado com o joio, ou seja os justos entre os pecadores.
A lição desta
parábola torna-se, deste modo, muito fácil de entender, sem nos espantar o
facto de o Reino de Deus não ser perfeito neste mundo, porque Ele mesmo assim o
quer até ao momento supremo da separação das águas.
Com efeito se por cada acção mal feita esta fosse
erradicada, arrancado pela raiz, ou seja eliminando de vez o prevaricador, este
mundo seria um inferno e não teria salvação. Deus que é Pai de todos os homens
não teve em mente ao criar o mundo em fazer dele um reino sem que nele
houvesse, como um direito, a oposição de alguns. Pelo contrário, estabeleceu-o
como um lugar de confronto, fazendo dele campo de experiências – duras, por
vezes – e de lutas acesas, tendo sempre na mira que os maus, prefigurados no
joio da parábola, são necessários aos bons.
Acabar com eles ficavam sem sentido as vitórias dos
que sendo o trigo no meio da seara, existem por vontade de Deus, para corrigir
os erros e malquerenças que fazem parte da natureza humana.
O dono do campo, é Deus.
O semeador, é Jesus, que espalha com abundância a
boa semente.
Porém, os servos do dono do campo não tinham
consciência disso. Duros de ouvido e de coração não O ouviam.
Não admira, portanto, que hajam perguntado ao
semeador: Senhor, não semeaste no teu
campo boa semente? Donde, pois, vem o joio?
Jesus, falando com a segurança que lhe dava o dom de
ser Ele mesmo o juiz supremo, respondeu-lhes: Algum inimigo é quem fez isso.
Jesus assume-se já não como um simples homem, mas
como Deus, que em Si era uno e trino.
Ele sabia que era assim que o Pai determinara.
Sabia que a semente do trigo haveria sempre florir
no meio do joio, que é uma planta mais rasteira, sendo por isso muito fácil a
separação nos tempos do Juízo e a recolha do trigo nos celeiros eternos.
A parábola representa a dicotomia dinâmica que
existe entre o bem e o mal.
Ensina ao mundo que quer reflectir sobre ela, que é
sempre de combater a pergunta maniqueísta que tiveram os ceifeiros
relativamente ao joio:
Queres, pois,
que vamos arrancá-lo?
Foi, como sabemos, prudente e, sobretudo, muito
sábia a resposta de Jesus, proibindo que fizessem aquela acção porque corriam o
risco de cortarem alguns pés de trigo.
Este comportamento ganha no nosso critério uma
evidência: é preciso julgar não em cima da refrega, mas deixar amadurecer o
tempo, pois se não agirmos assim corremos o risco de nos enganarmos, falível
como é o juízo humano.
O mundo actual não mudou.
Continua a ser o palco privilegiado onde convivem o
bem e o mal, o trigo e o joio.
Aqueles que não cedem a semear o mal na sociedade
estão por todos os lados onde as mais rudes e baixas situações morais degradam
os ambientes, com a particularidade de terem uma maior cobertura mediática,
seja nos jornais ou nos noticiários da rádio ou da televisão, porque o mal
cresce e aparece num mundo que parece estar virado ao contrário.
Mas é neste mesmo mundo que existem as sementes do
bem e é por elas que Deus ama todos: os maus e os bons, não cessando de cuidar
destes fazendo-lhes sentir os dons da fraternidade e da solidariedade que é
preciso manter vivas em ordem à concertação das coisas.
Continua a ter, por isso, todo o sentido esta
parábola no mundo actual porque o reino
dos céus é semelhante ao homem que semeou boa semente no seu campo; mas,
enquanto os homens dormiam, veio o inimigo dele, semeou joio no meio do trigo,
e retirou-se.
Mas é este inimigo
que faz o mal e se afasta que é preciso chamar à razão.
É o papel que cabe ao trigo no grande teatro do mundo.
(1) - Jo 31, 38-40
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