Quadro de Rembrandt (1630)
Museu das Belas Artes de Budapeste
8 –
Parábola do Tesouro Escondido
Sobre a
necessidade de deixar o supérfluo
e guardar o bem precioso que é a Palavra de
Deus
Texto do Evangelho de S. Mateus 13, 44
O reino dos
céus é semelhante a um tesouro escondido no campo; o homem que o encontrou,
esconde-o e, fora de si de alegria, vai, vende tudo o que tem e compra aquele
campo.
Do Antigo Testamento, Livro dos Provérbios:
Filho meu, se
aceitares as minhas palavras, e entesourares contigo os meus mandamentos, para
fazeres atento à sabedoria o teu ouvido, e para inclinares o teu coração ao
entendimento; sim, se clamares por discernimento, e por entendimento alçares a
tua voz; se o buscares como a prata e o procurares como a tesouros escondidos;
então entenderás o temor do Senhor, e acharás o conhecimento de Deus. (1)
A parábola do tesouro
escondido é pequena, mas tão profunda no seu ensinamento que prova quanto é
maravilhoso alcançar o Reino, comparando-o a um tesouro, que o é – e de tal
modo – que todo aquele que o alcança deixa tudo para o não perder.
Estamos a ouvir O Mestre.
Naquele tempo o direito judaico reconhecia como um
direito adquirido qualquer tesouro que o proprietário encontrasse escondido no
seu terreno. Por esse motivo, se qualquer trabalhador durante as tarefas
quotidianas do amanho das terras encontrava qualquer tesouro escondido, fazia
tudo para adquirir o campo.
Isto não é de modo algum uma ficção.
Na Palestina, as desordens e as guerras impuseram a
alguns homens fugas tão apressadas que estes enterravam os bens que não podiam
ou não deviam levar, na esperança de um dia os virem a reencontrar. Aconteceu
que muitos dos foragidos nunca mais voltaram, tendo os campos mudado de dono e
passado para aqueles que não tinham conhecimento destes factos.
No património comum da sabedoria popular registado
no Livro dos Provérbios, a propósito de ser acolhida a palavra sábia, diz-se: se a procurares como a prata e a
desenterrares como os tesouros(...) (2) donde, se conclui que a prática do tesouro enterrado era um costume comum.
Jesus, conhecedor desta realidade, serviu-se de uma
comparação que ia beber directamente no hábito costumado dos seus conterrâneos
onde estava bem patente o amor destes pelas coisas terrenas, hábito que de todo
não está erradicado do comportamento humano.
Qual o porquê deste procedimento?
Muito simplesmente, porque a natureza do homem o que
procura ao adquirir um tesouro é a conquista da felicidade terrena, em primeiro
lugar, acontecendo, muitas vezes, que tendo-se ficado prisioneiro da riqueza,
tudo o resto deixa de interessar, ou seja, o bem maior que é a riqueza do Céu
passa para um lugar secundário e aqui entra a sabedoria antiga que vinha desde
o tempo do Livro dos Provérbios, esse património comum da sabedoria popular que
já chamava a atenção para a necessidade de inclinar o coração ao entendimento e então
entenderás o temor do Senhor, e acharás o conhecimento de Deus, como um bem
precioso.
É por esse motivo que Jesus compara o Reino dos Céus
semelhante a um tesouro escondido no
campo, devendo todo aquele que tem a felicidade de o achar, fazer deste bem
a prioridade entre todos os bens que a vida lhe possa dar.
Deste modo, tal como o felizardo descobridor do
tesouro enterrado na terra se o quiser adquirir não pode deixar de entrar na
posse do campo onde ele está escondido, assim todo aquele que quiser entrar de
posse das riquezas evangélicas, precisa como condição fundamental entrar dentro
da Mensagem de Jesus, um tesouro que estava escondido antes d’Ele aparecer no
meio do homens.
Jesus nesta breve parábola não deixa, no entanto, de
tecer um acção que é em todos os casos necessária ao homem para conseguir
alcançar o que pretende.
Referindo-se ao descobridor do tesouro, Jesus, diz: fora de si de alegria, vai, vende tudo o que
tem e compra aquele campo.
É aqui que reside o ensinamento vital que está
implícito na comparação que é feita para ilustrar a alegoria que foi
apresentada.
Compete ao homem agir depressa e bem.
Vender tudo, ou seja, deixar tudo aquilo que o torna
escravo da conquista de bens – especialmente de todos aqueles que se tornam
supérfluos e o não deixam ver claro os bens que hão-de salvar a sua alma – e
entrar, definitivamente de posse da grande riqueza que Jesus passou a oferecer
a todos os homens desde o momento da sua pregação sobre o Reino dos Céus.
Esta é a primeira das parábolas sobre a natureza
desse Reino sobrenatural.
(1) - Prov
2, 1-5
(2) - Prov 2, 4
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