in, Livro "O Drama de Jesus"
4 –
Parábola do Semeador
Sobre
as sementes de ouro que são as Palavras de Deus
Texto do Evangelho de S. Lucas 8,
4-15
(concordâncias em: Mt 13, 1-9.
18-23 e Mc 4, 3-20)
Como estivesse reunida uma grande multidão e
de todas as cidades viessem ter com Ele, disse esta parábola:
"O semeador saiu para semear a sua
semente. Enquanto semeava, uma parte caiu à beira do caminho; foi pisada e os
passarinhos foram, e comeram tudo.
Outra parte caiu sobre pedras; brotou e
secou, porque não havia humidade.
Outra parte caiu no meio de espinhos; os
espinhos brotaram junto, e a sufocaram.
Outra parte caiu em terra boa; brotou e deu
fruto, cem por um." Dizendo isso, Jesus exclamou: "Quem tem ouvidos
para ouvir, ouça."
Do
antigo Testamento a palavra de Isaías:
Porque, assim
como a chuva e a neve descem dos céus e para lá não tornam, mas regam a terra,
e a fazem produzir e brotar, para que dê semente ao semeador e pão ao que come,
assim será da palavra que sair da minha boca: não voltará a mim vazia. (1)
Com a parábola do semeador Jesus inicia aquilo
que ficou conhecido como O Sermão em
Parábolas, no Cap. 13, de S. Mateus, onde se perfilam, a começar por esta,
a parábola do trigo e do joio, do grão de mostarda, do fermento, do tesouro escondido, da pérola
preciosa a da rede, com a
particularidade de estar contida na conclusão deste capítulo a parábola do pai de família ou do senhor de casa virtuoso.
O evangelista
refere tudo isto com pena de Mestre.
Afirma que os
discípulos surpreendidos com aquilo que ouviam, de imediato, perguntaram a
Jesus o significado de tão inusitada maneira de falar a que eles mesmos, ainda
se não tinham afeiçoado.
Jesus
respondeu assim:
"A vocês foi dado conhecer os mistérios
do Reino de Deus. Mas, aos outros ele vem por meio de parábolas, para que
olhando não vejam, e ouvindo não compreendam."
"A parábola quer dizer o seguinte: a
semente é a Palavra de Deus.
Os que estão à beira do caminho são aqueles
que ouviram; mas, depois chega o diabo, e tira a Palavra do coração deles, para
que não acreditem, nem se salvem.
Os que caíram sobre a pedra são aqueles que,
ouvindo, acolheram com alegria a Palavra. Mas eles não têm raiz: por um
momento, acreditam; mas na hora da tentação voltam atrás.
O que caiu entre os espinhos são aqueles que
ouvem, mas, continuando a caminhar, se afogam nas preocupações, na riqueza e
nos prazeres da vida, e não chegam a amadurecer.
O que caiu em terra boa são aqueles que,
ouvindo de coração bom e generoso, conservam a Palavra, e dão fruto na
perseverança."
A parábola do semeador é das mais representativas da
pregação de Jesus.
É a chave que
nos abre o entendimento para outros ensinamentos, como o de passarmos a saber
algo sobre o Reino do Céu quando Ele diz de forma categórica: o semeador saiu para semear a sua semente, sendo
este operário do campo, Ele mesmo, de bornal ao ombro apinhado de sementes para
colocar na terra, umas para produzir fruto e outras, nenhum, tudo dependendo da
terra onde viesse a cair a semente, configurando esta a Palavra de Deus.
Conta S. Lucas
que naquele dia estava reunida uma grande multidão, um facto precioso para
Jesus contar esta parábola que acabou por ser devidamente explicada a pedido
dos discípulos, apanhando de surpresa todos os presentes – onde, naturalmente
havia escribas e fariseus para apontar defeitos - e, outros, menos atentos,
como sempre acontecia, escutando e mesmo concordando mas sem darem juízos
conclusivos de quem tinha entendido tudo o que fora dito.
Jesus foi um
mestre na explicação que deu.
Dirige-se em
primeiro lugar a todos os que estavam ali a ouvi-l’O de coração aberto: Os que estão à beira do caminho são aqueles
que ouviram; mas, depois chega o diabo, e tira a Palavra do coração deles, para
que não acreditem, nem se salvem, para na mesma frase se dirigir àqueles
que estavam presentes sem desejo de ouvir, mas de maldizer.
Explicitamente,
esta parábola tem três componentes fundamentais: o semeador, a semente e o
solo.
O semeador – e
podemos dizer que era Ele mesmo - tem muita prática em deitar a semente na
terra e esta é francamente boa, porque as Palavras que dizia eram de primeira
qualidade.
Eram sementes
de oiro que Ele trazia da parte de Deus.
Outro tanto
não se pode dizer do solo que na Palestina era feito de pequenas parcelas de
terreno, estreitas e até pedregosas. Isto era sabido e Jesus não deixou escapar
este pormenor, para deixar vincada a comparação de ser assim, igualmente, o solo humano, porque o coração deste povo tornou-se duro e duros também os seus
ouvidos (2), como refere o Evangelho de S. Mateus,
citando o Mestre, precisamente quando expõe esta parábola.
A semente era
a melhor que havia. Configurava a Palavra de Deus.
O Semeador
obtivera o aproveitamento máximo na Escola de Deus e sabendo muito bem do seu
ofício, havia dado conta que muitos daqueles que passavam à beira do caminho haviam tomado conhecimento da semente – Palavra
de Deus – mas fracos que eram, deixaram que ela se perdesse.
Dera,
igualmente conta, que tinha havido outras sementes caídas sobre a rocha e que haviam sido recebidas alegremente por muitos
que naquele momento acreditaram que tudo ia mudar na sua vida, mas vítimas das
fraquezas humanas que sempre acontecem e, sobretudo, porque se não estavam bastante
arraigadas – por falta de raiz – deram em vacilar e foram vítimas de si mesmos
na primeira descaída.
Houve, outras,
que pesasse, embora a Sabedoria do Semeador caíram em terreno que jamais fora
tido como propício, mas aconteceu. Caíram nos espinheiros, deixando no entanto
perceber que apesar daquele terreno agreste iriam frutificar, se não houvesse
acontecido o demónio das riquezas que deitou tudo a perder, não chegando sequer
à floração, afeitos como estavam às suas mordomias que de modo nenhum queriam
perder.
Finalmente,
Jesus, o excelso Semeador, não deixou de apontar aquelas sementes que se
tornaram verdadeiras Palavras do Pai e que tendo aberto o coração, tendo-o bem
enraízado nos terrenos salubres, deram fruto abundante.
É isto que
Jesus espera dos homens.
De todos, sem
excepção.
Sermos
sementes, isto é, Palavras de Deus que O Semeador há-de lançar em todos os
campos do mundo.
(1) - Is 55, 10-11
(2) - Mt – 13, 15
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