Senhor Jesus:
Os sinedriras, finalmente, haviam ganho o
processo que te haviam movido.
Flagelado e coroado de espinhos, Pilatos,
o zeloso procurador romano
ao olhar o Teu aspecto humanamente
desfigurado, mas divinamente composto,
apesar do ceptro de escárnio que a
soldadesca havia posto nas Tuas mãos,
ainda tentou demover o povo amotinado,
dizendo-lhe uma última vez:
- Trago-vo-lo
aqui, para que saibais que não encontro n’Ele delito nenhum. (1)
Mas... nada havia a fazer. O Teu povo
condenara-Te...
não Te prdoou que houvesses dito:
- O meu reino não é deste mundo. (2)
Não percebendo, de que Reino falavas...
Parece, até, Senhor, que o único que
percebeu o alcance destas Tuas palavras
foi, precisamente, o estrangeiro... o inqusidor
Pôncio Pilatos, que num dado momento
te fez esta pergunta enigmática:
- Donde és?
Como se naquele momento
tivesse uma dúvida, se não serias realmente Filho de Deus,
embora, soubesse que Tu eras natural da
Galileia, onde ficava a tua longínqua Nazaré.
Estavas, efectivamente, perdido.
- Crucifica-o...
Era o grito ululante daquela turbamulta e
o procuradoer entregou-Te nas mãos impiedisas daqueles que haviam jurado a Tua
morte.
Foi tudo muito rápido. Tinham muita
pressa em se desfazer de Ti - pensavam eles.
Célere, o verdugo apresentou-Te o madeiro
vertical da Cruz
e o centurião reuniu os homens do
costume, para manter mais que nunca, em ordem
o mar de gente que não deixaria de estar
presente ao longo do caminho.
Era, então, meio-dia.
Dobrado sob o peso do madeiro, saíste da
torre Antónia, onde se reunira o tribunal
e iniciaste a marcha pelas ruas mais
concorridas das cidade. Foi mais uma humilhação
a que os teus algozes Te condenaram,
sabendo que naqueles dias
haviam chegado a Jerusalém, cumprindo a
tradição do costume,
para além dos peregrinos, gentes de toda
a parte. Entre eles, mercadores e
cameleiros
- todos
pessoas importantes -
enquanto Tu, o mais importante de todos
eles,
caminhavas a custo sobre as lajes do
caminho,
e eras causa de troça e das risadas
daqueles que se acotovelavam entre portas
e se dependuravam nas janelas, lançando
com maus modos injúrias e blasfémias
contra Ti... que eras Rei e arrastavas
uma coroa de espinhos que quase tocava o chão.
Soara, com efeito, a hora do Teu supremo
sacrifício.
Levaste, Senhor, a Cruz pesada de todos
os pecados do mundo
num silêncio comovente,
como se este facto constituisse a
aceitação de culpas que não tinhas.
Olha, Senhor:
Se é duro termos de carregar a nossa
própria cruz,
pior que isso, é termos de carregar a
culpa alheia
tal como Tu fizeste, levando até ao
extremo a Tua compaixão
sem uma queixa e sem um grito de revolta.
Peço-Te, Senhor:
quando o peso da minha cruz
exigir de mim um redobrado esforço,
ajuda-me a ter a Tua força... ajuda-me a ser
como Tu foste.
Ajuda-me a ter presença de espírito... a
ter, sobretudo o Teu silêncio.
E ajuda-me, Senhor, a não atirar pedras
contra todos aqueles
que tornavam o meu fardo mais pesado.
Peço-te, Senhor, que me ajudes a recitar
a bela Oração do silêncio,
porque - eu sei - que é por aí que se
encontram os marcos ao longo do caminho
que vai direito até ao pé da Tua Cruz.
E, onde, finalmente... e só, aí,
é que se encontra a verdadeira redenção,
como se fosse a aurora de um dia novo,
com outro sol,
com outra luz.
(1) - Jo. 19, 4
(2) - Jo. 18, 36
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