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quinta-feira, 2 de outubro de 2014

Em Outubro, uma carta para Nossa Senhora!


in, "O Astrolábio"
nº 26 de 21 de Setembro de 2014



Senhora: tu sabes como tudo aconteceu...
Foi, há muitos anos, no Egipto, após a fartura dos sete anos predita por José,
o que lhe merecera a atenção do faraó que o havia imposto como "Safnat-paaneh",
ou seja: o pai do povo... o doador da vida.
O Intendente José, porém, veio a ter sobre si mesmo, uma responsabilidade tremenda:
- o faraó, temendo uma revolta por via da falta de trigo que se sentia
disse ao povo esta coisa singular: Ide a José e fazei o que ele vos disser.
Passaram os tempos. Séculos dobraram outros séculos... e mais outros...
até que um dia - Tu, Senhora, estavas lá - foi em Caná da Galileia.

Como sempre atenta às misérias, muito antes que nascesse a revolta nos convivas,
porque, decorridos alguns dias, faltara o vinho naquela festa de casamento...
 - uma desonra - segundo os costumes do tempo! -
Apontaste aos criados que serviam às mesas a figura do Teu Filho: Jesus.
E, mesmo, sabendo que Ele tinha mais poder que o Intendente do velho faraó,
disseste as mesmas palavras já usadas por aquele: fazei o que ele vos disser.
Diz a Escritura, que no Egipto, embora em tempo magro, José encheu de trigo
todas as gentes...
e, diz a mesma Escritura, que o Teu Filho, Jesus, da água das fontes de Caná
encheu os convidados de um vinho  de marca... talvez do Monte Carmelo.
A vinha de Deus... e, tudo, sob o influxo da graça das mesmas palavras:

- Fazei o que Ele vos disser.

Olha, Senhora, Tu que existes desde o princípio dos tempos nos planos de Deus,
certamente, inspiraste ao faraó as tais palavras, que um dia pelo poder da Tua boca
soaram em Caná da Galileia... como uma música antiga e sempre nova.
No Egipto, foi uma fartura de trigo... em Caná, uma fartura de vinho, nas talhas vazias!
Permite, pois, Senhora, que Te peça, hoje, as mesmas palavras
para os povos de todo o mundo, onde existe, embora com fartura de pão e vinho
que são alimentos do corpo e necessários à vida,
a falta de outro trigo e de outro vinho... enquanto alimentos divinos,
igualmente necessários à vida plena a que todos nós fomos chamados.
Manda, Senhora - amanhã! - todos os homens a Jesus e diz-lhes a velha fórmula:

- Fazei o que Ele vos disser.

Por mim, podes crer, aceito o desafio... e posso falar por muitos dos meus irmãos,
com a mágoa que temos de carregarmos com um grave problema
que é comum a tantos de nós... coisas vãs do nosso mundo entontecido!
Andamos, é certo, com a falta do tal trigo e do tal vinho.
Mas estamos fartos de tudo. É esse o problema. Temos automóveis de luxo,
casas de campo e de praia. Temos jóias caras, roupas de etiquetas... tantas coisas!
Eu sei lá, Senhora, o que nós temos!...
O problema é, pois, complicado... temos até, vinhos aromáticos, de rótulos finos,
e, embora sabendo que nos falta o tal vinho que tem a marca de Jesus,
tenho receio de não virmos a fazer o que Ele nos disser!...

Mas, peço-te, Senhora...  tenta uma vez mais!
Manda-nos a todos... manda este pobre mundo até Jesus... quem sabe, Senhora:
-Talvez cansados de  termos tantas coisas... e, tantas delas, inúteis,
bebamos de um só trago o vinho que Ele nos der... e façamos a Sua vontade.
Tem piedade de nós, Senhora!
Somos um mundo de pobres... de indigentes da Tua graça... da graça do Teu Filho...
e andamos - tantos de nós - a fingir de ricos... quando nos falta o essencial:

- o trigo de José, que é um pão sadio que muitos de nós deixámos de comer!...
- o vinho de Jesus, que muitos de nós deixámos de beber!...

Vê, Senhora, como somos pobres... como temos fome e temos sede!


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