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terça-feira, 7 de outubro de 2014

A força da Natureza!




É, olhando esta força, que eu acredito na Força Maior
que, ao invés dela, que vive escondida, 
e só de vez em quando é que se deixa ver
como causa e anúncio do Criador, que desde a aurora do primeiro tempo, 
vive às claras para todos os homens, 
que apesar da Sua profundeza, têm a graça de O sentir vivo,
dentro de si mesmos!

É, pois, olhando-me a mim mesmo, na minha profunda insignificância, que encontrei muito velhinho, mas limpo e nada amarrotado na "gaveta" do espírito, com uma prosa de Antero de Quental, devidamente guardada na gaveta física da minha escrivaninha, onde ele, na altura, estudante de Coimbra - logo, muito longe do tempo das "Conferências do Casino" - diz, esta coisa que merece a pena ler e meditar.


O Homem é um Deus que se Ignora Dentro do homem existe um Deus desconhecido: não sei qual, mas existe - dizia Sócrates soletrando com os olhos da razão, à luz serena do céu da Grécia, o problema do destino humano. E Cristo com os olhos da fé lia no horizonte anuveado das visões do profeta esta outra palavra de consolação - dentro do homem está o reino dos céus. Profundo, altíssimo, acordo de dois génios tão distantes pela pátria, pela raça, pela tradição, por todos os abismos que uma fatalidade misteriosa cavou entre os irmãos infelizes, violentamente separados, duma mesma família! Dos dois pólos extremos da história antiga, através dos mares insondáveis, através dos tempos tenebrosos, o génio luminoso e humano das raças índicas e o génio sombrio, mas profundo, dos povos semíticos se enviam, como primeiro mas firme penhor da futura unidade, esta saudação fraternal, palavra de vida que o mundo esperava na angústia do seu caos - o homem é um Deus que se ignora.
Antero de Quental, in 'Prosas da Época de Coimbra'


Eis, porque, ao olhar para a imagem do vulcão que deixa intacto o seu aspecto exterior como se fosse a massa de um qualquer monte, mas contendo dentro aquela fornalha, dou comigo a pensar e a agradecer a minha crença na tal Força Maior e, apesar da minha pequenez, sentir que dentro de mim - como de qualquer outro homem - vive o Deus ignorado de que falou o velho filósofo de Atenas e do qual Antero de Quental não deixou de o admitir dentro de si mesmo, mesmo quando os tempos "proudhonianos" já haviam tomado posse da sua filosofia.


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