Parábola do Pastor

                                                            in, Canção Nova

 

3 - PARÁBOLA DO PASTOR

Sobre as ovelhas perdidas que era preciso encontrar

Texto do Evangelho de S. João (10, 26-28)

Mas vós não credes, porque não sois das minhas ovelhas. As minhas ovelhas ouvem a minha voz, e eu as conheço, e elas me seguem; eu lhes dou a vida eterna, e jamais perecerão; e ninguém as arrebatará da minha mão.

Do Antigo Testamento a palavra de Coelet:

As palavras dos sábios são como aguilhões; e como pregos bem fixados são as palavras coligidas dos mestres, as quais foram dadas pelo único pastor. (1)

Fala o Eclesiastes em máximas de vida que a tradição atribui a um mestre que se esconde sob o nome de Coelet (2) cuja fé inabalável em Deus lhe dá a certeza do Seu domínio sobre o Universo e com profunda implicações na sociedade humana.

 Jesus é o Pastor.

Os modos eram os de um Mestre dizendo para quem O ouvia Palavras como aguilhões e como pregos bem fixados, porque eram inspiradas pelo Pai que O enviara como único Pastor.

Por aquele tempo celebrava-se em Jerusalém a festa da Dedicação, instituída no ano 164 a. C. por Judas Macabeu, tendo como motivo a purificação do Templo, após a profanação operada por Antíoco Epífanes.(3)

E sucedeu que a purificação do Templo se deu no mesmo dia e mês em que fora profanado pelos gentios, isto é, no dia vinte e cinco de Casleu. (4), que recaía em Novembro/Dezembro.

Daí que o evangelista S. João nos diga que se estava na estação invernosa, apresentado-nos Jesus a passear no Templo, sob o pórtico de Salomão, situado no lado oriental do átrio dos gentios e fronteiriço ao vale do Cedron, atapetado de túmulos judeus.

Era o resto de um antigo templo de Salomão, donde lhe vinha o nome.

Foi o momento azado para os judeus desconfiados e incrédulos lhe perguntarem: Até quando terás a nossa alma suspensa? Se Tu és o Cristo, dize-no-lo abertamente.(5)

Jesus sabia que aqueles homens nunca seriam do seu rebanho.

Deus por seu intermédio havia-os chamado, mas eles, antecipadamente, decidiram não crer. Esse o motivo bem conhecido de Jesus de não terem as disposições puras das ovelhas que O ouviam e seguiam.

Ele era o Pastor e conhecia todas as suas ovelhas.

Aqueles que O interrogavam, faziam-no com intenções escondidas e calculadas, fazendo parte do ardil em que O queriam apanhar.

Falou, então a autoridade do Pastor em resposta à pergunta capciosa que lhe fora feita: Já vo-lo disse e não me credes; as obras que faço em nome de meu Pai testemunham a meu favor. Mas vós não credes, porque não sois das minhas ovelhas. As minhas ovelhas ouvem a minha voz, e eu as conheço, e elas me seguem; eu lhes dou a vida eterna, e jamais perecerão; e ninguém as arrebatará da minha mão.(6)

E, depois, rematou com estas palavras difíceis de aceitar por aqueles maus ouvintes: Eu e o Pai somos um.

Conta S. João que não tendo compreendido nada da resposta, feita no âmbito da parábola do Bom Pastor, os perguntadores pegaram em pedras para apedrejar Jesus.

Hoje, a cena repete-se com outras pedras.

E no entanto é neste Mistério da unidade perfeita entre o Pai e o Filho, como conclui Jesus neste passo em que o Pastor se assume com a mesma natureza do Pai que está resumida toda a Verdade fundamental da teologia cristã que não cessará até ao fim dos tempos de chamar para o mesmo redil todas as ovelhas dispersas.

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(1) - Ecl – 12, 11

(2) - Coelet é um nome literário ou académico. Não é um nome próprio. Em 1, 1 o autor diz que é “filho de Davi, rei de Jerusalém”, tendo-se acreditado ser o próprio Salomão, sucessor de Davi no reino de Israel. Mais modernamente, julga-se tratar-se de um rabi que terá vivido entre o III e II século a. C.

(3) - Antíoco Epifânio (IV) foi o segundo filho de Antíoco III, rei da Síria. Reinou de 175 a 164. Pretendeu helenizar toda a Palestina, tendo usado nesse propósito meuis violentos, o que provocou uma enorme reacção por parte dos judeus. Era seu intuito unificar a teligião e reformar os costumes, paganizando-os. Nesse intuito fez colocar no teeplo uma estátua de Júpiter, no ano 168 á. C. Fez publicar um decreto que condenava â morte todos os que se obstimasem na prática do judaísmo. Contre ele reagiu, passivamente, Hassidim. Outros como Matatias, de 167 a 166, organizaram resistência armada onde sobrasaíu o seu filho Judas Macabeu. Em represália, Antíoco saqueou o templo, demoliu as muralhas de Jerusalém, proibiu a circuncisão e mandou destruir os livros sagrados. Na luta pereceu Eleazar, sua mulher e os sete filhos, preferindo a morte ao ultraje de profanar a Lei. Antíoco veio a morrer na Pérsia, logo no começo da revolta do povo hebreu.

)4) - 2 Mac 10, 5

(5) - Jo 10, 24-25

(6) - Jo 10, 25-28