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segunda-feira, 27 de outubro de 2014

Parábola da Rede




Quadro de Jan Luyken na Bíblia de Bowyer


10 – Parábola da Rede

Sobre a liberdade do homem de conhecer, ou não,
a Verdade, e das contas que dará a Deus


Texto do Evangelho de S. Mateus 13, 47-50

Igualmente, o reino dos céus é semelhante a uma rede lançada ao mar, e que apanhou toda espécie de peixes. E, quando cheia, puxaram-na para a praia; e, sentando-se, puseram os bons em cestos; os ruins, porém, lançaram fora. Assim será no fim do mundo: sairão os anjos, e separarão os maus dentre os justos, e lançá-los-ão na fornalha de fogo; ali haverá choro e ranger de dentes.



Com esta parábola encerra-se o tríduo dedicado à explicação da natureza do Reino do Céu, começado com as duas anteriores: a parábola do Tesouro Escondido e a da Pérola 
Preciosa, fazendo dela a chave importantes com que Jesus quis fechar nos corações dos apóstolos o ensino explicativo da sua missão messiânica.

Mais uma vez a faina piscatória do mar de Tiberíades e a sua realidade entra no ensinamento de Jesus, deixando bem claro aos seus ouvintes e especialmente aos seus discípulos a obra que lhes pedia e que como acção fundamental – sendo eles pescadores de homens – o dever de lançarem as redes sem olhar à qualidade do peixe pescado, pois só no juízo final, seria feita a escolha.
É a última das sete parábolas a que Jesus recorreu junto ao mar de Tiberíades e registada por S. Mateus.

É, pelo contexto, uma parábola intrigante, cheia de sombras escuras.
E se nela existe como que um novo olhar sobre a parábola do trigo e do joio, a diferença não está só em ser mais breve mas ser mais radical quanto ao julgamento.
Constitui uma lição fundamental da doutrina que Jesus que de modo algum podia deixar sem acentuar uma da condições da Humanidade: que no mundo que hão-de continuar a existir os bons e os maus, uns perfeitamente visíveis e, outros, como neste caso, ocultos como acontece com os ruins peixes do mar, mas sobre os quais nunca deixará de estar presente a misericórdia de Deus, dando-lhes tempo de se regenerarem, ou ao invés, serem lançados fora e onde haverá choro e ranger de dentes.
É, de algum modo, um radicalismo que Jesus não omite.
Pai da Verdade não deixou jamais de falar às direitas.

Os homens – nos seus julgamentos, quantas vezes, primários - podem afastar de si aqueles de que não gostam e lançá-los fora como peixes ruins como fizeram os pescadores da parábola, mas é a Deus que espera sempre pela hora da conversão que pertence a derradeira Palavra.
Ele é O Juiz da hora final e como afirma S. Pedro: 

Ora pois, já que Cristo padeceu na carne, armai-vos também vós deste mesmo pensamento; porque aquele que padeceu na carne rompeu com o pecado; a fim de viver durante o tempo que lhe resta de vida na carne, não mais segundo as paixões humanas mas segundo a vontade de Deus. Porque é bastante que no tempo passado tenhais cumprido a vontade dos gentios, andando em dissoluções, concupiscências, borrachices, glutonarias, bebedices abomináveis idolatrias. Eles estranham agora que não os acompanheis nos mesmos desregramentos de libertinagem e, por isso, vos cobrem de calúnias. Mas prestarão contas Àquele que está pronto para julgar os vivos e os mortos. (1)

A nós compete lançar a rede e pescar todos os peixes.
E não julgar, sobretudo, de ânimo leve.
Só Deus é que porá a luz final sobre todas as coisas, pondo a claro o que andou envolto em trevas, porque deu a todos os homens a possibilidade de O conhecerem.
S. Paulo, um dia, ao falar ao povo de Corinto foi bem claro neste aspecto:
Graça e paz vos sejam dadas da parte de Deu, nosso Pai, e do Senhor Jesus Cristo. Sempre dou graças a Deus por vós, pela graça de Deus que vos foi dada em Cristo Jesus; porque em tudo fostes enriquecidos nele, em toda a palavra e em todo o conhecimento. (2)
Na sua plena liberdade o homem recusa ou pode ser dono de todo o conhecimento, sem esquecer aquele de que falou S. Paulo, sabendo-se, e todo o homem sensato não pode deixar de ter isto em consideração, que é só por meio dele que pode ser escolhido o melhor dos caminhos que apontam para Deus.

Assim o que a parábola da rede nos diz é que o reino dos céus é semelhante a uma rede lançada ao mar, e que apanhou toda espécie de peixes que andaram por bons e maus caminhos, advertindo, no entanto para a diferenciação que há-de existir entre eles no julgamento final.
Sobre isto não deixa saída.





(1) - 1 Pd 4, 1-5
(2) - 1 Cor 1, 3-5

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