Quadro de Jan Luyken na Bíblia de Bowyer
10 –
Parábola da Rede
Sobre a liberdade do homem de conhecer, ou não,
a Verdade, e
das contas que dará a Deus
Texto do Evangelho de S. Mateus 13, 47-50
Igualmente, o
reino dos céus é semelhante a uma rede lançada ao mar, e que apanhou toda
espécie de peixes. E, quando cheia, puxaram-na para a praia; e, sentando-se,
puseram os bons em cestos; os ruins, porém, lançaram fora. Assim será no fim do
mundo: sairão os anjos, e separarão os maus dentre os justos, e lançá-los-ão na
fornalha de fogo; ali haverá choro e ranger de dentes.
Com esta parábola encerra-se o tríduo dedicado à
explicação da natureza do Reino do Céu, começado com as duas anteriores: a parábola
do Tesouro Escondido e a da Pérola
Preciosa, fazendo dela a chave
importantes com que Jesus quis fechar nos corações dos apóstolos o ensino explicativo
da sua missão messiânica.
Mais uma vez a faina piscatória do mar de Tiberíades
e a sua realidade entra no ensinamento de Jesus, deixando bem claro aos seus
ouvintes e especialmente aos seus discípulos a obra que lhes pedia e que como
acção fundamental – sendo eles pescadores de homens – o dever de lançarem as
redes sem olhar à qualidade do peixe
pescado, pois só no juízo final, seria feita a escolha.
É a última das sete parábolas a que Jesus recorreu
junto ao mar de Tiberíades e registada por S. Mateus.
É, pelo contexto, uma parábola intrigante, cheia de
sombras escuras.
E se nela existe como que um novo olhar sobre a
parábola do trigo e do joio, a diferença não está só em ser mais breve mas ser
mais radical quanto ao julgamento.
Constitui uma lição fundamental da doutrina que
Jesus que de modo algum podia deixar sem acentuar uma da condições da
Humanidade: que no mundo que hão-de continuar a existir os bons e os maus, uns
perfeitamente visíveis e, outros, como neste caso, ocultos como acontece com os
ruins peixes do mar, mas sobre os
quais nunca deixará de estar presente a misericórdia de Deus, dando-lhes tempo
de se regenerarem, ou ao invés, serem lançados fora e onde haverá choro e ranger de dentes.
É, de algum modo, um radicalismo que Jesus não
omite.
Pai da Verdade não deixou jamais de falar às
direitas.
Os homens – nos seus julgamentos, quantas vezes,
primários - podem afastar de si aqueles de que não gostam e lançá-los fora como
peixes ruins como fizeram os
pescadores da parábola, mas é a Deus que espera sempre pela hora da conversão
que pertence a derradeira Palavra.
Ele é O Juiz da hora final e como afirma S. Pedro:
Ora pois, já que Cristo padeceu na carne, armai-vos também vós deste mesmo pensamento; porque aquele que padeceu na carne rompeu com o pecado; a fim de viver durante o tempo que lhe resta de vida na carne, não mais segundo as paixões humanas mas segundo a vontade de Deus. Porque é bastante que no tempo passado tenhais cumprido a vontade dos gentios, andando em dissoluções, concupiscências, borrachices, glutonarias, bebedices abomináveis idolatrias. Eles estranham agora que não os acompanheis nos mesmos desregramentos de libertinagem e, por isso, vos cobrem de calúnias. Mas prestarão contas Àquele que está pronto para julgar os vivos e os mortos. (1)
Ora pois, já que Cristo padeceu na carne, armai-vos também vós deste mesmo pensamento; porque aquele que padeceu na carne rompeu com o pecado; a fim de viver durante o tempo que lhe resta de vida na carne, não mais segundo as paixões humanas mas segundo a vontade de Deus. Porque é bastante que no tempo passado tenhais cumprido a vontade dos gentios, andando em dissoluções, concupiscências, borrachices, glutonarias, bebedices abomináveis idolatrias. Eles estranham agora que não os acompanheis nos mesmos desregramentos de libertinagem e, por isso, vos cobrem de calúnias. Mas prestarão contas Àquele que está pronto para julgar os vivos e os mortos. (1)
A nós compete lançar a rede e pescar todos os
peixes.
E não julgar, sobretudo, de ânimo leve.
Só Deus é que porá a luz final sobre todas as
coisas, pondo a claro o que andou envolto em trevas, porque deu a todos os
homens a possibilidade de O conhecerem.
S. Paulo, um dia, ao falar ao povo de Corinto foi
bem claro neste aspecto:
Graça e paz
vos sejam dadas da parte de Deu, nosso Pai, e do Senhor Jesus Cristo. Sempre
dou graças a Deus por vós, pela graça de Deus que vos foi dada em Cristo Jesus;
porque em tudo fostes enriquecidos nele, em toda a palavra e em todo o
conhecimento. (2)
Na sua plena liberdade o homem recusa ou pode ser
dono de todo o conhecimento, sem esquecer aquele de que falou S. Paulo,
sabendo-se, e todo o homem sensato não pode deixar de ter isto em consideração,
que é só por meio dele que pode ser escolhido o melhor dos caminhos que apontam
para Deus.
Assim o que a parábola da rede nos diz é que o reino dos céus é semelhante a uma rede
lançada ao mar, e que apanhou toda espécie de peixes que andaram por bons e
maus caminhos, advertindo, no entanto para a diferenciação que há-de existir
entre eles no julgamento final.
Sobre isto não deixa saída.
(1) - 1 Pd 4, 1-5
(2) - 1 Cor 1, 3-5
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