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sexta-feira, 2 de janeiro de 2015

Uma "farpa" com 144 anos da dupla Eça de Queirós-Ramalho Ortigão com similitude actual



Capa do Livro 
Coordenação de Maria Filomena Mónica


"As Farpas" o célebre feixe de cadernos de critica política e social do século XIX, segundo é crivel foram despoletadas em Março de 1871, ao tempo em que o jornal "A Revolução de Setembro" anunciou o "Programa do Cenáculo" que deu origem às celebradas "Conferências do Casino" de periodicidade semanal, iniciadas com um discurso de Antero de Quental e que o regime viria a fechar em Junho do mesmo ano e, onde, entre outras gradas personalidades da cultura portuguesa, avultava a figura de Eça de Queirós

Estávamos, então, em Maio de 1871.
É a data que assinala o começo da publicação de "As Farpas" escritas pela dupla famosa de Eça de Queirós e Ramalho Ortigão Nesse mesmo mês, num dado passo os autores, causticamente, falam do seguinte modo do universo político:


Há em Portugal quatro partidos: o partido histórico, o regenerador, o reformista e o constituinte, Há ainda outros, mas anónimos, e conhecidos apenas de algumas famílias. Os quatro partidos oficiais, com jornal e porta para a rua, vivem num perpétuo antagonismo: são irreconciliáveis, do fundo dos seus artigos de jornal, latem perpetuamente uns contra os outros. Tem-se tentando uma pacificação, uma união impossível! Eles só têm de comum a lama do Chiado que todos pisam e a Arcada que a todos cobre.
Quais são as irritadas divergências de princípios, que separam estas opiniões? - Vejamos:
  • O partido regenerador é constitucional, monárquico, intimamente monárquico, e lembra nos seus jornais que é necessário a economia.
  • O partido histórico é constitucional, bastante monárquico e prova irrefutavelmente que é assaz aproveitável a ideia da economia.
  • O partido constituinte é constitucional e monárquico e dá subida atenção à economia.
  • O partido reformista é monárquico, constitucional e é doidinho pela economia
  • Todos quatro são católicos.
  • Todos quatro são centralizadores.
  • Todos quatro têm o mesmo afecto à ordem.
  • Todos quatro querem o progresso, e citam a Bélgica.
  • Todos quatro estima a liberdade.
Quais são então as desinteligências? (...)


Neste tempo, sem desvalorizar - por qualquer modo - as políticas de esquerda e direita, ambas necessárias ao regime democrático que em boa hora foi implantado em Portugal, penso, que esses dois campos políticos deviam estar perfeitamente definidos, pelo que o conjunto do tripé PS - PSD- CDS, cujas desinteligências estão esbatidas, porquanto, sobretudo, os dois primeiros partidos - tal como os quatro partidos que foram causa da velha "farpa" com a idade de 144 anos - advogam, salvo o catolicismo oficialmente separado da causa pública, os seguintes princípios:
  • Os dois - senão os três, neste momento, atendendo a que o CDS não aprovou o texto inicial de Constituição - são consstitucionais e defendem a República.
  • Os três - defendem a economia, até por imposição externa do recente Pacto Orçamental Europeu 
  • Os três são centralizadores. (Não esquecer que as distritais dos partidos são a mão que chega longe a partir das diferentes sedes nacionais.)
  • Os três defendem a ordem social.
  • Os três querem o progresso e, todos - com as diferenças conhecidas, mas aplanáveis - defendem o facto de Portugal continuar a pertencer à União Europeia.
  • Os três estimam a liberdade.
Quais são então as desinteligências? - e tomo como minha a velha pergunta de Eça e de Ramalho - porque, tal como eles as não viram, insanáveis nos quatro partidos da Monarquia Constitucional - eu não as vejo nos três partidos da III República, salvo se, me ponho a pensar malevolamente - porque me falta a santidade dos homens puros - que os três partidos são movidos pela influência das clientelas partidárias.

Mas. haja atenção: embora o tempo e as circunstâncias sejam outras, não esqueçamos que a Revolução de 28 de Maio de 1926, por motivos imperiosos pôs termo à ! República pela falta de qualidade política dos seus herdeiros, impondo uma Ditadura Militar que deu aso em 1933 ao Estado Novo,

  • Por culpa de quem?

Precisamente, por culpa de uma República sem republicanos verdadeiros.

Será que, se o PSD e o PS e, eventualmente, juntando o CDS, não se entenderem podemos estar a caminho - não de uma ditadura, porque o tempo é outro - mas de uma forte convulsão social, correndo-se o risco de um novo resgate, que não deixa de ser uma ditadura imposta pelo poder do dinheiro?


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