Capa do Livro
Coordenação de Maria Filomena Mónica
Coordenação de Maria Filomena Mónica
"As Farpas" o célebre feixe de cadernos de critica política e social do século XIX, segundo é crivel foram despoletadas em Março de 1871, ao tempo em que o jornal "A Revolução de Setembro" anunciou o "Programa do Cenáculo" que deu origem às celebradas "Conferências do Casino" de periodicidade semanal, iniciadas com um discurso de Antero de Quental e que o regime viria a fechar em Junho do mesmo ano e, onde, entre outras gradas personalidades da cultura portuguesa, avultava a figura de Eça de Queirós
Estávamos, então, em Maio de 1871.
É a data que assinala o começo da publicação de "As Farpas" escritas pela dupla famosa de Eça de Queirós e Ramalho Ortigão Nesse mesmo mês, num dado passo os autores, causticamente, falam do seguinte modo do universo político:
Há em Portugal quatro partidos: o partido histórico, o regenerador, o reformista e o constituinte, Há ainda outros, mas anónimos, e conhecidos apenas de algumas famílias. Os quatro partidos oficiais, com jornal e porta para a rua, vivem num perpétuo antagonismo: são irreconciliáveis, do fundo dos seus artigos de jornal, latem perpetuamente uns contra os outros. Tem-se tentando uma pacificação, uma união impossível! Eles só têm de comum a lama do Chiado que todos pisam e a Arcada que a todos cobre.
Quais são as irritadas divergências de princípios, que separam estas opiniões? - Vejamos:
- O partido regenerador é constitucional, monárquico, intimamente monárquico, e lembra nos seus jornais que é necessário a economia.
- O partido histórico é constitucional, bastante monárquico e prova irrefutavelmente que é assaz aproveitável a ideia da economia.
- O partido constituinte é constitucional e monárquico e dá subida atenção à economia.
- O partido reformista é monárquico, constitucional e é doidinho pela economia
- Todos quatro são católicos.
- Todos quatro são centralizadores.
- Todos quatro têm o mesmo afecto à ordem.
- Todos quatro querem o progresso, e citam a Bélgica.
- Todos quatro estima a liberdade.
Quais são então as desinteligências? (...)
Neste tempo, sem desvalorizar - por qualquer modo - as políticas de esquerda e direita, ambas necessárias ao regime democrático que em boa hora foi implantado em Portugal, penso, que esses dois campos políticos deviam estar perfeitamente definidos, pelo que o conjunto do tripé PS - PSD- CDS, cujas desinteligências estão esbatidas, porquanto, sobretudo, os dois primeiros partidos - tal como os quatro partidos que foram causa da velha "farpa" com a idade de 144 anos - advogam, salvo o catolicismo oficialmente separado da causa pública, os seguintes princípios:
- Os dois - senão os três, neste momento, atendendo a que o CDS não aprovou o texto inicial de Constituição - são consstitucionais e defendem a República.
- Os três - defendem a economia, até por imposição externa do recente Pacto Orçamental Europeu
- Os três são centralizadores. (Não esquecer que as distritais dos partidos são a mão que chega longe a partir das diferentes sedes nacionais.)
- Os três defendem a ordem social.
- Os três querem o progresso e, todos - com as diferenças conhecidas, mas aplanáveis - defendem o facto de Portugal continuar a pertencer à União Europeia.
- Os três estimam a liberdade.
Quais são então as desinteligências? - e tomo como minha a velha pergunta de Eça e de Ramalho - porque, tal como eles as não viram, insanáveis nos quatro partidos da Monarquia Constitucional - eu não as vejo nos três partidos da III República, salvo se, me ponho a pensar malevolamente - porque me falta a santidade dos homens puros - que os três partidos são movidos pela influência das clientelas partidárias.
Mas. haja atenção: embora o tempo e as circunstâncias sejam outras, não esqueçamos que a Revolução de 28 de Maio de 1926, por motivos imperiosos pôs termo à ! República pela falta de qualidade política dos seus herdeiros, impondo uma Ditadura Militar que deu aso em 1933 ao Estado Novo,
Precisamente, por culpa de uma República sem republicanos verdadeiros.
Será que, se o PSD e o PS e, eventualmente, juntando o CDS, não se entenderem podemos estar a caminho - não de uma ditadura, porque o tempo é outro - mas de uma forte convulsão social, correndo-se o risco de um novo resgate, que não deixa de ser uma ditadura imposta pelo poder do dinheiro?
- Por culpa de quem?
Precisamente, por culpa de uma República sem republicanos verdadeiros.
Será que, se o PSD e o PS e, eventualmente, juntando o CDS, não se entenderem podemos estar a caminho - não de uma ditadura, porque o tempo é outro - mas de uma forte convulsão social, correndo-se o risco de um novo resgate, que não deixa de ser uma ditadura imposta pelo poder do dinheiro?
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