A Direcção do 1º albergue nocturno da cidade de Lisboa
Gravura publicada pela Revista" "Occidente" de 11 de Dezembro de 1881
Honra e glória a estes nomes ignorados que na união das suas boas vontades tiveram da caridade o sentido evangélico, num tempo em que a miséria espreitava em cada esquina da Lisboa muito liberal, na política que enchia os Ministérios, mas pouco, naquilo que se prendia com a questão social de um povo que desde 1820 sofria os desmandos e a indiferença dos que no poder, pediam o seu tempo em lutas estéreis, enquanto Portugal se afundava até à queda final na bancarrota de 1892.
O primeiro albergue nocturno apareceu na cidade de Lisboa em 1881, representando o conselho administrativo da sociedade beneficente a que o rei de Portugal deu o primeiro impulso. É, deste modo que a Revista "Occidente" se refere ao acontecimento relatando que no mês anterior caíra o governo, no mesmo dia quando uma sociedade beneficente criava um estabelecimento piedoso.
O dia que é referido pertenceu a 14 de Novembro e, historicamente, assinala o regresso de Fontes Pereira de Melo à presidência, cabendo-lhe a honra de ter aceite e acarinhado a ideia dos dedicados benfeitores que tinham à cabeça o rei D. Luiz que veio a ser fundador e Presidente da benemérita Associação, tendo a seu lado homens que a História não regista, mas cujos nomes não podem de modo algum deixar de ser exaltados.
São eles:
- Francisco Augusto Mendes Monteiro. Capitalista
- Dr. Luis Jardim. Secretário da Direcção
- José Pereira Soares. Tesoureiro.
- Policarpo José Lopes dos Anjos.
- João Alfredo Dias
- José da Costa Pedreira
- Boaventura Gonçalves Roque, 1º Visconde do Rio Vez.
Honra e glória a estes nomes ignorados que na união das suas boas vontades tiveram da caridade o sentido evangélico, num tempo em que a miséria espreitava em cada esquina da Lisboa muito liberal, na política que enchia os Ministérios, mas pouco, naquilo que se prendia com a questão social de um povo que desde 1820 sofria os desmandos e a indiferença dos que no poder, pediam o seu tempo em lutas estéreis, enquanto Portugal se afundava até à queda final na bancarrota de 1892.
O segundo albergue nocturno foi construído em Lisboa em 1933, quando a Câmara Municipal de Lisboa comprou, na zona de Marvila em 1917 uns armazéns metalúrgicos , onde já havia existido uma fábrica de cortiça fundada em 1889, no espaço onde em finais do século XVII havia sido construído o Palácio da Mitra destinado a residência dos prelados de Lisboa.
Este albergue veio por isso a designar-se, simplesmente: O Albergue da Mitra, tendo ido buscar o nome ao do antigo palácio residencial dos eclesiásticos de Lisboa
A ideia partiu do Estado Novo com a finalidade de eliminar das ruas e dos
lugares públicos a aparência da miséria e se, o albergue, serviu para tal, não deixou de ser encarado por aqueles que vagabundeavam pelas ruas uma espécie de prisão, pelo facto da polícia os levar para ali, mesmo contra a vontade deles, onde apesar do labéu que existia entre a população, os internos obtinham o conforto da mesa, cama e roupa lavada, impossível de encontrarem nas ruas da cidade.
Este albergue, tal como existiu no Estado Novo, foi extinto em 1960.
De acordo com uma notícia publicada em 5 de Novembro de 2014 pelo "Correio da Manhâ" o velho Albergue da Mitra foi cedido a título gratuito pela Câmara Municipal de Lisboa à Santa Casa da Misericórdia de Lisboa que quer transformá-lo num centro de apoio e integração (...) com o intuito de acabar com o
estigma do albergue, associado à mendicidade e à indigência, e dar à cidade um
"pólo de inclusão social", a Santa Casa da Misericórdia de Lisboa
vai, a partir de agora, dar início aos trabalhos de reestruturação do antigo
Albergue da Mitra. Com um investimento inicial de cinco milhões de euros, a
Santa Casa da Misericórdia de Lisboa irá criar respostas sociais de referência,
que abrangerão um universo superior a 500 pessoas, que poderão receber cuidados
de saúde 24 horas por dia.
Ainda no âmbito do 'Programa
Mitra' serão criadas doze novas valências, tais como um centro psico-geriático, um acolhimento de emergência, uma creche, residências, um mercado e um
restaurante. De acordo com Pedro Santana Lopes, a empreitada deverá demorar
cerca de dois anos.
Isto é absolutamente meritório.
Isto é absolutamente meritório.
O que custa a entender é que o Estado Democrático em que vivemos - que tem esbanjado dinheiro em infraestruturas megalómanas que nos escusamos de referir neste apontamento - e a quem competia tomar conta da iniciativa, tenha deixado à Santa Casa da Misericórdia de Lisboa esta competência no que concerne a cuidar dos marginalizados e dos chamados "sem abrigo", que têm sido socorridos por organizações laicas ligadas à Igreja Católica - e não só - donde se infere que o Estado Democrático falhou neste campo, porque fazer a caridade para com o semelhante, parece que lhes cheira àquela "caridadezinha" tão cantada, mas no mau sentido pelos "cantores de Abril", sem cuidar que o gozo que fizeram da Igreja - que foi o alvo - não era de todo merecido, porque então, como hoje acontece, muito se deve a ela o desvelo que lhes merece os deserdados da sorte.
Assinala-se, por isso, o gesto do actual Provedor da SCML, Pedro Santana Lopes e do Presidente da Câmara Municipal de Lisboa, António Costa, pelo facto de um e outro terem encarado o sentido da caridade pelo seu aspecto mais puro, centrado há milénios na bondade dos tempos apostólicos.
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