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sexta-feira, 30 de janeiro de 2015

A mulher e a instrução.


A Instrução 
in, Revista "O Occidente" de 1 de Março de 1884


Relata esta importante Revista cultural (1878-1915) que esta estátua - A Instrução - foi executada pelo escultor António Alberto Nunes (1838-1932) a quem coube, também a honra de conceber e realizar a escultura em bronze do "Génio da Independência" do monumento que se encontra na Praça dos Restauradores. 
Gravura do escultor António Alberto Nunes
 publicada pela Revista "O Occidente" de 11 de Maio de 1886


A estátua "A Instrução" seguiu um destino bem diferente por ter sido erigida não numa qualquer praça urbana de uma determinada cidade mas para servir de símbolo e, como ta, foi colocada no Hospício Português de Caridade do Rio de Janeiro, onde a Instrução era um modo de fazer a caridade relativamente ao próximo.

A mulher aqui representada com o seu ar nobre e educacional é bem representativa do carinho, do respeito e do amor fraterno que devem merecer aos homens todas as honras, tendo-se em conta que ela é a matriz da vida.

Nunca gostei de Michelet pelo facto inoportuno e machista de no seu livro "L'amour" que para além de piegas, muitas vezes, é obceno de ter dito que a mulher era uma doente em cada mês e em cada período de nove meses, sem se lembrar que havia - segundo o seu distorcido raciocínio - uma mulher "doente" que o havia dado à luz e a quem havia cabido a primeira instrução que recebera.

Nunca me esqueceu esta barbaridade de linguagem.

O escultor Alberto Nunes executou esta bela escultura que vista sobre qualquer ângulo é sempre encantadora e à qual deu o título de "A Instrução" honrando assim e sobremaneira o papel importantíssimo da mulher mãe - ou não -  que na frialdade do mármore parece aquecer com a sua mão esquerda pousada no ombro da pequenino o seu entendimento para soletrar as primeiras letras, enquanto ostenta no seu lado direito a bandeja de prata, simbolizando o prémio merecido a todo aquele que se esforça por aprender a ser um homem, prémio que o seu empenho e amor nunca se furta de dar.

Disse Sólon que é a instrução a melhor provisão de viagem para a paragem da velhice mas cabe ao Padre António Viera a síntese mais perfeita de quanto vale a instrução: Instruir é construir.

Reflectindo sobre o conceito breve de António Vieira, o que sentimos é que, ainda hoje, apesar do trabalho profissional que atirou a mulher para fora do lar durante muitas horas do dia, continua a ser ela a grande instrutora da vida, cabendo-lhe para além do exercício profissional - onde, tantas vezes lhes cabe a instrução de crianças que não são seus filhos - mas fazendo-o dentro dos seus lares com os próprios filhos com a sabedoria de que só a mulher é dotada, como instruir a família nas tarefas comezinhas da cozinha, da higiene, da conservação e fabrico alimentar, do tratamento das roupas, da própria decoração do lar e da administração dos recursos disponíveis.

Por fim, diremos em abono da verdade que foi a mulher que instruiu o modo como se saíu da boçalidade da Idade-Média através de pequenos mas fundamentais gestos, como: a imposição dos talheres na hora da refeição, o hábito da bebida do chá - que até teve uma hora própria - a instrução de não se entrar em casa sem antes limpar a soleira dos sapatos, que sendo tudo gestos simples humanizaram a sociedade.


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