"O Desterrado" escultura de Soares dos Reis
in, Revista "O Occidente" de 11 de Maio de 1889
Esta obra de charneira da estatuária portuguesa, de forma alguma se enquadra na definição que é dado pelo Dicionário ao homem que foi banido da Pátria ou que a si mesmo por qualquer motivo de ordem profissional ou outra qualquer, sente as dores do exílio, pelo que a adjectivação ou substantivação gramatical não faz aqui qualquer sentido, mas apenas se lhe pode dar em sentido figurado o que esta estátua pode sugerir, quando se fala do homem que dentro da sua própria Pátria está afastado de tudo e de todos vivendo o seu isolamento social.
Das muitas interpretações que lhe têm sido feitas merece exalar o cunho artístico que esteve presente na sua origem e no sentido que Soares dos Reis lhe quis imprimir através do cinzel burilador que foi adoçando a bruteza da pedra até lhe dar as linhas românticas da originalidade desta estátua.
Como não sou um estudioso científico de obras escultóricas o meu sentimento de homem vulgar, embora sensitivo por natureza leva-me a ver em "O Desterrado" a cabeça pendida em ar de desalento - na óptica como vejo - poder representar uma carga de um apurado simbolismo interior de ordem espiritual, onde o gesto das mãos pousadas sobre a perna direita permitem que o olhar dobrado sobre a parte esquerda do corpo fique completamente livre e, desse modo ao olhar o chão inseguro da sua vida, sinta que o chão onde põe os pés lhe fuja e de tal modo que já não sabe como erguer a cabeça e fazer frente a uma vida madrasta de onde fugiram os sentimentos mais nobres.
Desterrados assim, há mais do que pensamos...
Quantas vezes nos temos cruzado com eles?
Daí, pensar, que o obra de Soares dos Reis é uma alegoria que tende prestar homenagem a esses desterrados que vivem perto de nós e não damos por eles, especialmente, quando vivemos bem instalados...
Que o olhar desta bela estátua pousado num chão que lhe fugiu seja suficiente para acordar em nós a chama fraternal que por demais trazemos apagada, mercê da fartura que temos e que nos leva pela ânsia de ganhar muito a esquecer ou negar valores éticos que ao impor a sua "lei" são os geradores da tentação de o exercer no completo desprezo pelos direitos dos outros, na exploração dos que têm necessidade e sobre os quais não há lugar para um mínimo de regras de conduta social.
Desterrados assim, há mais do que pensamos...
Quantas vezes nos temos cruzado com eles?
Daí, pensar, que o obra de Soares dos Reis é uma alegoria que tende prestar homenagem a esses desterrados que vivem perto de nós e não damos por eles, especialmente, quando vivemos bem instalados...
Que o olhar desta bela estátua pousado num chão que lhe fugiu seja suficiente para acordar em nós a chama fraternal que por demais trazemos apagada, mercê da fartura que temos e que nos leva pela ânsia de ganhar muito a esquecer ou negar valores éticos que ao impor a sua "lei" são os geradores da tentação de o exercer no completo desprezo pelos direitos dos outros, na exploração dos que têm necessidade e sobre os quais não há lugar para um mínimo de regras de conduta social.
Na estátua, "O Desterrado" o olhar perdido da figura pode não ser, mas é crível que a alma do escultor tenha sido tocada pelos que se sentem desterrados, embora vivendo dentro do chão que os viu nascer.
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