Texto parcial do original de Artur Portela do texto inserto
na Revista "Mundo Gráfico" nº 3 de 15 de Novembro de 1940
O texto de Artur Portela - actualíssimo - dá uma imagem da gigantesca luta do mar contra a rocha, e como diz o autor, esta ainda o domina mas esfacelada, o que é um retrato fidelíssimo que pode ser observado por todo o visitante das Berlengas. esse navio fantasma que se avista de longe, quase sempre brumoso, quase sempre um desafio.
Ir às Berlengas e descer a via sinuosa que leva direito o visitante até ao velho forte de S. João Baptista é ir a mundo desconhecido de uma beleza em que os tempos de antanho na impossibilidade de os sentirmos vivos como no tempo em que os "quartos de sentinela" não retiravam os olhos dos flibusteiros que percorriam os mares em busca de presas fáceis ou descuidadas é um modo de render homenagem aos soldados "eremitas" que ali passavam os dias e as noites em defesa de uma costa apetecida.
Ir às Berlengas é um modo de despertar sentimentos adormecidos tal como parece estar aquele arquipélago que bem merece ser "acordado", como um dia aconteceu depois duma visita em que, tomado de uma força estranha me meti com aquele "navio fantasma" que assim me pareceu, também a mim, quando alta noite subi ao Gronho - um pequeno montículo da costa continental - e escrevi assim, há muitos anos.
BERLENGAS
Mar alto e calmo, noite funda e
bela
Recortadas como um navio sem
mastros
Eu alcanço as Berlengas da
janela
Alumiadas pela luz dos astros.
Silêncio. A janela é o
Gronho...
Sentinela do mar naquela
escarpa.
Desse mar que morre como um
sonho
Numa música quente, com sons
d'harpa!
Longe, parado e calmo, continua
O navio adormecido dos
rochedos...
Beija-o docemente a luz da lua
A quem decerto diz os seus
segredos!
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