O mal de quem apaga as estrelas é não se lembrar de que não
é com candeias que se ilumina a vida.
Diário (1948)
Acontece, se se leva a vaidade humana ao extremo de um amor
próprio exagerado sem se ver a mais valia moral e intelectual do nosso
companheiro, se comete - e quantas vezes isto tem acontecido - a malvadez de
esbater a estrela que ele é na roda dos nossos amigos ou, por outro meio
qualquer, nublar a sua imagem, sem se atender ao velho conceito de Epicteto: as
pessoas ficam perturbadas, não pelas coisas, mas pela imagem que formam delas,
uma verdade perfeita, porque o homem resiste a um qualquer contratempo mas pode
sucumbir se vê manchada a sua imagem,
Só isto que nos deixou como um aviso sério o filósofo da
Grécia antiga devia levar os vaidosos - ou manhosos - que, para se valorizarem
perante o mundo num jogo encoberto deviam ser mais corteses com aqueles que
apoucam, quanto ao seu valor, quando não cometem o crime de os molestar na
honra.
A vida dos homens, pese embora a imperfeição que carregamos
devia ter um impacto de uns sobre os outros que se assemelhasse à imagem
fulgurante que tem o Céu estrelado e não transformar alguns - quando não são
muitos - em sombras das estrelas que podiam ser, ou seja, candeias que não
iluminam a vida no dizer iluminado de Miguel Torga.
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