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sexta-feira, 9 de janeiro de 2015

Sobre um pensamento de Miguel Torga



O mal de quem apaga as estrelas é não se lembrar de que não é com candeias que se ilumina a vida.
Diário (1948)



Acontece, se se leva a vaidade humana ao extremo de um amor próprio exagerado sem se ver a mais valia moral e intelectual do nosso companheiro, se comete - e quantas vezes isto tem acontecido - a malvadez de esbater a estrela que ele é na roda dos nossos amigos ou, por outro meio qualquer, nublar a sua imagem, sem se atender ao velho conceito de Epicteto: as pessoas ficam perturbadas, não pelas coisas, mas pela imagem que formam delas, uma verdade perfeita, porque o homem resiste a um qualquer contratempo mas pode sucumbir se vê manchada a sua imagem,

Só isto que nos deixou como um aviso sério o filósofo da Grécia antiga devia levar os vaidosos - ou manhosos - que, para se valorizarem perante o mundo num jogo encoberto deviam ser mais corteses com aqueles que apoucam, quanto ao seu valor, quando não cometem o crime de os molestar na honra.

A vida dos homens, pese embora a imperfeição que carregamos devia ter um impacto de uns sobre os outros que se assemelhasse à imagem fulgurante que tem o Céu estrelado e não transformar alguns - quando não são muitos - em sombras das estrelas que podiam ser, ou seja, candeias que não iluminam a vida no dizer iluminado de Miguel Torga.


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