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quinta-feira, 29 de janeiro de 2015

Quando a vida nos força a ser irmãos de Pierrot!

 

in, "Contemporânea" Revista de Cultura nº 2
Agosto, Setembro e Outubro de 1922



Em ambiente circense, Pierrot como se sabe é o palhaço que morre de amores pela Columbina e se sente trocado pelo Arlequim. Tem como característica comportamental a sua ingenuidade.  
É algo lunático, distante, inconsciente da realidade, sendo habitualmente conotado com o bobo e embora sofra com as partidas que lhe pregam não deixa de confiar no seu semelhante, vestindo sempre roupas largas, pinta o rosto de branco, pelo que as suas vestimentas têm influenciado todos os palhaços.



Américo Durão sente-se irmão de Pierrot fazendo do palhaço o seu confidente e, como ele, parece dizer-nos que o devamos imitar tornando-nos inconscientes da realidade vivencial, algo que tantas vezes acontece com o homem mais consciente, porquanto o viver a dura realidade da vida quando ela se torna difícil o que apetece é vivê-la como no-la descreve nos dois últimos tercetos o Poeta, ou seja, viver  e estar ausente... como se o homem fosse um estranho de si mesmo dentro da sua alma, o que não sendo uma impossibilidade metafísica - porque se pode viver a fingir - mas viver assim é violentar a natureza humana, pelo que nos momentos mais agrestes da vida o que resta fazer é tornar-se o homem Irmão de Pierrot e rir perante a vida, que é sempre o melhor remédio e, depois, pedir ao Sonho o esquecimento do Passado... na certeza de que, se não se esquecem as  agruras passadas o que volta sempre é o desejo de viver como se, de mim e da minh'alma andasse estranho.

É deste modo que Américo Durão termina o texto poético, mas para que tal não aconteça, quando a vida nos força a ser irmãos de Pierrot, sejamo-lo conscientemente, como fazem os palhaços do circo.
A vida ao fim e ao cabo é, em muitos aspectos o circo onde vivemos e onde passam aos nosso lado - e em cada dia - os palhaços bem vestidos!


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