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quinta-feira, 15 de janeiro de 2015

Hoje, a superioridade não é de quem mais pensa, mas continua a ser de quem mais pode!


Eça de Queirós, cônsul de Portugal em Paris (1888) lê o "Le Fígaro"
in. Revista "Mundo Gráfico" nº 2-30 de Outubro de 1940


A Vitalidade de uma Nação

Uma nação vive, próspera, é respeitada, não pelo seu corpo diplomático, não pelo seu aparato de secretarias, não pelas recepções oficiais, não pelos banquetes cerimoniosos de camarilhas: isto nada vale, nada constrói, nada sustenta; isto faz reduzir as comendas e assoalhar o pano das fardas - mais nada. Uma nação vale pelos seus sábios, pelas suas escolas, pelos seus génios, pela sua literatura, pelos seus exploradores científicos, pelos seus artistas. Hoje, a superioridade é de quem mais pensa; antigamente era de quem mais podia: ensaiavam-se então os músculos como já se ensaiam as ideias.
Eça de Queirós, in 'Distrito de Évora'



Eça de Queirós fundou o jornal "O Distrito de Évora" em 1866 donde se pode tirar a ilação que o pequeno texto acima transcrito é daquela época, quando o Liberalismo actuante por dentro da Monarquia Constitucional impunha o poder das suas ideias contra o antigamente, ao tempo em que a sociedade estava sujeita a quem mais podia, neste caso ao poder do rei e das forças musculadas que o serviam, sem cuidarem, como Eça diz, que já então se ensaiavam os músculos a par de se ensaiarem as ideias.

Infelizmente, hoje, a superioridade das Nações contraria, em parte, o pensamento de 1866 de Eça de Queirós, porque nem sempre ela é ditada por quem mais pensa, mas por aqueles que mais podem, agora porém, de duas maneiras: não só pelo poder musculado das armas, mas pelo poder do dinheiro que está a esmagar as sociedades, de nada se importando os donos dos grandes impérios económicos com os homens do pensamento por mais brilhantes que sejam, porque ficam sujeitos aos que fazem da Economia sem rosto o  "credo" da mais valia do poder do dinheiro

Foi, possivelmente, analisando esta distorção da sociedade do nosso tempo que, um dia, levou o sábio Albert Einstein a declarar: Estou firmemente convencido de que nem todas as riquezas do Mundo poderiam fazer progredir a Humanidade, mesmo que se encontrassem na mão de um homem tão dedicado quanto possível à causa do progresso. Só o exemplo dos grandes e dos puros pode conduzir a concepções e feitos nobres. O dinheiro atrai o egoísmo e arrasta consigo o desejo irresistível de dar-lhe mau uso.                                        in 'Como Vejo o Mundo'

Constatou Einstein, que o progresso da Humanidade não estava dependente de alguém muito poderoso economicamente - ainda que muito dedicado - mas antes, nos homens semelhantes aos que Eça de Queirós apontou no campo do saber, igualando-se neste passo ao sábio do nosso tempo que tendo sido o autor de um poder militar destruidor como nunca existiu outro, teve a lucidez de nos deixar escrita esta verdade: o dinheiro atrai o egoísmo e arrasta consigo o desejo irresistível de dar-lhe mau uso.

Foi isto que o poder esmagador do dinheiro fez de quem mais sabia...
Einstein teve o poder das ideias mas estas não chegaram para se imporem aos que mais podiam e isto viu-de no mau uso que foi dado à descoberta de que foi mentor.


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