Charb - editor do jornal -
em frente à sede que, em 2011 ficou destruída
depois de um ataque de uma bomba incendiária (in, "Observador")
em frente à sede que, em 2011 ficou destruída
depois de um ataque de uma bomba incendiária (in, "Observador")
Um valor que nos compete defender é a liberdade de expressão e, por isso, repito o que já escrevi, há dias, por não ser demais recalcar este pensamento pelo facto de estar em causa a defesa de uma conquista civilizacional.
Na altura, escrevi:
Pese, embora - como já aconteceu entre nós - para citar,
apenas, três exemplos, como a rábula da "Última Ceia", da gravura do
Papa João Paulo II com um preservativo enfiado no nariz e de alguns textos de
José Saramago desrespeitadores da crença religiosa de uma parte considerável do
povo português, defendo que nunca será de admitir a alteração do Artigo 37º da
C.R.P., por ele constituir um valor inserto na liberdade do homem, conquistada
sobre a ditadura de uma intelectualidade
moralista de um tempo que não deve voltar.
Mas, não deixo de pensar - tal como acontece com as ofensas
verbais ou físicas que às vezes são feitas no calor de uma qualquer discussão,
que estas devem ser refreadas pelo respeito humano que nos merece o nosso
semelhante - também, no campo do pensamento, que é algo que ninguém pode
prender, a sua extravasão deve merecer todo o cuidado pela responsabilidade que
a liberdade deve merecer a todos os homens.
Hoje, o jornal on-line "Observador" traz a seguinte notícia:
Um dos fundadores do Charlie Hebdo, Henri Roussel, de 80
anos, acusou Charb de ter "arrastado a equipa" para a morte, depois
das sucessivas reproduções de caricaturas de Maomé.
E a seguir vem esta pergunta:
Poderá um dos fundadores do jornal satírico francês Charlie
Hebdo não “ser Charlie”? Henri Roussel, que na década de 70 ajudou a criar a
publicação, acusou Stéphane Charbonnier (Charb), editor do jornal e uma das 12
vítimas do atentado terrorista, de ter “arrastado a equipa” para a morte depois
das sucessivas publicações controversas que despertaram a ira da comunidade
islâmica.
E mais à frente, lemos isto:
O primeiro aviso de que o Charlie Hebdo se tinha tornado um
alvo dos extremistas islâmicos aconteceu pouco tempo depois da publicação da
caricatura polémica. Em 2011, a sede do jornal foi destruída depois de ter sido
atingida por uma bomba incendiária. Mas o editor não desistiu de publicar novos
cartoons do profeta. Para Roussel, isso foi um erro.(...)
Comentando e servindo-me do que já disse e acima reproduzo "no campo do pensamento, que é algo que ninguém pode prender, a sua extravasão deve merecer todo o cuidado pela responsabilidade que a liberdade deve merecer a todos os homens", penso, que aquele fundador do "Charlie Hebdo", Henri Roussel tem razão, porque se extravasaram pela pena artística críticas gráficas contra uma religião prosseguida por milhões de criaturas.
E a propósito disto ocorre-me lembrar Ortega y Gasset.
Pelo facto de não ser um crente na Virgem Maria - tal como é apresentada nos Livros Sagrados - levou um dos seus amigos a sugerir-lhe que sendo como era, um filósofo tão respeitado falasse sobre o assunto, apresentando as reservas que o mesmo lhe oferecia.
Ortega Y Gasset ouviu a perlenga e respondeu com esta pergunta:
- Mas que direito tenho eu para ir contra a opinião de tantos milhões de seres humanos se aquilo em que acreditam lhes dá tanto conforto?
É aqui que bate o ponto.
O filósofo foi avisado ao falar deste modo, porque a extravasão da crítica deve merecer todo o cuidado, a começar pela defesa da liberdade de expressão, cuja fronteira deve acabar quando o finito da vida terrena se cruza com o infinito de algo que se esconde para lá da simples racionalidade humana e é, apenas, algo que se não vê mas que a fé pode entrever, sem contudo, a poder explicar, seja qual seja o domínio da fé que o homem segue e atende como sendo a verdadeira.
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