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segunda-feira, 19 de janeiro de 2015

"Eu, que tenho mais consciência, terei menos liberdade!"


Pedro Calderón de la Barca (1600-1681)

Gravura publicada pela Revista "Occidente" 
 4º Ano - Vol. IV nº 88 de 1 de Junho de 1881


Vulto dos maiores da dramaturgia e da poesia de Espanha, embora tenha vivido debaixo do absolutismo reinante de Filipe IV e do efeminado Carlos II, a descontento do pai - com quem pleiteou - abandonou os estudos religiosos pela carreira das armas para mais tarde seguir a literatura teatral, onde os conflitos entre pais e filhos surgem por vezes como se fossem uma lembrança do que acontecera com ele.

Ordenado sacerdote em 1651 - numa idade tardia - não deixou de escrever peças de teatro para regalo da corte do rei Filipe IV de quem foi capelão, como aconteceu com Carlos II, tendo sempre mantido livre o seu pensamento em ralação, não só aos cortesãos que bajulavam os reis que ele serviu, como aos moralistas da época.

Pensador fecundo, ficam aqui estampado alguns dos seus conceitos:

  • Ao rei darei minha coragem, minha fidelidade e minha palavra. Mas, minha honra não, pois esta pertence a Deus.
  • Se sigo a neutralidade, condeno-me a viver sozinho, pois o neutro não é bom para amigo nem para inimigo.
  • Uma boa acção além de ser louvável, é um tesouro armazenado e guardado a favor daquele que a praticou.
  • Na vida não deves dar conselho a quem precisa de dinheiro.
  • O valor é filho da prudência, não da temeridade.
  • Triste mundo este que cobre os vestidos e despe os nus.
  • Dizeis ser possível sentir ciúmes sem ter jamais amado? Sim, é possível, pois existem ciúmes de tão ruim origem que são como abortados filhos do mais cruel rancor.
  • Uma ferida cura-se melhor que uma palavra.
  • Viver com honra é viver eternamente.
  • Onde a honra é o mais, todo o demais é menos.
  • Eu, que tenho mais consciência, terei menos liberdade.

É este último pensamento deste homem ilustre que todos devíamos meditar, sobretudo, como não raro acontece que devia ser uma linha de rumo quando se tem da consciência o valor supremo que ela representa e se aceita - como norma - que o seu cumprimento total coarta a plena liberdade dos actos que se praticam, pelo que, quando vemos representações gráficas que invadem o campo das crenças dos outros, como recentemente aconteceu em França como o jormal satírico "Charlie Hebdo", e como não faltam exemplos entre nós pela falta de respeito que se sente, sobretudo com os cristãos católicos, algo está em contraponto com aquela recomendação do velho dramaturgo espanhol.

As "amplas liberdades" são um valor democrático e têm de ser defendidas, mas exige-se aos homens uma maior consciência dos seus actos.

Eu, que tenho mais consciência, terei menos liberdade.

Respeitemos isto por amor da Liberdade!

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