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segunda-feira, 5 de janeiro de 2015

O exemplo foi bom... mas não chegou!



(1359-1411)


in, Revista "Mundo Gráfico" - Ano I nº 19 de 15 de Julho de 1941



D. Filipa de Lencastre - a mãe da ínclita geração como a cunhou Luis de Camões no Canto IV, estância 50 - tinha 14 anos em 1373 quando em plena Idade Média se assinou, em o acordo Luso-Britânico que viria a ser confirmado, de facto, em 1386 com o Tratado de Windsor, sendo algo que parece ter tido o gérmen, não em qualquer das duas anteriores datas mas em 1294 com a assinatura de um primeiro Tratado entre D. Dinis e Eduardo I, que visava proteger o comércio feito pelos súbditos dos dois monarcas e que veio a confirmar-se em 1385 com a batalha de Aljubarrota de que resultou um contrato de amizade perpétua entre os dois países, selado, efectivamente - e para sempre em 1386, quando João de Gante deu a mão de sua filha, Filipa de Lencastre a D. João I, o vencedor daquela importante batalha.

Este casamento, dos mais ilustres acontecimentos da Monarquia Portuguesa, foi notável pela influência da Rainha no que diz respeito à moralização dos costumes abalados pelos tempos anteriores que se sucederam ao problema dinástico por que passou Portugal, pela prole que ela gerou e, também, pela sua intervenção no que diz respeito às relações comerciais entre Portugal e Inglaterra.

Pena foi que o seu exemplo não tivesse dado, no tempo futuro, os frutos que foram pródigos durante o tempo em que viveu, porquanto, e apesar, de em 1642 - depois da Restauração o velho Tratado tenha sido reafirmado, não tardou que em 1661, o mesmo tenha resvalado para o início da predominância que a Inglaterra passou a exercer sobre Portugal Continental e os seus territórios ultramarinos com o casamento de Carlos II de Inglaterra com D. Catarina de Bragança, entregando-se-lhe as possessões de Tânger e Bombaim.

A tudo isto acresceu o Tratado de Methuen que em 1703 que deu entrada livre livre aos lanifícios ingleses em Portugal embora com a redução das tarifas impostas à importação de vinhos portugueses em Inglaterra e se, ainda, se possa considerar o que aconteceu com o desencadear das Invasões Francesas e o apoio inglês na ajuda que acompanhou a frota de João VI a caminho do Brasil, o que veio a seguir - e nunca mais parou - foi o facto insólito do exército português ter ficado em 1809 debaixo da alçada ditatorial de Beresford que veio a ser marechal-general do nosso exército, em 1916, cabendo-lhe a façanha de ter executado Gomes Freire de Andrade em 1817 e dos seus correlegionários, tendo isto durado até à Revolução Liberal de 1820.

Porém, o facto mais devastador para Portugal, em obediência ao respeito da Aliança foi o célebre "Ultimatm" de 11 de Janeiro de 1890, que obrigou Portugal a retirar as forças portuguesas chefiadas pelo major Serpa Pinto nas terras que ligavam Angola a Moçambique e eram reclamadas por Portugal no famoso Mapa cor-de-rosa.

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De pouco valeu para o efeito que Portugal chamasse a razão que lhe assistia por este facto estar incluido na Conferência de Berlim, pelo que a obediência de Portugal à Inglaterra foi considerada pelos liberais que então impunham os seus ideais republicanos - e com toda a razão - uma humilhação nacional, tendo começado desde então a antipatia por D. Carlos I, que havia de levar os mais exaltados ao seu assassinato.

Finalmente, como se tudo isto não bastasse em Maio de 1916, em plena I Guerra Mundial, a Inglaterra invocou o Tratado e pediu a Portugal o apresamento de todos os navios alemães que estivessem na costa portuguesa, de que resultou a hostilidade alemã e a entrada de Portugal na guerra que tantos milhares de portugueses trucidou nos campos de batalha.

Eis, porque, se podemos concluir pelo profícuo exemplo que deu a Portugal o consórcio da nobre filha do Duque de Lencastre com o rei de Portugal, os exemplos que advieram da velha Aliança não foram - em muitos casos - dignos da sua origem, pelo que, cumpram-se os "item's" do Tratado, mas denunciem-se os seus desmandos, que mesmo, quando foram úteis para nós - como no tempo das Invasões Francesas - o que ficou logo a seguir até à década de vinte,  no fim do mesmo século XIX e início do século XX, é de molde a não merecer a nossa simpatia e, muito menos, o nosso apreço.


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