Casa de Tomás Ribeiro (1831-1901) em Parada de Gonta - Tondela
Gravura publicada pela Revista "Occidente" em 21 de Junho de 1887
O termo - belíssimo - como alguns portugueses costumam designar o nosso País: "Jardim da Europa à beira mar plantado", pertence ao poeta tondelense Tomás Ribeiro, o celebrado autor do livro: "D. Jaime".
Faz parte do poema: A PORTUGAL.
Faz parte do poema: A PORTUGAL.
O autor, hoje, quase esquecido pelas élites bem pensantes de Portugal, onde avultam os europeístas que quase se desnacionalizaram para defender a ideia de uma Europa unida pela globalização da Economia, não fazem ideia do amor nacionalista que sentiu e viveu Tomás Ribeiro, que no seu tempo defendeu com "unhas e dentes" este torrão a que deu aquele belo nome, de pouco se importando de o mimosearem de "patrioteirismo" por ele combater as ideias internacionais que se vinham afirmando, no findar do último quartel do século XIX.
Não deixa de ser um "crime" literário - de alguma iliteracia do tempo que vivemos - deixar no esquecimento o "D. Jaime", pelo que o testemunho que aqui deixo do homem e do Poeta é minha homenagem a todos os naturais de Tondela de cuja Câmara Municipal chegou a ser Presidente e que têm neste homem grado um exemplo do amor que todos devíamos ter por Portugal, este
"Jardim da Europa à beira mar plantado"!
"Jardim da Europa à beira mar plantado"!
Eis, para memória, algumas estrofes de o "D. Jaime":
A PORTUGAL
Meu Portugal, meu berço de inocente,
Meu Portugal, meu berço de inocente,
lisa estrada que andei débil
infante,
variado jardim do adolescente,
meu laranjal em flor sempre
odorante,
minha tarde de amor, meu dia
ardente,
minha noite de estrelas
rutilante,
meu vergado pomar dum rico
outono,
sê meu berço final no último
sono!
Costumei-me a saber os teus
segredos
desde que soube amar; e amei-os
tanto!...
Sonhava as noites de teus dias
ledos
afogado de enlevo, em riso e em
pranto.
Quis dar-te hinos de amor,
débeis os dedos
não sabiam soltar da lira o
canto,
mas amar-te o esplendor de
imenso brilho...
eu tinha um coração, e era teu
filho!
Jardim da Europa à beira-mar
plantado
de loiros e de acácias
olorosas;
de fontes e de arroios
serpeado,
rasgado por torrentes
alterosas,
onde num cerro erguido e
requeimado
se casam em festões jasmins e
rosas,
balsa virente de eternal magia
onde as aves gorgeiam noite e
dia.
(...)
As flores d’aldeia são puras e
belas,
Suaves aromas, vivissimas
cores,
Os cravos altivos, as rosas
singelas,
suspiros sentidos, leais os
amores.
Quereis um raminho colhido por
mim?...
Pois vinde comigo buscá-lo ao
jardim.
(...)
Que idade florida e bela
a dos vinte anos! - Não é?!
ornada, embora singela,
de crenças, de esperança e fé;
em que dorme a austera e fria
luz da prosaica razão;
em que ostenta soberania
infinita o coração!
em que o mancebo tem sonhos
de fabulosa extensão
altivos, nobres, risonhos...
Que bem-fadada ilusão!...
Dos vinte anos a magia
quem pôde roubar-ma assim?
Que é dos olhos com que eu via
em cada cerro um jardim?
em cada gruta encantada
linda moura namorada
com tesoiros para mim?
em cada fonte uma fada?
em cada casa um festim?
em cada peito um abrigo?
um céu em todo o viver?
um irmão em cada amigo?
um anjo em cada mulher?
alta sina em cada estrela?
e em tudo nobreza e fé?!...
Que idade florida e bela
a dos vinte anos! - Não é?!
(...)
Eu nunca vi Lisboa, e tenho
pena;
mãe de sábios, de heróis, crime
e virtude;
golfão de riso e dor, que ora
serena,
ora referve e escuma em sanha
rude.
Rainha do ocidente envolta em
sedas,
vaidosa do seu trono de
verdura,
de bosques, de jardins e de
alamedas,
rica de jóias, oiro, e
formusura.
Hospitaleira mãe do navegante,
atenuado, errante em mar
profundo;
dominadora altiva desse Atlante
que vai do mundo velho ao novo
mundo.
.
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