Pesquisar neste blogue

segunda-feira, 19 de janeiro de 2015

"Jardim da Europa à beira mar plantado"!


Casa de Tomás Ribeiro (1831-1901) em Parada de Gonta - Tondela
Gravura publicada pela Revista "Occidente" em 21 de Junho de 1887


Gravura publicada pela Revista "Occidente" - 21 de Novembro de 1881


O termo - belíssimo - como alguns portugueses costumam designar o nosso País: "Jardim da Europa à beira mar plantado", pertence ao poeta tondelense Tomás Ribeiro, o celebrado autor do livro: "D. Jaime".

Faz parte do poema: A PORTUGAL.

O autor, hoje, quase esquecido pelas élites bem pensantes de Portugal, onde avultam os europeístas que quase se desnacionalizaram para defender a ideia de uma Europa unida pela globalização da Economia, não fazem ideia do amor nacionalista que sentiu e viveu Tomás Ribeiro, que no seu tempo defendeu com "unhas e dentes" este torrão a que deu aquele belo nome, de pouco se importando de o mimosearem de "patrioteirismo" por ele combater as ideias internacionais que se vinham afirmando, no findar do último quartel do século XIX.

Não deixa de ser um "crime" literário - de alguma iliteracia do tempo que vivemos - deixar no esquecimento o "D. Jaime", pelo que o testemunho que aqui deixo do homem e do Poeta é minha homenagem a todos os naturais de Tondela de cuja Câmara Municipal chegou a ser Presidente e que têm neste homem grado um exemplo do amor que todos devíamos ter por Portugal, este
"Jardim da Europa à beira mar plantado"!


Eis, para memória, algumas estrofes de o "D. Jaime":


A PORTUGAL

                                  Meu Portugal, meu berço de inocente,
lisa estrada que andei débil infante,
variado jardim do adolescente,
meu laranjal em flor sempre odorante,
minha tarde de amor, meu dia ardente,
minha noite de estrelas rutilante,
meu vergado pomar dum rico outono,
sê meu berço final no último sono!

Costumei-me a saber os teus segredos
desde que soube amar; e amei-os tanto!...
Sonhava as noites de teus dias ledos
afogado de enlevo, em riso e em pranto.
Quis dar-te hinos de amor, débeis os dedos
não sabiam soltar da lira o canto,
mas amar-te o esplendor de imenso brilho...
eu tinha um coração, e era teu filho!

Jardim da Europa à beira-mar plantado 
de loiros e de acácias olorosas;
de fontes e de arroios serpeado,
rasgado por torrentes alterosas,
onde num cerro erguido e requeimado
se casam em festões jasmins e rosas,
balsa virente de eternal magia
onde as aves gorgeiam noite e dia.

(...)

As flores d’aldeia são puras e belas,
Suaves aromas, vivissimas cores,
Os cravos altivos, as rosas singelas,
suspiros sentidos, leais os amores.
Quereis um raminho colhido por mim?...
Pois vinde comigo buscá-lo ao jardim.

(...)

Que idade florida e bela
a dos vinte anos! - Não é?!
ornada, embora singela,
de crenças, de esperança e fé;
em que dorme a austera e fria
luz da prosaica razão;
em que ostenta soberania
infinita o coração!
em que o mancebo tem sonhos
de fabulosa extensão
altivos, nobres, risonhos...
Que bem-fadada ilusão!...

Dos vinte anos a magia
quem pôde roubar-ma assim?
Que é dos olhos com que eu via
em cada cerro um jardim?
em cada gruta encantada
linda moura namorada
com tesoiros para mim?
em cada fonte uma fada?
em cada casa um festim?
em cada peito um abrigo?
um céu em todo o viver?
um irmão em cada amigo?
um anjo em cada mulher?
alta sina em cada estrela?
e em tudo nobreza e fé?!...

Que idade florida e bela
a dos vinte anos! - Não é?!

(...)

Eu nunca vi Lisboa, e tenho pena;
mãe de sábios, de heróis, crime e virtude;
golfão de riso e dor, que ora serena,
ora referve e escuma em sanha rude.

Rainha do ocidente envolta em sedas,
vaidosa do seu trono de verdura,
de bosques, de jardins e de alamedas,
rica de jóias, oiro, e formusura.

Hospitaleira mãe do navegante,
atenuado, errante em mar profundo;
dominadora altiva desse Atlante
que vai do mundo velho ao novo mundo.
.

Sem comentários:

Enviar um comentário