De um diaporama recebido
Camilo Castelo Branco
À borda do lago de Tiberíades, um homem vestido com a túnica do povo, sentado nas ribas da montanha, alonga a vista pelas orlas do mar da Galeleia, e contempla as ondas espessas das multidões, que se lhe avizinham bradando clamores de vassalagem, como se a montanha fora um trono, e o homem do povo, o rei das multidões.
Este homem, saudado pelas turbas, fugira ao alarido que reclamava a coroa de David para aquela fronte real, onde a mão do Senhor escrevera os gloriosos destinos da Judeia.
Entre os que lhe apregoavam a majestade, estavam uns que juravam a grandeza daquele homem pela formosa luz, que a sua vontade omnipotente lhes abrira os olhos, cerrados desde o ventre materno. Outros, há pouco levantados do estrado da agonia, juravam a presença do Messias naquele homem, que os mandara erguer e caminhar, como se a sua voz tivesse o império da que se ouvira entre os relâmpagos do Sinai.
O filho da viúva de Nahim, invocando as regiões da morte pela voz daquele homem, jurava em nome de Deus, a divindade do que fora sentar-se no cimo da montanha, para dominar o universo como rei e autor da criação. As irmãs de Lázaro, rodeadas de povo, contavam a ressurreição do seu irmão; e Maria de Magdala rompia, veemente de amor, por entre as turbas, para derramar n ovas lágrimas aos pés daquele homem de Nazareth (...)
Do cap. VI - As Sete Palavras de N.S. Jesus Cristo" do Livro "Horas de Paz" , 1º volume
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