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sábado, 7 de novembro de 2015

Será que vai continuar "a voz do dono"?


Gravura publicada pelo jornal já extito "O Xuão" 


His Master's Voice (trad.: A Voz do Dono), hoje normalmente abreviado para HMV, é uma marca registrada famosa no negócio de música e por muitos anos era o nome de uma marca de uma grande gravadora. O nome foi cunhado em 1899 como o título de uma pintura do cachorro Nipper de Jack Russell Terrier que escuta um gramofone. Na pintura original, o cachorro estava escutando um fonógrafo de cilindro de 5 de Maio de 1908. 
(in, Wikipédia)

Este título (a voz do dono) na gíria popular - como é sabido - tornou-se vulgar e é sempre lembrado quando, individual ou colectivamente se exprime ipsis-verbis o que alguém quer, pelo respeito que merece, ou do mesmo modo, quando uma acção colectiva não foge da linha traçada, tendo de lhe obedecer, ainda que para tanto se atropele o bom senso, quando não, a própria consciência.

Vem isto a propósito da votação do Programa do XX Governo Constitucional que vai ser discutido na Assembleia da República nos próximos dias 9 e 10 de Novembro de 2015.

Foi algo que sempre me causou engulhos, seja qual seja a força política que obrigue os seus deputados a votar de acordo com a escolha do "chefe", por ver nisto uma acção concertada e sem qualquer respeito pela liberdade de quem é eleito pelo povo e não pelo "chefe", pelo que, neste passo, sempre vi a ditadura mascarada de democracia e se, como se espera, os deputados votarem como ordenam os "chefes", não posso deixar de pensar nos axiomas que reproduzo, entendo-os como a verdadeira arte de pensar pelo respeito que em democracia deve valer o voto dos escolhidos para serem a representação do povo.

Se o não são, a democracia está enferma e precisa de ser repensada.
Vejamos alguns conceitos, válidos, quanto a mim.
  • A democracia é a mais severa forma de despotismo. (Aristóteles)
  • Nestas Democracias industriais e materialistas, furiosamente empenhadas na luta pelo pão egoísta, as almas cada dia se tornam mais secas e menos capazes de piedade. (Eça de Queirós in, A Correspondência de Fradique Mendes)
  • A democracia fundada sobre a igualdade absoluta é a mais absoluta tirania. (Cesare Cantú, in, Attenzione!)
  • Estamos numa situação em que uma democracia que, segundo a definição antiga, é o governo do povo, para o povo e pelo povo, nessa democracia precisamente está ausente o povo. (José Saramago, in Conversaciones com Saramago (2002)
  • O grande problema do nosso sistema democrático é que permite fazer coisas nada democráticas democraticamente. (José Saramago in, El Correo de Andalucía (2003)
  • Antigamente dizia-se que fora da Igreja não havia salvação; agora parece que, politicamente, fora dos partidos também não há. (José Saramago, in, Visão (2004)
                                                                                                             in. "Citador"
Acabo como comecei.

A voz do dono não faz sentido na democracia, porque se não há machados que cortem a raiz ao pensamento - como disse o poeta Manuel Alegre - talvez sem pensar no tempo em que escreveu isto, que a democracia pela qual lutou o viesse a fazer, eu continuo a pensar que não se pode impor à consciência aquilo que a ela mesmo desagrada.

Ou então, a democracia é um despotismo... que se encarapuça quando lhe convém!

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