A foto é elucidativa!
Há vidas velhinhas que até ao fim correm sempre atrás da vida!
Do livro "Caminhos de Oração" de Michel Quoist, transcreve-se este texto de grande profundidade humana a par do divino de que o celebrado autor a veste, deixando ficar em cada asserção a certeza que a vida humana gasta pela velhice não é inútil.
Há neste texto dois diálogos: - o do velhinho ao Senhor - e o outro de resposta - do Senhor ao velhinho - e é na resposta que está patente o que de facto existe e é verdade.
Sois necessários e a todos os vossos irmãos.. e Eu preciso de vós, hoje... pelo que, quando olho a velha fotografia que se reproduz, só eu sei, como aquele velhinho que corria atrás da vida - que a menina representa - quão útil foi para ela a sua existência, num tempo em que sem poder acompanhar o seu passo, não a perdeu de vista, pela guarda que lhe competia fazer daquela vida em botão.
Estou a envelhecer, Senhor.
e é duro envelhecer!
Já não consigo correr,
nem sequer andar depressa.
Já não consigo levar pesos
e subir rapidamente a escada da
minha casa.
As minhas mãos começam a tremer
e os meus olhos depressa se
cansam
sobre as páginas do livro.
A minha memória fraca e rebelde
esconde-me
datas e nomes
que tão bem conhece.
Estou a envelhecer, e os laços
de afeição criados
ao longo dos muitos anos
passados
soltam-se um a um
e às vezes desatam-se.
Tantas pessoas conhecidas,
Tantas pessoas amadas
Se afastam e desaparecem
no outro lado do tempo.
Que o primeiro olhar que lanço
ao jornal diário
é para procurar, inquieto, os
nomes da necrologia.
Cada dia me sinto, Senhor,
um pouco mais só.
Só com as minhas recordações
E as minhas dores passadas,
que sempre o meu coração
mantém vivas,
enquanto as alegrias me parecem
muitas vezes ofuscadas.
Senhor, compreende-me!
Tu, que queimaste a Tua
existência
em trinta e três anos intensos,
não sabes o que é envelhecer
lentamente,
e estar aqui
com a vida a escapar-se,
implacável
deste pobre corpo ferrugento,
velha máquina de rolamentos
emperrados
que se recusa a funcionar.
E estar aqui, sobretudo,
e esperar.
Esperar que o tempo passe.
Um tempo, que às vezes, se escoa
tão lentamente,
que parece desprezar-me, dançar,
arrastar-se
diante de mim,
à minha volta,
sem querer dar lugar à noite que
vem
e me permite, enfim, dormir.
Senhor, como acreditar que o
tempo de hoje
seja o mesmo do tempo antigo.
Aquele que corria tão depressa
em certos dias,
certos meses,
tão depressa que eu não
conseguia apanhá-lo
e se me escapava
antes que eu pudesse enchê-lo de
vida?
Hoje tenho tempo, Senhor,
tempo demais,
tempo que se me amontoa em
redor,
inutilizado.
E eu estou aqui, imóvel
e não sirvo para nada.
Estou a envelhecer Senhor,
e é duro envelhecer.
a ponto de alguns dos meus
amigos, eu sei-o,
Te pedirem muitas vezes que
termine esta vida,
que se tornam, pensam eles,
doravante inútil.
Eles estão enganados, meu filho,
diz o Senhor,
e tu, também,
pois embora o não digas,
vezes há em que concordas com
eles.
Sois necessários
a todos os vossos irmãos.
E eu preciso de vós, hoje,
como precisava ontem.
Porque um coração que bate, por
mais cansado que esteja,
dá ainda a vida
ao corpo que habita.
E o amor pode brotar, nesse
coração,
mais poderoso e mais puro
quando o corpo fatigado lhe dá
por fim lugar.
Certas vidas sensacionais,
meu filho,
podem estar vazias de amor,
enquanto outras
que parecem banais
irradiam amor até ao infinito.
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O diálogo é puramente espiritual.
Pertence àquele aspecto metafísico em que a sobrenaturalidade que ele tem o torna possível, porque na filosofia das ideias que moram bem longe das sebentas académicas, existem diálogos destes em que, os homens alquebrados pelos anos num queixume natural podem dizer, estou aqui, mas... - não sirvo para nada - podem receber da divindade a quem se dirigem esta consolação - preciso de vós, hoje - porque há coisas para fazer.
E, quantas vezes, essas coisas, são feitas através dos que não sendo - vidas sensacionais - daquelas que costumam encher as páginas dos jornais ou abrem os noticiários da Rádio ou da TV, parecendo ser vidas banais irradiam amor até ao infinito?
E, quantas vezes, essas coisas, são feitas através dos que não sendo - vidas sensacionais - daquelas que costumam encher as páginas dos jornais ou abrem os noticiários da Rádio ou da TV, parecendo ser vidas banais irradiam amor até ao infinito?
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