A um que queria julgar
o que não entendia
Quem nunca teve dor, não julgue
dores,
Nem alegria, quem a não sentiu;
Quem nunca teve amor, não julgue
amores,
Nem trate de honra, quem a não
seguiu:
Não pode, quem não vê, julgar de
cores,
Nem sabe o que é ver, quem nunca
viu:
Assim quem nunca em nada
satisfaz,
Julgar não pode o que outrem diz,
ou faz.
Pero de Andrade Caminha
Deve-se a este notável Poeta - que nalguns meios é tido como tendo sido no seu tempo um rival de Luís de Camões - a acertada composição literária que se reproduz, que é na sua análise humana - muito sábia - algo que devia ser atendido todos os dias: não julgar ninguém, mas ter-se do julgamento fácil a repulsa que ele merece, sem que isto nos retire o dever da vigilância sobre as acções que se tomam ao arrepio do senso comum.
Ao lembrar este texto do século XVI e ao olhar cinco séculos depois as suas palavras e as acções, parece que elas furaram o nevoeiro dos tempos e se apresentam luzidias como prefigurando um sol aberto no tempo que vivemos, o que prova que o génio dos homens de eleição é intemporal, razão suficiente para lermos este pequeno trecho e ao reflectirmos sobre a sua linha mestra, sentirmos que o devemos ter na devida conta quanto à nossa vivência diária.
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