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sexta-feira, 13 de novembro de 2015

"Mater Dolorosa" - Um soneto de Gonçalves Crespo


Mater Dolorosa

Quando se fez ao largo a nave escura,
na praia essa mulher ficou chorando,
no doloroso aspecto figurando
a lacrimosa estátua da amargura.

Dos céus a curva era tranquila e pura;
das gementes alcíones o bando
via-se ao longe, em círculos, voando
dos mares sobre a cérula planura.

Nas ondas se atufara o Sol radioso,
e a Lua sucedera, astro mavioso,
de alvor banhando os alcantis das fragas...

E aquela pobre mãe, não dando conta
que o Sol morrera, e que o luar desponta,
a vista embebe na amplidão das vagas...

Gonçalves Crespo
in, "Nocturnos"



Mais uma vez a MÃE - a matriz da vida humana - é glorificada como merece ser e, no caso presente por esse poeta de singular candura quando abordou o tema da mãe nos seus trabalhos poéticos.

A mãe é, efectivamente, a pessoa criada por uma excelência muito particular se a enquadrarmos em termos bíblicos como o devemos fazer, tendo ganho um dom que só à mulher foi concedido: de poder da sua própria vida gerar novas vidas humanas, pelo que devia merecer de todos os homens um respeito muito especial.

Há dias, um amigo meu, ao ver uma mulher grávida - indo comigo passeio fora - parou o seu passo para me dizer isto que jamais esquecerei:

  • Acabou de passar por nós o maior espectáculo vivente que nos é dado ver e é de tal maneira que quando o vejo passar dá-me vontade - se pudesse -  de o beijar respeitosamente, no ventre, agradecido a Deus que o permite e à mulher que o concebe.

Que bonito foi ouvir isto!

E foi pensando nisto que o soneto  - Mater Dolorosa - entrou profundamente dentro da minha alma agradecida de o ter lido e meditado, vendo em todo ele o quadro que ele representa, com a MÃE junto do cais da partida, vendo ao longe a sumir-se no horizonte das águas o barco onde ia aquele que um dia embalou no seu ventre, mais tarde nos seus braços ou no berço e, ainda, naquele momento, colada ao cais, o continuava a embalar com a vista embebida na amplidão das águas.

São assim todas as mães do homens...

Embalam-nos sempre, meninos ou adultos porque só elas é que têm o dom do embalo e das cantigas de embalar, mesmo quando ralham... porque até nesses momentos a voz que sai, prudente e amiga, como não há outra, tem num tom mais alto cantigas de embalar!

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