Da Carta Encíclica "Pacem in Terris"
- A paz de todos os povos na base da Verdade, Justiça, Caridade e Liberdade -
do Papa S. João XXIII
11 de Abril de 1963
- A paz de todos os povos na base da Verdade, Justiça, Caridade e Liberdade -
do Papa S. João XXIII
11 de Abril de 1963
Sinais dos Tempos
39. Três fenômenos caracterizam a nossa época. Primeiro, a
gradual ascensão econômico-social das classes trabalhadoras.
40. Nas primeiras fases do seu movimento de ascensão, os
trabalhadores concentravam sua acção na reivindicação de seus direitos,
especialmente de natureza económico-social, avançaram em seguida os
trabalhadores às reivindicações políticas e, malmente, se empenharam na
conquista de bens culturais e morais. Hoje, em toda parte, os trabalhadores
exigem ardorosamente não serem tratados à maneira de meros objectos, sem
entendimento nem liberdade, à mercê do arbítrio alheio, mas como pessoas, em
todos os sectores da vida social, tanto no económico-social como no da política
e da cultura.
41. Em segundo lugar, o facto por demais conhecido, isto é, o
ingresso da mulher na vida pública: mais acentuado talvez em povos de
civilização cristã; mais tardio, mas já em escala considerável, em povos de
outras tradições e cultura. Torna-se a mulher cada vez mais conscia da própria
dignidade humana, não sofre mais ser tratada como um objecto ou um instrumento,
reivindica direitos e deveres consentâneos com sua dignidade de pessoa, tanto
na vida familiar como na vida social.
42. Notamos finalmente que, em nossos dias, evoluiu a
sociedade humana para um padrão social e político completamente novo. Uma vez
que todos os povos já proclamaram ou estão para proclamar a sua independência,
acontecerá dentro em breve que já não existirão povos dominadores e povos
dominados.
43. As pessoas de qualquer parte do mundo são hoje cidadãos
de um Estado autónomo ou estão para o ser. Hoje comunidade nenhuma de nenhuma
raça quer estar sujeita ao domínio de outrem. Porquanto, em nosso tempo, estão
superadas seculares opiniões que admitiam classes inferiores de homens e
classes superiores, derivadas de situação económico-social, sexo ou posição
política.
44. Ao invés, universalmente prevalece hoje a opinião de que
todos os seres humanos são iguais entre si por dignidade de natureza. As
discriminações raciais não encontram nenhuma justificação, pelo menos no plano
doutrinal. E isto é de um alcance e importância imensa para a estruturação do
convívio humano segundo os princípios que acima recordamos. Pois, quando numa
pessoa surge a consciência dos próprios direitos, nela nascerá forçosamente a
consciência do dever: no titular de direitos, o dever de reclamar esses
direitos, como expressão de sua dignidade, nos demais, o dever de reconhecer e
respeitar tais direitos.
45. E quando as relações de convivência se colocam em termos
de direito e dever, os homens abrem-se ao mundo dos valores culturais e
espirituais, quais os de verdade, justiça, caridade, liberdade, tornando-se
cônscios de pertencerem àquele mundo. Ademais são levados por essa estrada a
conhecer melhor o verdadeiro Deus transcendente e pessoal e a colocar então as
relações entre eles e Deus como fundamento de sua vida: da vida que vivem no próprio
íntimo e da vida em relação com os outros homens.
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