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domingo, 1 de dezembro de 2013

A Economia sem rosto: - um animal feroz!


Gravura publicada pelo Jornal "O Xuão"de 20 de Outubro de 1908

A gravura é antiga, mas os dizeres alusivos a desfavor da Economia sem rosto são intemporais e o animal terrífico, de onde saem duas cabeças assustadoras vociferando ameaças contra o povo devedor, amarrado a uma dívida que não consegue pagar, assinalam, por isso, a malfeitoria que o dinheiro faz quando se comporta sem qualquer sentimento humano, fazendo do capital o bem mais alto, a pedir sem qualquer pejo - por via do seu poder  monetário - todas as humilhações, de pouco lhe importando que o chamem "ladrões da honra e da liberdade, do dinheiro e da vida"  e, do mesmo modo que gritem: "abaixo os inimigos da sociedade" , como vemos  e lemos acima, na velha ilustração de Silva e Sousa.
A sociedade actual, vive, mais uma vez, a ditadura do capital.

Manda quem paga.
Obedece quem deve.

É uma dicotomia radical que tem de ser combatida com as armas da persuasão que os povos têm de usar, quanto antes, porque se o não fizerem, a economia brutal que envolve uma grande parte da sociedade europeia, acabará, um dia, com esta velha civilização.
É por isso, importante, a todos os títulos, que o Papa Francisco, com o peso moral e apostólico que lhe advém do exercício do seu alto magistério, na sua primeira Exortação Apostólica "Evangelli Gaudium" no nº 53, tenha escrito estas palavras clarividentes que começam com este título:

Não a uma economia da exclusão


Assim como o mandamento «não matar» põe um limite claro para assegurar o valor da vida humana, assim também hoje devemos dizer «não a uma economia da exclusão e da desigualdade social». Esta economia mata. Não é possível que a morte por enregelamento dum idoso sem abrigo não seja notícia, enquanto o é a descida de dois pontos na Bolsa. Isto é exclusão. Não se pode tolerar mais o facto de se lançar comida no lixo, quando há pessoas que passam fome. Isto é desigualdade social. Hoje, tudo entra no jogo da competitividade e da lei do mais forte, onde o poderoso engole o mais fraco. Em consequência desta situação, grandes massas da população vêem-se excluídas e marginalizadas: sem trabalho, sem perspectivas, num beco sem saída. O ser humano é considerado, em si mesmo, como um bem de consumo que se pode usar e depois lançar fora. Assim teve início a cultura do «descartável», que aliás chega a ser promovida. Já não se trata simplesmente do fenómeno de exploração e opressão, mas duma realidade nova: com a exclusão, fere-se, na própria raiz, a pertença à sociedade onde se vive, pois quem vive nas favelas, na periferia ou sem poder já não está nela, mas fora. Os excluídos não são «explorados», mas resíduos, «sobras».

Assim, que Economia sem sentimentos olhe a direito as palavras do Papa já que, um dia, deitou para o monturo das coisas inúteis - segundo a cartilha que professam - as palavras do Pacifista Mohandas Gandhi, quando ele, sabiamente declarou:

A economia que despreza as considerações morais e sentimentais é semelhante às figuras de cera que, parecendo vivas, carecem da vida proporcionada pela carne. Em todos os momentos cruciais, estas novas leis económicas caíram ao serem colocadas em prática. E as nações ou os indivíduos que as aceitarem como guia irão perecer
in 'The Words of Gandhi'

Foi um aviso não entendido, porque a Economia floresceu, mas o rodar da História se encarregará, um dia, de dar razão a Gandhi e, também, neste tempo angustioso que vivemos para aceitar e seguir as palavras do Papa, por ver nelas o que é inqualificável: o sentimento "descartável" da Economia cartelizada, ao utilizar os homens como joguetes do jogo sujo que promovem, deitando comida no lixo com tantas bocas esfomeadas.
Razão, porque, a continuar assim, Gandhi e o Papa Francisco, com ele, hão-de vir a ser duas vozes proféticas.


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