Profecia 22
Intenção
profética: Jesus seria odiado sem motivo.
Noutras passagens, o salmista –
prefigurando Jesus – já cantara a sua desolação por se sentir alvo de uma
perseguição injusta movida por homens ingratos.
Contra mim, diz o Salmo (35, 11) levantaram-se testemunhas violentas
que num assomo de ódio incompreensível acabam por pagar o bem recebido com o
mal da ingratidão, como do mesmo modo, no Salmo (109, 3-5) o salmista acossado
pela maldade dos seus inimigos, dolorosamente continua a afirmar: Eles me
cercam com palavras de ódio, e pelejam contra mim sem causa. Em paga do meu
amor são meus adversários; mas eu me dedico à oração. Retribuem-me o mal pelo
bem, e o ódio pelo amor.
Jesus está inscrito, verdadeiramente, em
todas estas palavras proféticas.
No Salmo 69, explicitamente, o salmista
diz alegoricamente que os inimigos são de tal monta em número que superam os
cabelos da sua cabeça, deixando com esta asserção o que viria a acontecer com
Jesus, rodeado de inimigos ferozes que desde o momento da sua prisão o cercaram
até à exalação do último suspiro, na Cruz, que ao invés do salmista não pede o
merecido castigo para os seus opositores, distinguido-se dele neste pormenor
importante.
Mas o Salmo que é messiânico quanto à
injustiça latente de que é portador é-o, ainda, quando no versículo 10 diz com
toda a intenção profética: Porque o zelo de vossa casa me devora, e os
ultrajes dos que vos ultrajavam recaem sobre mim, palavras, que num certo
dia, pelo tempo da Páscoa dos judeus, haveriam de ser lembradas pelos
seguidores de Jesus.
Relata S. João, quando faz alusão à cena
dramática da expulsão dos vendilhões do Templo, deixando bem claro a analogia
das palavras com que finda o episódio, com a lembrança que ocorreu aos
discípulos ao lembrarem as antigas palavras do salmista: O zelo da tua casa
me devorará. [i]
Continua, exemplarmente, o profetismo do
Salmo 69 na expressão contida no versículo 22, quando o salmista declara: Deram-me
fel por mantimento, e na minha sede me deram a beber vinagre, numa alusão à
cena da Cruz, no momento culminante, pela hora nona, quando um dos soldados
ouvindo a expressão de Jesus: tenho sede [ii]
correu para lhe dar a beber vinagre embebido numa esponja que lhe fizeram
chegar à boca.
Sobre a sede sofrida por
Jesus, já ao relatar a Paixão do Justo, o salmista havia profetizado: A
minha garganta secou-se como barro cozido, a minha língua pegou-se ao meu
paladar. [iii]
Tudo estava já dito e
predito.
Faltava o cumprimento,
uns séculos depois.
Mas tudo se cumpriu.
Jo 15, 23-25: Aquele
que me odeia a mim, odeia também a meu Pai. Se eu entre eles não tivesse feito
tais obras, quais nenhum outro fez, não teriam pecado; mas agora, não somente
viram, mas também odiaram tanto a mim como a meu Pai. Mas isto é para que se
cumpra a palavra que está escrita na sua lei: Odiaram-me sem causa.
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