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sábado, 21 de dezembro de 2013

Um solilóquio imprevisto!



Foto copiada - com a devida vénia - 
do diaporama Portugal a Norte - 6ª parte 
(Douro e as regiões demarcadas do Vinho do Porto)



Solilóquio 
com uma velha máquina do rio Douro


Tu, que abrasada pela fornalha ardente
por força das pazadas do carvão
que recebias no bojo, a horas certas,
percorreste de fio a pavio toda a linha que havia
ao longo do rio Douro.

Tu, que te "embebedaste" no tempo das vindimas
com o cheiro do mosto
e quebraste nos carris o gelo das geadas,
e arrostaste com os sóis e as nortadas,
em todos os casos, sempre contente,
soltando o teu silvo estridente.
quando se aproximavam as estações do caminho,
ou quando partias delas para continuar a jornada
e sempre pronto, na ânsia de veres
a  tua chaminé fumegante e o teu perfil de aço 
escurecido pela origem da construção
e pelos anos, espelhado como um brinquedo andante
nas águas límpidas do rio Douro,
enquanto, com a força que te dava a fornalha ardente,
puxavas as carruagens onde ia a tua gente,
aquela amálgama do povo, apinhado, às vezes!

Pela tua alegria de aço a resfolegar vapores 
sobre a vertente aplanada do monte
- a tua bela estrada! - 
não merecias que  se tenham esquecido
olvidando tanta coisa que fizeste
e te tenham arrumado a um canto, 
com a maldade de veres todos os dias
os carris à tua frente, luzidios, como no tempo
em que os percorreste,
mas onde já não passas, como outrora!

Para teu desgosto,
os homens que tantas vezes transportaste
- e, até, cuidaram de ti nas mazelas que tiveste - 
puseram à tua volta as àrvores da paisagem
que dantes vias a correr e, agora,
são como tu, imagens quietas 
- e tu, mais quieto que elas - 
como se fosses, e não devias ser,  
um ferro velho que apodrece
às intempéries e às canículas que põem em brasa
a tua antiga fornalha ardente...
mas que não chegam para te por a correr 
em cima dos carris antigos...
e que estão, como um desafio, à tua frente!

Mereces, por isso, pelo esquecimento imerecido
estes versos soltos 
onde vai todo o encantamento que me deste
e todo o meu carinho, em honra do teu passado!

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