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sexta-feira, 27 de dezembro de 2013

Para Fernando Pessoa a História de Portugal acabou em 1578!?



in, livro "Mensagem-Fernando Pessoa" - edição de Teresa Sobral Cunha - Junho 2013


Nesta edição cuidada do livro "MENSAGEM" de Fernando Pessoa, a pág, 27, o seu autor que ainda o viu publicado, numa nota a que chama: "Uma Explicação do Autor" diz o seguinte, num dado passo:

Notar-se-á que se considera a História de Portugal como fechada nas duas primeiras dinastias, dando-se como não existentes a dos Filipes, a dos Braganças e a República. Assim é. Estes três tempos são o nosso sono; não são a nossa história, senão que representam a ausência dela.

Não se estranhe esta asserção de Pessoa. É preciso entendê-lo em face do "misticismo" nacionalista que perpassa na "MENSAGEM". Para ele, a História de Portugal acabou em 4 de Agosto de 1578, no areal inóspito de Alcácer Quibir, com a morte de D. Sebastião.

E assim, toda a História seguinte, a partir de 1580, ano em que faleceu o cardeal D. Henrique, que nos dois anos em que reinou sofreu a desdita de assistir ao suborno da nobreza portuguesa por parte de Filipe II - neto de D. Manuel - para apoiar a causa da sua pretensão ao trono de Portugal, invocando aquele parentesco.
O que veio a acontecer, como é sabido.
Este foi o sono do primeiro tempo de que o Poeta nos fala, a que se seguiu um sono maior, que durou entre 1640 - com a dinastia dos Braganças repartida entre o absolutismo e constitucionalismo com todo o seu rol de misérias políticas que tiveram fim em 1910 - a que se seguiram outras não menos gravosas -  e, finalmente, o terceiro tempo, ou terceiro sono, a partir da implantação da República a que se seguiu a Ditadura militar (1926-1933) e depois a do Estado Novo, que Pessoa ainda viu implementada, pelo facto de ter falecido em 30 de Novembro de 1935, um ano depois de publicado o seu livro: MENSAGEM.

Por isso, se  levarmos na devida conta o que ele nos diz, embora tivesse 22 anos quando eclodiu a República o País não acordou do sono profundo em que mergulhou em 1580, e tendo vivido, ainda, 25 anos após o derrube da monarquia o novo regime não podia seduzir um liberal fraternitário que não se reviu nos tempos atribulados da 1ª República e das diatribes dos homens que não satisfeitos com a matança real do Terreiro do Paço em 1908, com a mesma senha assassinaram Sidónio Pais em 1918, o Poeta viu esfumar-se o ideal esotérico de um quinto Império, prefigurado nas três partes em que dividiu o seu livro: "Brasão"; "Mar Português" e "O Encoberto", e em todas elas, como que rediviva a imagem de D. Sebastião, o herói que perpassa como um símbolo em todas as páginas da "MENSAGEM".

Maçónico - ou, simplesmente, um iniciado - no ano em que faleceu, revoltou-se em artigo publicado no dia 4 de Fevereiro no jornal "Diário de Lisboa" contra uma proposta do deputado José Cabral de 19 de Janeiro de 1935 - um político que era, então. director-geral dos Serviços Prisionais - e que propunha a extinção das sociedades secretas, mormente a da Maçonaria entrada no reino de Portugal em 1727 através de comerciantes britânicos com estadia em Lisboa, onde fundaram uma loja que ficou conhecida nos registos da Inquisição como a dos "Hereges Mercadores", por serem protestantes quase todos os seus membros.


Concluímos, que - embora desconheça o teor da refutação de Pessoa contra o parlamentar - tenho para mim, que a razão assistia ao deputado da Nação que queria ver extintas todas as sociedades secretas, tal como hoje, devia acontecer, se efectivamente, os deputados que elegemos - e estão de acordo com a proposta do seu antigo colega José Cabral -  não estivessem a dormir, comportando-se como no tempo de que nos fala Fernando Pessoa, porquanto, no decorrer da dinastia dos Braganças, Portugal dormia o seu segundo sono.
E foi nessa postura que sorrateiramente a maçonaria se instalou até hoje no silêncio hermético das suas "lojas", gerindo como pode e sabe e perfeitamente acordada o sono em que o resto do Pais vive mergulhado.

Ao certo pode afirmar-se que Pessoa, apesar do misticismo nacionalista da MENSAGEM, foi - um inimigo radical da Igreja de Roma  conforme confessa na pág.155 deste livro - foi um rosacruciano firmado na contraria hermética de iluminados, denominada: "Rosa-cruz", difundida a partir do século XVI da Alemanha e inserida na tradição esotérica do Ocidente, cujo fim era a prestação à evolução espiritual da humanidade, não se devendo esquecer, que para tanto, contribuiu a educação inglesa que recebeu nos tempos em que permaneceu na África do Sul (1895-1905), em Durban, para onde sua mãe emigrou após o seu segundo casamento.

Mas não podemos dar-lhe razão quanto ao sono português que passou a existir após o cumprimento das duas primeiras dinastias.
Se é verdade que Portugal adormeceu para sonhos esotéricos e parece ter esquecido o sentido nacionalista dos 44 poemas da sua MENSAGEM, com todos os sobressaltos, Portugal vive acordado, já não para a conquista de sonhos como o do "Quinto Império" que Pessoa acalentou na linha concebida pelo Padre António Vieira no século XVII, mas para um tempo em que a realidade dura, embora se não coadune com o sonho da MENSAGEM, não pode esquecer tudo o que está por detrás e encheu de glória as duas dinastias de Portugal, onde Pessoa foi buscar a fonte do formidável livro que legou e que faz dele uma preciosa herança.

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