O Papa emérito Bento
XVI considerou no Dia de Reis (6 de Janeiro 2008) que só poderá ser instaurada
no mundo uma ordem de desenvolvimento
justa e sustentável se os homens adoptarem um estilo de vida sóbrio e um
compromisso para a distribuição mais equitativa dos recursos.
Aconteceu isto
no decorrer da missa da Epifania, no Vaticano, acrescentando que uma densa
névoa envolve as nações e que, verdadeiramente não se pode afirmar, de facto, que a globalização é sinónimo de ordem
mundial, apontando que os conflitos
pela supremacia económica e acesso aos recursos energéticos, hídricos e
matérias-primas tornam difícil o trabalho dos que, a todos os níveis, se
esforçam por construir um mundo justo e solidário, terminando com a frase
incisiva, dizendo que é precisa uma
esperança maior, que permita preferir o bem comum para todos ao luxo de alguns
e à miséria de muitos.
Palavras que
devem incomodar não só os católicos, mas todos os homens, como já aconteceu em
tempos com Kofi Annan (1) quando disse: Só saberemos que a globalização
está de facto a promover a inclusão a e permitir que todos partilhem as
oportunidades que oferece, quando os homens, mulheres e crianças comuns das
cidades e aldeias do mundo inteiro puderem melhorar a sua vida. E é essa a
chave para eliminar a pobreza do mundo.
A globalização
não é um acontecimento recente, podendo-se localizá-la a partir do século XV
com o início do mercantilismo que durou até final do século XVIII, onde a
política dos Estados promoveram a sua transição para o capitalismo, o que
originou que se tivesse chamado ao mercantilismo um pré-capitalismo ou, de um
modo mais radical, capitalismo comercial, enquanto sistema de intervenção ao nível
dos Governos com o fim de promoverem a prosperidade e o poder dos Estados.
Aconteceu isto
com o fluxo de metais preciosos vindos do Novo Mundo e das especiarias do
Oriente, tendentes a impulsionar o crescimento do comércio, gerando nos países
de economia mercantil o aparecimento de balanças comerciais favoráveis a partir
dos metais preciosos que constituíam o principal meio de pagamento nas relações
económicas a nível internacional, procurando esses países exportar o máximo e
importar o mínimo, obtendo, assim balanças de comércio favoráveis.
Hoje, a globalização
é entendida, comumente, como uma tendência dos mercados e das empresas no seu
alargamento, tendo em conta alcançar uma dimensão mundial que ultrapasse as
fronteiras nacionais, o que não deixa de ser um perigo, olhando-se este facto
social apenas do ponto de vista económico, deixando esquecidos muitos do direitos
inalienáveis da pessoa, o que levou, no tempo devido, filósofos como Hobbes a
que se associaram, depois, Montesquieu, Voltaire e Rousseau, à cimentação dos
direitos naturais do homem, em obediência à liberdade e à posse de bens que
deram uma nova concepção da sociedade, até à eclosão dos seus objectivos no articulado
da Declaração dos Direitos do Homem e do Cidadão de 1789, a qual, está longe de
ser respeitada – ontem como hoje - onde
a globalização actual endeusando os mercados, esquece os direitos naturais do
homem.
O sonho de
fazer da Europa uma imensa área cosmopolita, de unidade , fazendo dela uma comunidade
humana concertada, nunca será exequível, porque a globalização se tornou numa
exigência económica para a sobrevivência das grandes potências, onde o
crescimento das suas empresas e o aumento abrupto de uma parte significativa
dos seus habitantes no que se refere a um consumo exagerado, exigiu a expansão
dos seus mercados, com a subsequente depauperação dos recursos existentes do planeta.
Foi neste
pressuposto que se passaram a reclamar
em nome de uma prosperidade falaciosa a abolição dos controlos dos
movimentos de capitais, a liberalização dos serviços financeiros transfronteiriços,
a eliminação das restrições que limitavam o acesso das empresas estrangeiras
aos mercados nacionais e, desse modo, os Países que ambicionavam essa
prosperidade fundada numa riqueza de grupos, tem-na tido, enquanto os pobres –
a quem foi prometido o paraíso – o que têm tido é o aguçar cada vez mais das
desigualdades económicas e sociais, com a agravamento das suas condições de
vida.
Eis, porque,
fazem todo o sentido tantas as palavras do Papa, como as do antigo secretário-geral
da ONU, quando este sentiu que só saberemos que estamos a cumprir a
globalização, quando os homens, mulheres
e crianças comuns das cidades e aldeias do mundo inteiro puderem melhorar a sua
vida, apontando com toda a sua clareza de análise que só assim se
conseguirá ter a chave para eliminar a
pobreza do mundo, enquanto o Papa veio chamar a atenção dos povos para as
desigualdades que se acentuam e a esperança que é preciso pôr a render – não
como um ideal, mas como uma certeza - que,
por fim, opere o que falta fazer para que a felicidade humana assente no bem comum para todos ao luxo de alguns e à
miséria de muitos.
Palavras
prudentes s sábias de quem conhece o mundo e os homens.
Palavras que
deviam incomodar os poderosos, os que no dizer do Papa, estribados como estão
na sua supremacia económica e acesso aos
recursos energéticos, hídricos e matérias-primas tornam difícil o trabalho dos
que, a todos os níveis, se esforçam por construir um mundo justo e solidário.
(1) - Kofi Annan é um diplomata natural de
Gana. Foi, entre 1de Janeiro de 1997 e 1 de Janeiro de 2007, o sétimo
secretário-geral da Organização das Nações Unidas, tendo sido laureado com o
Prémio Nobel da Paz em 2001
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