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segunda-feira, 16 de dezembro de 2013

A falácia da globalização!





O Papa emérito Bento XVI considerou no Dia de Reis (6 de Janeiro 2008) que só poderá ser instaurada no mundo uma ordem de desenvolvimento justa e sustentável se os homens adoptarem um estilo de vida sóbrio e um compromisso para a distribuição mais equitativa dos recursos.
Aconteceu isto no decorrer da missa da Epifania, no Vaticano, acrescentando que uma densa névoa envolve as nações e que, verdadeiramente não se pode afirmar, de facto, que a globalização é sinónimo de ordem mundial, apontando que os conflitos pela supremacia económica e acesso aos recursos energéticos, hídricos e matérias-primas tornam difícil o trabalho dos que, a todos os níveis, se esforçam por construir um mundo justo e solidário, terminando com a frase incisiva, dizendo que é precisa uma esperança maior, que permita preferir o bem comum para todos ao luxo de alguns e à miséria de muitos.
Palavras que devem incomodar não só os católicos, mas todos os homens, como já aconteceu em tempos com Kofi Annan (1) quando disse: Só saberemos que a globalização está de facto a promover a inclusão a e permitir que todos partilhem as oportunidades que oferece, quando os homens, mulheres e crianças comuns das cidades e aldeias do mundo inteiro puderem melhorar a sua vida. E é essa a chave para eliminar a pobreza do mundo.
A globalização não é um acontecimento recente, podendo-se localizá-la a partir do século XV com o início do mercantilismo que durou até final do século XVIII, onde a política dos Estados promoveram a sua transição para o capitalismo, o que originou que se tivesse chamado ao mercantilismo um pré-capitalismo ou, de um modo mais radical, capitalismo comercial, enquanto sistema de intervenção ao nível dos Governos com o fim de promoverem a prosperidade e o poder dos Estados.
Aconteceu isto com o fluxo de metais preciosos vindos do Novo Mundo e das especiarias do Oriente, tendentes a impulsionar o crescimento do comércio, gerando nos países de economia mercantil o aparecimento de balanças comerciais favoráveis a partir dos metais preciosos que constituíam o principal meio de pagamento nas relações económicas a nível internacional, procurando esses países exportar o máximo e importar o mínimo, obtendo, assim balanças de comércio favoráveis.
Hoje, a globalização é entendida, comumente, como uma tendência dos mercados e das empresas no seu alargamento, tendo em conta alcançar uma dimensão mundial que ultrapasse as fronteiras nacionais, o que não deixa de ser um perigo, olhando-se este facto social apenas do ponto de vista económico, deixando esquecidos muitos do direitos inalienáveis da pessoa, o que levou, no tempo devido, filósofos como Hobbes a que se associaram, depois, Montesquieu, Voltaire e Rousseau, à cimentação dos direitos naturais do homem, em obediência à liberdade e à posse de bens que deram uma nova concepção da sociedade, até à eclosão dos seus objectivos no articulado da Declaração dos Direitos do Homem e do Cidadão de 1789, a qual, está longe de ser respeitada – ontem como hoje -  onde a globalização actual endeusando os mercados, esquece os direitos naturais do homem.
O sonho de fazer da Europa uma imensa área cosmopolita, de unidade , fazendo dela uma comunidade humana concertada, nunca será exequível, porque a globalização se tornou numa exigência económica para a sobrevivência das grandes potências, onde o crescimento das suas empresas e o aumento abrupto de uma parte significativa dos seus habitantes no que se refere a um consumo exagerado, exigiu a expansão dos seus mercados, com a subsequente depauperação  dos recursos existentes do planeta.
Foi neste pressuposto que se passaram a reclamar  em nome de uma prosperidade falaciosa a abolição dos controlos dos movimentos de capitais, a liberalização dos serviços financeiros transfronteiriços, a eliminação das restrições que limitavam o acesso das empresas estrangeiras aos mercados nacionais e, desse modo, os Países que ambicionavam essa prosperidade fundada numa riqueza de grupos, tem-na tido, enquanto os pobres – a quem foi prometido o paraíso – o que têm tido é o aguçar cada vez mais das desigualdades económicas e sociais, com a agravamento das suas condições de vida.
Eis, porque, fazem todo o sentido tantas as palavras do Papa, como as do antigo secretário-geral da ONU, quando este sentiu que só saberemos que estamos a cumprir a globalização, quando os homens, mulheres e crianças comuns das cidades e aldeias do mundo inteiro puderem melhorar a sua vida, apontando com toda a sua clareza de análise que só assim se conseguirá ter a chave para eliminar a pobreza do mundo, enquanto o Papa veio chamar a atenção dos povos para as desigualdades que se acentuam e a esperança que é preciso pôr a render – não como um ideal, mas como uma certeza  - que, por fim, opere o que falta fazer para que a felicidade humana assente no bem comum para todos ao luxo de alguns e à miséria de muitos.
Palavras prudentes s sábias de quem conhece o mundo e os homens.
Palavras que deviam incomodar os poderosos, os que no dizer do Papa, estribados como estão na sua supremacia económica e acesso aos recursos energéticos, hídricos e matérias-primas tornam difícil o trabalho dos que, a todos os níveis, se esforçam por construir um mundo justo e solidário.



(1) - Kofi Annan  é um diplomata natural de Gana. Foi, entre 1de Janeiro de 1997 e 1 de Janeiro de 2007, o sétimo secretário-geral da Organização das Nações Unidas, tendo sido laureado com o Prémio Nobel da Paz em 2001

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