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sábado, 14 de dezembro de 2013

Varinas da Lisboa antiga


in, Revista Municipal (CML)-Ano II, nº 6 - 1940


Com os seus trajes característicos as varinas da Lisboa encheram de poesia urbana a cidade, especialmente nos dois primeiros quartéis do século XX, ao percorrerem as ruas com a mercadoria que transportavam à cabeça, nas canastras forradas com impermeáveis de cor - os "oleados" -  onde dispunham a preceito os blocos de gelo, assentando-as sobre a rodilha ou "sogra", num equilíbrio donairoso, enquanto apregoavam, cantando, os nomes do peixe variado que traziam desde a compra na lota que se fazia no "recinto do frigorífico" ou na Ribeira Nova, perto do Cais do Sodré.

- Ó vivinha da costa!
- Ó pescada do alto!
- Ó pargo fresco!

Este pitoresco citadino de um tempo que lá vai não passou despercebido a Cesário Verde, o Poeta que em versos magistrais soube emoldurar os tipos de Lisboa, como aconteceu com as varinas, de que ele se não esqueceu no  poema O SENTIMENTO D'UM OCIDENTAL, dedicado a Guerra Junqueiro e que intitulou:

AVE MARIAS
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Vasam-se os arsenais e as oficinas;
Reluz, viscoso, o rio, apressam-se as obreiras;
E n'um cardume negro, hercúleas, galhofeiras,
Correndo com firmeza, assomam as varinas.

Vem sacudindo as ancas opulentas!
Seus troncos varonis recordam-me pilastras;
E algumas, a cabeça, embalam nas canastras
Os filhos que depois naufragam nas tormentas,

Descalças! Nas descargas de carvão,
Desde manha a noite, a bordo das fragatas;
E apinham-se n'um bairro aonde miam gatas,
E o peixe podre gera os focos de infeccão!

in, "O Livro de Cesário Verde
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E, do mesmo modo, como aconteceu com Cesário Verde, no livro "VARIAÇÕES" João de Saldanha Oliveira e Sousa (Marquês de Rio Maior) exaltou, deste modo estas figuras populares que calcorrearam todas as ruas da cidade nos seus giros bem determinados e onde tinham a freguesia certa à sua espera.
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E agora? A varina formosa
que bem que estes ares esposa!
Lá fora mulher tão airosa
                  é que eu não vi.

Varina, varina, que vais de corrida,
miúdo o passinho, tão certo e tão leve,
mulher, que moirejas com tanta coragem,
Lisboa, a rainha, mil graças te deve.

in, Revista Municipal - ano III - nºs 11 e 12 (1942)


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