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quinta-feira, 26 de dezembro de 2013

E Deus criou o homem...






Então Deus disse: "Façamos o homem à nossa imagem e semelhança. Que ele reine sobre os peixes do mar, sobre as aves dos céus, sobre os animais domésticos e sobre toda a terra, e sobre todos os répteis que se arrastem sobre a terra." (Gn 1, 26)
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E formou o Senhor Deus o homem do pó da terra, e soprou-lhe nas narinas o fôlego da vida; e o homem tornou-se alma vivente. (Gn 2, 7)


Reflectindo sobre estes dois versículos do Livro do Genesis, concluímos:

Sobre o primeiro.

Deus ao fazer o homem em último lugar, depois ter criado a luz e o firmamento e tudo o que sob ele está ordenado, imprimiu-lhe a marca de si mesmo, fazendo-o sua imagem e semelhança, dando-lhe, assim, a faculdade do conhecimento (Sl 94,10) e, desse modo, servir como seu administrador e de tal modo tão parecido com Ele que o homem ficou repleto de honra e dignidade (cf Sl 8, 6-9), tendo-lhe o Criador conferindo o exercício da autoridade sobre as todas obras por si criadas.
E tudo aconteceu com uma só palavra: "façamos", o que mostra a vontade de Deus em dar ao sujeito - o cume da sua Obra - o desígnio de ser seu representante e revestido de autoridade, enquanto sua cabeça visível no governo das coisas.
Desse modo - carne e espírito - prefigurando a terra e o céu, passou a ter parte nos desígnios do Eterno sobre a vivência do Mundo.

Sobre o segundo:

Deus ao formar o homem do pó da terra provou que a substância da sua carne e todo seu o admirável suporte material o liga à crosta da Orbe.
Julgado e admitido o princípio da Bíblia não ser um Livro científico, como tal, neste aspecto, a linguagem usada "pó da terra" é uma metáfora que deve ser entendida nos seus aspectos físicos, como a concentraçao harmónica de cálcio, potássio, ferro, etc, ou seja, aquilo que dá consistência ao corpo humano e o mantém erecto.
Situando-nos no passo seguinte, ou seja, no aspecto de Deus ter soprado sobre a criatura o "fôlego da vida" este sopro da divindade acendeu na matéria inerte, a "alma vivente", fazendo assim da dualidade corpo/alma uma unidade em que o lado material - o corpo -  se tornou como havia de dizer S.Paulo, um templo do Espírito Santo ao perguntar, declarando: Não sabeis vós que sois templo de Deus, e que o Espírito de Deus habita em vós? Se alguém destruir o templo de Deus, Deus o destruirá; porque o templo de Deus, que sois vós é santo (1 Co 3,16 -17).
E, que, a alma, por ser uma criatura de Deus, foi dotada de carismas de tal modo especiais que vai guardar até à eternidade uma lembrança do seu Criador, constituindo-se sempre como a primeira manisfestação do Amor de Deus e, logo, atraída para Ele em todo o tempo em que lhe cumpre animar o corpo em todo o seu percurso terreal.


Concluindo, dir-se-á que toda a criatura por ser imagem e semelhança do Criador, é naturalmente impelida a perceber a sua origem através dos seus sentimentos  e virtudes que ao tornar o homem um templo de Deus o obriga que na sua aparência corporal, esta reflicta a saúde da sua alma, o que levou  Voltaire (1694-1778) a declarar o seguinte no seu "Dicionário Filosófico":   
Seria maravilhoso ver a própria alma. 
Mas só a Deus é dado pô-lo em prática. 
Quem mais pode conhecer a própria essência?
Alma chamamos ao que anima. É tudo o que dela sabemos: a inteligência humana tem limites. Três quartos do gênero humano não vão alêm, nem se preocupam com o ser pensante. O outro quarto indaga. Ninguém obteve nem obterá resposta. (...) 

E segue o seu raciocínio com este interessante e esclarecedor diálogo, antecedido de um pequeno intróito:

     Os primeiros filósofos, quer caldeus, quer egípcios, disseram: Forçoso é haver em nós algo que produza o pensamento; esse algo deve ser extremamente subtil: sopro, fogo, éter, substrato, um tênue simulacro, uma enteléquia, um número, uma harmonia. Finalmente, segundo o divino Platão, é um composto do mesmo e do outro. São átomos que pensam em nós, disse Epicuro depois de Demócrito. Mas, meu amigo, como pensa o átomo? Confessa que nem o imaginas.
     Aceita-se seja a alma um ser imaterial. Mas vós não concebeis o que seja esse ente imaterial.
     - Não, - respondem os sábios - porém conhecemos sua natureza: pensar.
     - Como o sabeis?
     - Porque ela pensa. (...)

E a terminar o capítulo dedicado à alma, diz Voltaire:

(...) Parece que só depois da fundação de Alexandria os judeus se cindiriam em três seitas: fariseus, saduceus, essénios. Ensina o historiador fariseu José no livro 13 das Antiguidades que os fariseus acreditavam na metempsicose. Criam os saduceus que a alma se extinguia com o corpo. Para os essénios - é ainda José quem o afiança - a alma era imortal; segundo eles as almas, sob forma aérea, desciam do fastígio do firmamento violentamente atraídas pelos corpos. Após a morte as almas das pessoas boas iam morar além oceano, num país onde não fazia calor nem frio, não ventava nem chovia. Lugar de todo em todo oposto era o desterro das almas ruins. Tal a teologia dos judeus.
 Aquele que devia ensinar todos os homens veio condenar essas três seitas. Sem ele, porém, jamais saberíamos coisa alguma da própria alma. Porque os filósofos nunca souberam nada certo e Moisés, único verdadeiro legislador do mundo antes do nosso, Moisés que falava com Deus face a face e não o via senão pelas costas, deixou os homens em profunda ignorância dessa magna questão. Há apenas mil e setecentos anos que estamos certos da existência e imortalidade da alma.
  Cícero não tinha mais que dúvidas. Seus netos aprenderam a verdade com os primeiros galileus que arribaram a Roma.
   Mas antes disso, e até depois disso em todo o resto da terra onde não penetraram os apóstolos, cada um devia dizer à própria alma: Que és tu? De onde vens? Que fazes? Para onde vais? Tu és não sei que, que pensa e que sente. Mas ainda que pensasses e sentisses cem bilhões de anos, nada saberias por tuas próprias luzes, sem o auxílio de Deus.
Homem! Deus outorgou-te o entendimento para bem procederes e não para penetrares a essência das coisas por ele criadas.


Como nota final apetece dizer:
Se o homem - especialmente aquele que combate a divindade e o Seu poder criador - teima em não entender o que diz a Bíblia e a Igreja que a proclama, que atente nestas palavras cheias de sabedoria de um homem, que todos vêem inimigo da Igreja - e foi-o, efectivamente - mas teve a arte de não negar que na Obra da Criação existe o selo de um Deus que em si mesmo reúne o Mistério insondável das origens que só Ele conhece.

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