O dever de solidariedade é o mesmo,
tanto para as pessoas como para os povos: "é dever muito grave dos povos
desenvolvidos ajudar os que estão em via de desenvolvimento". É necessário pôr em prática este
ensinamento do Concílio. Se é normal
que uma população seja a primeira a beneficiar dos dons que a Providência lhe
concedeu como fruto do seu trabalho, é também certo que nenhum povo tem o
direito de reservar as suas riquezas para seu uso exclusivo. Cada povo deve
produzir mais e melhor, para dar aos seus um nível de vida verdadeiramente
humano e, ao mesmo tempo, contribuir para o desenvolvimento solidário da
humanidade. Perante a indigência crescente dos países subdesenvolvidos, deve
considerar-se normal que um país evoluído dedique uma parte da sua produção a
socorrer as suas necessidades; é também normal que forme educadores,
engenheiros, técnicos e sábios, que ponham a ciência e a competência ao seu
serviço
Repetimos, mais uma vez: o supérfluo dos países ricos deve pôr-se ao
serviço dos países pobres. A regra que existia outrora em favor dos mais
próximos, deve aplicar-se hoje à totalidade dos necessitados do mundo inteiro. Aliás, serão os ricos os primeiros a
beneficiar-se com isto. De outro modo, a sua avareza continuada provocaria os
juízos de Deus e a cólera dos pobres, com consequências imprevisíveis. Concentradas
no seu egoísmo, as civilizações actualmente florescentes lesariam os seus mais
altos valores, sacrificando a vontade de ser mais, ao desejo de ter mais. E
aplicar-se-ia a parábola do homem rico, cujas propriedades tinham produzido
muito e que não sabia onde guardar a colheita: "Deus disse-lhe: néscio, nesta mesma noite virão reclamar a tua
alma". (nºs 48 e 49 da Carta Encíclica “Populorum Progressio” do Papa
Paulo VI - sobre o Desenvolvimento dos Povos) Nota: Os sublinhados são nossos.
Comentário: Antes
de nos determos sobre a consideração de supérfluo, detenhamo-nos sobre a
solidariedade, comummente aceite como uma das leis fundamentais da humanidade,
obrigando todos os homens a serem membros do mesmo corpo social de que cada um
faz parte e, desse modo, embora vivendo cada um para si mesmo, tem o dever de
pensar no bem da colectividade, sendo por aqui que passa o caminho traçado pelo
ensinamento do Concílio, de que nos
fala Paulo VI.
Em traços largos é neste cadinho de
amor humano onde se devem fundir os “metais” que no fim se devem traduzir como um
produto acabado e fundamento moral social, recebendo-se os proveitos da
sociedade, sem contudo, se enjeitar os deveres, que mais não são que os
encargos, algo que se enquadra neste pedaço nobre da prosa do Vaticano II,
quando nos diz que se é normal que uma
população seja a primeira a beneficiar dos dons que a Providência lhe concedeu
como fruto do seu trabalho, é também certo que nenhum povo tem o direito de
reservar as suas riquezas para seu uso exclusivo.
Tudo isto radica nesta asserção:
todo o homem que por si mesmo nada vale, precisando, por isso, da sociedade
para se realizar, mas ao atingir a meta procurada é um devedor líquido da mesma sociedade que o fez engrandecer, seja
porque aspecto for, razão suficiente para que, a partir do indivíduo, tal
facto, tenha a correspondência ao nível das Nações, das mais frágeis às mais
poderosas.
E é, neste ponto, a não ser atendido
- julgando-se quer o indivíduo quer a Nação mais próspera sempre credores e
nunca devedores - que temos de atender ao facto pecaminoso do supérfluo, enquanto riqueza acumulada
sem proveito para ninguém, a começar pelos que a usam avaramente, razão
suficiente e válida sob qualquer aspecto e que levou o Papa Paulo VI a dizer
que o supérfluo dos países ricos deve
pôr-se ao serviço dos países pobres, chegando a declarar solenemente, como
podemos ler, que serão os ricos os
primeiros a beneficiar-se com isto. De outro modo, a sua avareza continuada
provocaria os juízos de Deus e a cólera dos pobres, com consequências
imprevisíveis.
Como todas as palavras têm o seu
peso, esta devia pesar do seguinte modo: supérfluo
é tudo o que é demais, o que é desnecessário, inútil e, sobretudo, de sobejo,
que pode ser um bem para o avaro, mas é
o gerador do mal que corrói o tecido social.
E vem à colação citar Fernando
Namora, in “Sentados na Relva” quando afirma: o homem nasceu para a felicidade
e que todo o mal não provém da privação mas do supérfluo, o que, enfim, não há
grandeza onde não haja verdade e desapego pelo efémero.
Que este tempo de Natal, em que -
graças a Deus - a solidariedade surge como um dos bens preciosos, não deixe instalar
como erva daninha aquilo que é supérfluo
e de que ninguém aproveita.
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